Mercado de trabalho para pessoas 60+

Como empresas podem combater o etarismo na hora da contratação
sexta-feira, 24 de janeiro de 2025
por Jornal A Voz da Serra
(Foto: Freepik)
(Foto: Freepik)
O Censo Demográfico de 2022 do IBGE estimou que o número de habitantes com mais de 60 anos é de 32,1 milhões, representando o percentual de 15,8% da população. Com essa quantidade expressiva de pessoas que fazem parte da chamada Terceira Idade, pensar nas possibilidades de recolocação profissional é fundamental.

O conceito “etarismo” caracteriza a discriminação contra pessoas acima de 60 anos, em razão de uma falsa ideia de que são improdutivas
Uma das principais motivações é a geração de recursos financeiros. “A volta ao mercado de trabalho pode estar atrelada à necessidade de contribuição financeira em casa, mas não só isso. Também está em jogo a realização profissional, a questão da autoestima, de estar ativo, se aperfeiçoando e contribuindo para o ambiente”, destaca Cecília Barçante, head de Pessoas e Cultura da Refuturiza.

A avaliação da profissional corrobora outro dado recente da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios Contínua (Pnad Contínua) de 2023. No quarto trimestre daquele ano havia 24% dessas pessoas trabalhando ou procurando uma oportunidade profissional, denominada taxa de participação.

Recolocação profissional

Uma das principais dúvidas que podem surgir é como as pessoas com mais de 60 anos podem se preparar para voltar ao mercado de trabalho. “O primeiro passo é atualizar as informações do currículo, descrevendo, além das experiências, as suas habilidades. Após isso, é importante buscar as opções no qual os objetivos e condições da vaga possam se encaixar com o candidato”, indica Barçante.

Além disso, a preparação e o desenvolvimento também são pontos importantes, mas engana-se aquele que considera a população sênior no ostracismo. “Hoje em dia, temos muitas pessoas mais velhas que estão antenadas, se atualizando em relação às demandas do mercado de trabalho”, aponta. 

Etarismo nas empresas

Apesar do que consta no artigo 26, contido no capítulo 6, do Estatuto do Idoso, declarando seu “direito ao exercício de atividade profissional, respeitadas suas condições físicas, intelectuais e psíquicas”, um dos maiores desafios quando se trata da contratação desta parcela da população, é o etarismo. O conceito indica a discriminação contra pessoas acima de 60 anos, em razão de uma falsa ideia de que são improdutivas, o que pode impedi-las de participar ativamente da sociedade.

Para combater esse tipo de preconceito, as empresas devem sempre atentar à forma e às exigências na contratação dos candidatos. Mapear se existe um padrão de contratação e promoção que privilegia somente uma determinada faixa etária é um dos primeiros passos para combater a discriminação e promover um ambiente corporativo mais plural e justo em oportunidades. Nesse sentido pode-se fomentar em programas de contratação para a diversidade, que inclua também pessoas do grupo 60+, como ação de combate ao etarismo.

Além disso, a educação é fundamental. “É possível investir em iniciativas internas de capacitação para a diversidade das equipes e gestores. A empresa pode trazer exemplos de outros lugares, promovendo um ambiente de reflexão, mas também de ação contra a discriminação naquela organização”, sugere a head. 

Benefícios

De acordo com Barçante, colaboradores mais velhos representam um ganho para a empresa, especialmente por conta de sua experiência prévia. “Existe nesse funcionário um amadurecimento profissional para lidar com vários tipos de problemas, ponderação nas decisões, comprometimento e responsabilidade com a rotina de afazeres, fatores benéficos para o ambiente”, destaca. 

Outro benefício está relacionado às habilidades socioemocionais. Especialmente em decorrência da bagagem de vida já adquirida, a inteligência emocional para lidar com determinadas situações do dia a dia é algo positivo para todos, pois pode ser compartilhada e ensinada aos demais colaboradores.

A especialista reitera a necessidade de ambientes mais plurais e inclusivos em relação a essa faixa etária. “Precisamos observar a dificuldade que esses profissionais têm de conquistar novas oportunidades. Além de serem muito importantes para o crescimento da equipe, pois é no encontro das gerações e na troca de experiências que crescemos e aprendemos. A presença desse segmento no quadro de uma organização também é fundamental para garantir a diversidade. A gente esquece, mas o grupo sênior também é uma minoria social e precisa ser assistido como tal”, explica e acrescenta: “todas as pessoas devem ser bem-vindas na empresa, independentemente de sua idade”.

 

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