Neste sábado, 25, é comemorado o Dia do Imigrante, data criada para homenagear as milhares de famílias e pessoas que deixam para trás não só seu país de origem como também seus familiares, amigos e tradições, na esperança de encontrar oportunidades e melhores condições de vida. E a imigração não só faz parte da história de Nova Friburgo, como foi criada especialmente para ter como seus primeiros moradores os imigrantes vindos da Suíça.
O município, além de ser o único fundado a partir de um decreto real de D. João VI, em 16 de maio de 1818, também foi o único criado e planejado para depois receber os seus primeiros habitantes, os colonos suíços, vindos em sua maioria do Cantão de Fribourg. Em seguida, vieram os alemães a partir de 1824, consolidando definitivamente a nova vila.
Depois dos suíços e dos alemães, chegaram a Nova Friburgo imigrantes de Portugal, África, Itália, Líbano, Japão, Espanha, Áustria e Hungria. Com dez povos formadores, a cidade é a única do país com tamanho “intercâmbio” cultural e histórico.
Uma cidade, vários povos
Todos os povos colonizadores têm seus trabalhos para a preservação e a disseminação das culturas, línguas, esportes, histórias de suas origens, como Instituto Fribourg-Nova Friburgo, a Associação Nova Friburgo-Fribourg, Centro Cultural Teuto Friburguense, Associação Cultural Líbano - Friburguense, Grêmio Português, Casa d’Italia de Nova Friburgo, entre outras além das colônias de cada país e a Associação das Colonias de Nova Friburgo (Ascofri), que deveriam estar nas suas sedes na Praça das Colônias, no Suspiro.
Fortemente impactada pela tragédia de 2011, a Praça das Colônias passou por reformas, mas até hoje não foi inaugurada. De acordo com a prefeitura, há uma pendência na cozinha para poder ser liberada pelo Corpo de Bombeiros. “O serviço não é muito complexo e o processo já foi inclusive licitado. Contudo, a licitação resultou deserta, o que significa que nenhuma empresa se candidatou ao serviço. A equipe está realizando alguns ajustes no processo para obtermos sucesso em novo certame. Caso novamente o resultado seja deserto, a Secretaria tem mecanismos legais para negociar diretamente com algumas empresas e fazer a contratação sem nova licitação, por isso não há prazo estipulado, mas a equipe está muito confiante que teremos muito em breve este equipamento entregue a população friburguense novamente”, explicou Daniel Filgueira, secretário de Cultura de Nova Friburgo.
Mas, esse aspecto tão marcante de Nova Friburgo, poderia ser explorado de outra forma. Com uma cultura tão diversificada, frutos de tantos povos, o município poderia ser um polo turístico representando todos os colonizadores, com festas, culinária, cultura. “Se todos percebessem a verdadeira importância cultural e turística dos países formadores da cidade , poderíamos transformar e desenvolver o turismo local como fonte de renda e qualidade de vida para os friburguenses, gerando emprego e renda com uma indústria limpa que é o turismo. Enquanto continuarmos perdendo nossa identidade, nos assemelharmos a uma região suburbana da capital e nos afastamos de uma cidade com traços europeus e coloniais que poderíamos vislumbrar”, observa Alex Blanco Alfaya, presidente da Casa de España de Nova Friburgo (colônia espanhola) e vice-presidente da Ascofri.
Para o secretário da Colônia Japonesa, Peter Nagatsuka, embora seja de interesse público, as colônias estão sempre à mercê da alternância de governos. “Hoje podemos dizer que há uma visão diferenciada de apoio que nos auxilia na realização dos eventos, mas falta uma legislação específica de apoio. Não há estabilidade quanto à continuação da realização de todos. Pelo retorno que poderíamos dar ao município, acreditamos também que falta empenho da iniciativa privada também neste apoio, principalmente da rede hoteleira e dos restaurantes que se beneficiam diretamente”, disse ele.
Em nota, a Secretaria Municipal de Cultura informou ainda que “reafirma o compromisso com todos aqueles que valorizam e celebram suas origens, seus ancestrais e a cultura que carregam. Reforçamos também que a Secretaria tem interesse em todos os projetos que bem contém a história da cidade. Falando especificamente de turismo, a Secretaria de Turismo estará também se aproximando dos povos e usando parte do espaço da Praça das Colônias para divulgação dos muitos atrativos de Nova Friburgo”, diz a nota.
Os povos colonizadores de Nova Friburgo
Os suíços trouxeram mais tecnologia para a agricultura, diversificando as atividades para além da agricultura de subsistência e a produção do café. Inovaram importando matizes do gado zebuíno, se tornando uma referência até hoje. Também com espírito empreendedor começaram a assumir algumas fazendas e partiram para indústria de construção civil e fábricas, a exemplo da Pedrinco, Wemar, Silthur, Thurlerflex, entre outras.
Suíça
O primeiro grupo de famílias suíças chegou no dia 16 de novembro de 1819. Partiram do Cantão de Fribourg 2.016 suíços, mas só chegaram 1.600. Houve muita enfermidade e óbitos no mar e no trajeto do Rio de Janeiro até a Colônia Suíça. Boa parte do contingente ficava em recuperação para depois seguir viagem. Foram sete navios, com partidas e durações de viagem diferentes. Em 1820, só 600 ficaram em Nova Friburgo. Os demais ocuparam as cidades vizinhas de Bom Jardim, Duas Barras, Cordeiro, Cantagalo, entre outras e o sul de Minas Gerais e do Espírito Santo. Tinham como missão ocupar a região e formar uma cidade, então, eram de diversas profissões, como lavradores, ferreiros, construtores, marceneiros, queijeiros.
Alemanha
Em maio de 1823, foi assinado um contrato em Frankfurt, para a vinda ao Brasil de 700 soldados e 326 colonos alemães. Os soldados foram para o Exército Brasileiro reforçar as fronteiras. Os outros vieram para trabalhar na lavoura, como ourives e em diversas outras atividades. As famílias alemãs seriam instaladas em Viçosa, no Sul do Estado da Bahia. Foram direcionados para a serra fluminense por conta da desistência dos suíços. Eram muitas casas e lotes abandonados. Chegaram no Rio de Janeiro e na Vila de Nova Friburgo em 1824. Foi a primeira colônia alemã no Brasil e também a primeira comunidade luterana da América Latina.
Mas, houve uma melhor adaptação e no início do século 20, quando empresários alemães, que queriam investir no Brasil, ao tomarem conhecimento dessa imigração para Nova Friburgo, decidiram se estabelecer na cidade. O grande articulador de todo o potencial econômico atual, foi Peter Julius Ferdinand Arp, que conseguiu a concessão da energia elétrica, e como importante legado, a cidade é uma das únicas do Brasil, com voltagem 220 volts. Ele também fundou a Fábrica de Rendas Arp, vindo em seguida, outros empresários, que abriram a Filó, Ypu e mais tarde, a Ferragens Haga. Os alemães são pioneiros em Nova Friburgo nos setores de moda, metal mecânico, produção de morangos e polo cervejeiro.
Pan Africana
A vinda dos africanos, não só para Nova Friburgo, mas para o Brasil, não foi da mesma forma da chegada dos demais povos. Eles foram trazidos na situação de povos escravizados e não vieram por vontade própria ou para fugir de guerras ou fome. Não há números exatos dos africanos trazidos para Nova Friburgo, muitos morriam nas viagens de navio pelas péssimas condições e outros se jogavam ao mar preferindo a morte à vida que já levavam na viagem. Estima-se que o número de negros era muito maior que o de não negros. Eles trabalhavam na condição de escravos em todas as áreas, que havia na época.
Espanha
Os primeiros espanhóis vieram para Nova Friburgo por volta de 1880. Não se pode precisar a quantidade, pois eles vieram durante décadas seguidas e fundaram as olarias, que garantiram a fabricação da matéria prima básica para o desenvolvimento da construção civil na cidade. Um dos bairros mais populosos de Nova Friburgo recebeu esse nome, pois muitas olarias se concentravam naquela área. A construção do Colégio Anchieta foi feita pelo espanhol Francisco Vidal, que também participou da construção da ferrovia e outras na cidade. Também participaram no início do comércio da cidade, com a Casa Madrid, localizada próximo à prefeitura.
Líbano
A primeira vinda dos imigrantes libaneses a Nova Friburgo aconteceu por volta de 1890. Não há números dos primeiros imigrantes. Eles iniciaram suas atividades comerciais como mascates (vendedores de porta em porta). Os libaneses se organizaram, tornaram-se comerciantes e foram responsáveis pela grande maioria dos empresários da Avenida Alberto Braune por décadas. Partiu de um deles a construção e organização do time do Friburguense, assim como também a construção do Hospital São Lucas, que teve importantes mãos libanesas.
Portugal
A criação de Nova Friburgo está intimamente ligada a Portugal, já que a partir do decreto de Dom João VI que a cidade nasceu e foi colonizada. D. João VI tinha o objetivo de desenvolver a agricultura e intensificar a colonização no interior do Brasil. Além disso, o cultivo do café foi a primeira atividade econômica de Nova Friburgo que se desenvolveu a partir de Cantagalo. Inicialmente, foi praticada pelos imigrantes portugueses, organizando as primeiras atividades econômicas da região. A produção de inúmeras variedades de frutas, legumes, verduras e até flores foi que transformou a cidade em referência estadual da agroindústria.
Itália
A grande imigração de italianos para o Brasil iniciou ainda no século 19, em uma estratégia de substituição da mão de obra escrava nas fazendas de café com a mão de obra de italianos. Além disso, havia muitas regiões empobrecidas e com excesso de mão de obra. Em nossa região, os italianos se distribuíram pelas fazendas de café do interior chegando aos municípios dos estados de Minas Gerais e Espírito Santo. Foram milhares de pessoas, adultos e crianças, inteiras famílias que enfrentavam semanas de navegação para aproar em terras brasileiras, dispostas a enfrentar condições de trabalho precárias em fazendas ainda acostumadas ao sistema do trabalho escravo, tudo para conquistar um futuro melhor para si e para seus filhos.
O fluxo de imigrantes italianos continuou ao longo das décadas. Em Nova Friburgo é possível verificar a presença italiana em vários nomes de ruas e bairros e em alguns marcos inseridos no tecido urbano. São exemplos desse legado italiano o Edifício Spinelli, símbolo de uma geração de italianos extremamente empreendedores e percurssores, as bancas de jornal das famílias calabresas, em especial Amêndola e De Paula, as lojas de sapato e os comércios dos Mastrângelo, Mieli, Merecci, Lo Bianco, Bottini entre tantas outras famílias. Isso sem falar da contribuição para trazer os colégios Anchieta e Nossa Senhora das Dores.
O Edifício Itália, por exemplo, foi construído no terreno onde existia uma escola italiana, que ao longo de quase uma década manteve e alimentou os laços culturais das crianças italianas e dos filhos nascidos no Brasil com a Itália. Outro marco é representado pelas obras de arte deixadas pelo italiano Elviro Martignoni responsável, entre outros, pelas pinturas do teatro do Colégio Anchieta, pelos adornos nas paredes do altar principal da Catedral de nossa cidade e recém trazidas à luz.
Japão
Os primeiros imigrantes japoneses chegaram a Nova Friburgo na década de 1920. Vieram basicamente para trabalhar na agricultura. A cultura do caqui foi o primeiro legado, na linha do agronegócio. Os japoneses vieram primeiramente para o setor agrícola e aos poucos foram migrando para diversas atividades econômicas. As técnicas de plantio agrícola implementadas pelos japoneses revolucionaram o setor, diversificando e aumentando a produtividade. Especificamente, na floricultura, a revolução foi notadamente um marco no desenvolvimento de culturas como a rosa, cravo e com a introdução de outras espécies, iniciando-se pelo gladíolo (palma), introduzido por Yoshiyuki Ban.
Áustria e Hungria
Toda esta imigração de europeus e asiáticos acabou atraindo um pequeno grupo de húngaros e austríacos para Nova Friburgo que se dedicaram a hotelaria e fazem questão de trazer sempre a memória de seus antepassados.
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