Entidades questionam critérios e defendem aferição mais ampla para bandeiras

CDL, Sincomércio e Acianf observam que média de ocupação de leitos cresceu devido a redução de oferta na rede particular de saúde
quarta-feira, 22 de julho de 2020
por Fernando Moreira (fernando@avozdaserra.com.br)
Movimento nas ruas de Friburgo na última segunda-feira (Foto: Henrique Pinheiro)
Movimento nas ruas de Friburgo na última segunda-feira (Foto: Henrique Pinheiro)

O presidente da Câmara de Dirigentes Lojistas (CDL) e do Sindicato do Comércio Varejista (Sincomércio) de Nova Friburgo, Braulio Rezende, defende que a cor da bandeira que regula a retomada das atividades econômicas no município seja estabelecida a partir de mais de um critério, e não apenas a taxa de ocupação dos leitos de UTI, para não prejudicar os setores produtivos nem criar pânico injustificável na população. Segundo ele, caso não tivesse havido significativa redução no número de vagas nos hospitais particulares, a bandeira atingiria, no máximo, a cor laranja.

“Do dia 10 ao último dia 17, intervalo das análises, verificou-se um corte de 15 leitos para pacientes com a doença, sendo 12 nas enfermarias (de 75 para 63) e três nas UTIs (de 31 para 28). A média de internação, logicamente, subiu. Todavia, se somarmos o número de pacientes, mantivemos 21 nas UTIs e registramos mais quatro nas enfermarias - de 27 para 31 -, o que comprova que não aconteceu uma explosão de Covid na cidade. Consideramos inadequada a bandeira vermelha, que implicou novamente no fechamento do comércio e assustou os friburguenses”, pondera Rezende (foto).

Ele observa ainda que a oferta de leitos pode constituir a referência central, mas não exclusiva no regime de bandeiras. Para ele, se faz necessário operar com outros indicadores, como a taxa de transmissão do coronavírus. No último dia 10, a média móvel de novos casos no período de sete dias estava em 21,29, enquanto no dia 17, com a bandeira amarela e o comércio aberto, se encontrava em 14,29, apontando queda nos riscos de propagação.

“Não devemos nos esquecer de que o índice caiu a despeito da expansão da testagem, promovida por campanhas da iniciativa privada. Em julho, somente até o dia 17, a quantidade de testes para Covid-19 teve elevação de 81%, de 1.377 realizados no mês anterior para 2.499”, relata Braulio. Para ele, o controle da pandemia depende de decisão da prefeitura que tem se mostrado lenta em ações como melhorias gerais no sistema público de saúde, fiscalização contra aglomerações e exigência do uso de máscaras pela população. 

O presidente da CDL e do Sincomércio não entende que não tenha sido providenciado aumento de leitos de UTI para doentes com coronavírus no Hospital Raul Sertã, depois de a unidade receber 39 respiradores, 29 adquiridos pelo município e dez vindos do Ministério da Saúde. “A prefeitura brigou na Justiça pelos respiradores, que chegaram há mais de um mês. O Raul Sertã continua com os mesmos dez leitos de UTI que tinha no início da pandemia. Se existe algum tipo de impedimento para mexer no hospital público, o governo tem condições de contratar vagas na rede particular. Já foi, inclusive, publicado decreto neste sentido”, pontua Braulio. Também se torna urgente, para a CDL, que a prefeitura cobre da empresa de ônibus Faol a circulação de mais ônibus para evitar aglomeração e mais facilidade de contágio de passageiros no transporte público: “Há como abrandar os efeitos da pandemia e o município dispôs de tempo para se preparar. Vimos tantas medidas relevantes em tantas cidades. Aqui sentimos um vazio, um desânimo, que termina por desmotivar a população”, observa a entidade que lamenta que o comércio seja o alvo principal das resoluções oficiais em Nova Friburgo. 

O comércio friburguense ficou sem funcionar por mais de três meses, os empresários enfrentaram sérios problemas para sobreviver e muitas empresas não conseguirão reabrir. A maioria dos empresários cita ainda a burocracia imposta pelos bancos como o grande obstáculo à linha de crédito emergencial, que não ajudou efetivamente os negócios. Desde a volta parcial às atividades, no último dia 3, as lojas da cidade vinham adotando rigorosos cuidados no atendimento aos clientes. “O comércio não pode pagar sozinho a conta da pandemia. Assistimos diariamente a aglomerações em vários locais, e apenas o comércio é proibido de trabalhar. Imaginamos um retorno gradual e seguro da economia, sem esse retrocesso que pode acabar em definitivo com empresas e empregos em nossa cidade”, salienta Braulio Rezende.

Questionamento à prefeitura

Conforme divulgado em primeira mão por A VOZ DA SERRA nesta terça-feira, 21, a Frente Empresarial e de Classe de Nova Friburgo (FEC) encaminhou um ofício ao prefeito Renato Bravo na noite de segunda-feira, 20, manifestando discordância quanto aos critérios utilizados para a implantação do sistema de bandeiras no município, especialmente quanto a última fixação em bandeira vermelha. Para a entidade, “a inércia do Executivo Municipal na disponibilização dos leitos de UTI causou a paralisação das atividades comerciais e prestação de serviços e limitação das atividades da indústria do vestuário”.

A Associação Comercial Industrial e Agrícola de Nova Friburgo (Acianf), que também integra a FEC também se manifestou sobre o assunto através de seu presidente, Julio Cordeiro (foto): “Nossa economia já está sofrendo muito nesses cerca de 120 dias em que parte dela está parada. Não podemos suportar mais esse vaivém da reabertura. Até porque temos notado no Estado do Rio de Janeiro uma diminuição sensível do alastramento da doença e da internação de infectados, haja vista que alguns hospitais de campanha estão sendo desativados. Pedimos às autoridades que revejam essas considerações e que, de imediato, faça um decreto para reabrir a economia dentro de parâmetros que consideramos mais justos e corretos”, declarou Julio, que completou: “O cenário epidemiológico da cidade não reflete um cenário de bandeira vermelha. Estamos com o mesmo número de internações de sexta-feira, 10, em relação ao dia 17. A diferença é que foram retirados três leitos de CTI por um hospital particular, o que fez a taxa média de ocupação subir”.

A polêmica redução de leitos

A recente diminuição na oferta de leitos destinados exclusivamente ao tratamento de pacientes com Covid-19 é uma das principais queixas da FEC. Só a título de comparação, no boletim divulgado no dia 10 contendo a taxa de ocupação dos leitos, a cidade contava, ao todo, com 31 leitos de UTI. Eram dez no Raul Sertã, dez na Unimed, seis no São Lucas e cinco no Serrano – com 21 pacientes internados e 67,7% de ocupação.

Uma semana depois, no dia 17, o município já contava com três leitos de UTI a menos, todos do Hospital Serrano, que diminuiu a oferta de cinco para apenas dois leitos. Como o número de pacientes internados se manteve o mesmo – 21 -, a taxa de ocupação subiu para 75% e, somada à média semanal, colocou a cidade em bandeira vermelha nesta semana. Questionada por A VOZ DA SERRA na última quinta-feira, 16, se havia sido comunicada pelo Hospital Serrano sobre a diminuição na oferta de leitos; e se concordava com a medida; a prefeitura informou, em nota, que “os hospitais estão se adequando para oferecer leitos exclusivamente infantis. Em breve, essas alterações constarão em nosso boletim. Porém, no momento, ainda não há prazo”.

Também tentamos contato por telefone com o Hospital Serrano para apurar os motivos que levaram a unidade a diminuir a oferta de leitos de UTI Covid, no entanto, não encontramos ninguém para falar sobre o assunto. Sempre que ligamos, somos informados que não há no hospital ninguém da direção. Deixamos nossos contatos, mas não tivemos retorno.

 

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