Janeiro roxo: um mês de alerta e combate à hanseníase

Lei garante sigilo profissional sobre a condição para pessoas acometidas pela doença, que ainda assusta brasileiros
sexta-feira, 28 de janeiro de 2022
por Ana Borges (ana.borges@avozdaserra.com.br)
Janeiro roxo: um mês de alerta e combate à hanseníase

O bacilo Mycobacterium leprae tem andado pelo mundo há muito tempo. Já no século VI a.C., havia referências à temida doença por ele causada: a hanseníase. Acredita-se que tenha surgido no Oriente e se espalhado pelo mundo por tribos nômades ou por navegadores, como os fenícios.

Também conhecida como lepra ou mal de Lázaro, antigamente a enfermidade era associada ao pecado, à impureza, à desonra. Por falta de conhecimento específico, a hanseníase era muitas vezes confundida com outras doenças, principalmente as de pele e venéreas. Daí o preconceito em relação ao seu portador: a transmissão da doença pressupunha um contato corporal, muitas vezes de natureza sexual e, portanto, pecaminoso.

Somente em 1873, a bactéria causadora da moléstia foi identificada pelo norueguês Armauer Hansen, e as crenças de que a doença era hereditária, fruto do pecado ou castigo divino, foram afastadas. Porém, o preconceito persistiu, e a exclusão social dos acometidos foi até mesmo reforçada pela teoria de que o confinamento dos doentes era o caminho para a extinção do mal.

No Brasil, até meados do século XX, os doentes eram obrigados a se isolar em leprosários e tinham seus pertences queimados, uma política que visava muito mais ao afastamento dos portadores do que a um tratamento efetivo. Apenas em 1962 a internação compulsória dos doentes deixou de ser regra.

O avanço das pesquisas comprovou que a hanseníase nem é uma doença tão contagiosa. Terapias foram desenvolvidas e, em 1981, a Organização Mundial da Saúde (OMS) passou a recomendar a poliquimioterapia. Em muitos paises desenvolvidos, a hanseníase já foi erradicada.

Desde 1995, o tratamento é oferecido gratuitamente para os pacientes do mundo todo, e, nesse mesmo ano, o termo lepra e seus derivados foram proibidos de serem empregados nos documentos oficiais do Brasil, em uma tentativa de reduzir o estigma da doença no país. 

Esse estigma, porém, vai muito além da denominação. Associada ao pecado na Antiguidade, a hanseníase hoje evidencia desigualdades sociais, afetando sobretudo as regiões mais carentes do mundo. Por isso, o preconceito persiste e muitas pessoas ainda acreditam que apenas os pobres adquirem a doença. No entanto, apesar de ser trasmitida mais facilmente quando as condições sanitárias e de habitação não são adequadas, a Hanseníase não escolhe, nem nunca escolheu, classe social.

(Fonte: Fiocruz)

No Brasil de hoje

Em fevereiro de 2021, o Ministério da Saúde (MS) informou que 93% dos novos casos de Hanseníase diagnosticados nas Américas, são do Brasil. Entre 2010 e 2019, o país registrou mais 301 mil novos casos, sendo que 20.700 brasileiros tiveram sequelas físicas incapacitantes, como perda dos dedos, ponta do nariz e demais extremidades do corpo, assim como deformidade nos pés e mãos causadas pela falta de tratamento ou diagnóstico tardio naquele período.

Os dados são do Boletim Epidemiológico sobre a Hanseníase divulgado pelo MS ano passado, que informou também que o Brasil teve 27.864 novos casos da doença apenas em 2019, equivalente a 93% de todos os casos da região das Américas, e 13,7% dos casos globais registrados no ano.

Segundo o presidente da Sociedade Brasileira de Hansenologia, o dermatologista Claudio Salgado, além dos altos números de novos casos, chama atenção a quantidade dos casos que são detectados já na fase mais incapacitante da doença.

"A hanseníase é classificada em quatro graus: zero, quando não há nenhuma sequela; 1, quando o paciente já perdeu sensibilidade nas palmas das mãos e solas dos pés; e grau 2, quando há sequelas físicas graves e visíveis", explicou Salgado. (Fonte: https://g1.globo.com/ciencia-e-saude/)

O preconceito contra ela deve ficar no tempo dos apóstolos, porque a ciência já descobriu a cura para essa doença infectocontagiosa causada por uma bactéria, o bacilo de Hansen. E mais, o tratamento da hanseníase é realizado nos serviços de saúde das redes municipais, gratuitamente, de forma simples e eficaz, sem necessidade de internação. Mas o diagnóstico precisa ser precoce para minimizar os riscos de sequelas.

 

 

LEIA MAIS

Confira a origem da data e a importância do profissional na sociedade

Instituição recebeu medicamentos que deveriam ter sido descartados há dois anos

Ao todo, cerca de 18 imunizantes estarão disponíveis para todas as idades, mas especialmente para as crianças e adolescentes

Publicidade
CONTINUA DEPOIS DA PUBLICIDADE
Publicidade
Publicidade
Publicidade

Apoie o jornalismo de qualidade

Há 79 anos A VOZ DA SERRA se dedica a buscar e entregar a seus leitores informações atualizadas e confiáveis, ajudando a escrever, dia após dia, a história de Nova Friburgo e região. Por sua alta credibilidade, incansável modernização e independência editorial, A VOZ DA SERRA consagrou-se como incontestável fonte de consulta para historiadores e pesquisadores do cotidiano de nossa cidade, tornando-se referência de jornalismo no interior fluminense, um dos veículos mais respeitados da Região Serrana e líder de mercado.

Assinando A VOZ DA SERRA, você não apenas tem acesso a conteúdo de qualidade, mantendo-se bem informado através de nossas páginas, site e mídias sociais, como ajuda a construir e dar continuidade a essa história.

Assine A Voz da Serra

TAGS: saúde