Na última década, o encerramento de versões impressas, no Brasil, e particularmente, no estado do Rio de Janeiro, tem sido notícia recorrente. É tema do noticiário especializado e alvo de discussões em cursos de comunicação. Porém, quando se lê a notícia do fechamento de um título, mesmo quando previsível, causa surpresa, seguida de sentimentos de tristeza e até de certa indignação. Seja pelos empregos perdidos ou mesmo pelo apego sentimental a um determinado título.
No Rio de Janeiro, resistem O Globo, O Dia, Extra, Meia Hora. No interior do estado, Nova Friburgo, que já contou com seis jornais, permanece apenas o diário A VOZ DA SERRA, que completoua neste 7 de abril, 80 anos de fundação. Na região, apenas o município de Cantagalo mantém o semanário Jornal da Região.
Sucumbiram aos novos tempos, com o advento da internet e sites de notícias, os seguintes impressos: O Fluminense (Niterói); O Debate (Macaé); Jornal do Brasil, Jornal do Commercio, Tribuna da Imprensa e Jornal dos Sports (Rio); além Tribuna de Petrópolis, entre outros.
Novos tempos
Nos últimos 10 anos, a circulação de jornais impressos no Brasil caiu cerca de 50%, de acordo com o Instituto Verificador de Comunicação (IVC). Globalmente, a projeção é ainda mais severa. Um relatório da PwC estima que, até 2025, a receita global de publicações impressas cairá 3% ao ano, enquanto a publicidade digital crescerá 9%.
A transição de veículos de comunicação impressos para plataformas exclusivamente digitais é uma tendência crescente no Brasil, impulsionada por mudanças nos hábitos de consumo de informação e desafios econômicos enfrentados pelas empresas de mídia. Embora não haja um número exato de grandes veículos que realizaram essa migração, observa-se um movimento significativo nesse sentido.
O fortalecimento dessa tendência
1️) Mudança no comportamento do consumidor: A busca por notícias em tempo real e o acesso fácil por smartphones e plataformas digitais tornaram os modelos tradicionais menos atraentes. Hoje, 75% dos brasileiros consomem notícias por meio de dispositivos móveis, segundo o Reuters Institute.
2️) Custos de produção: Manter gráficas, papel e logística de distribuição é financeiramente inviável em comparação com a operação digital, especialmente em um cenário de crise econômica e aumento dos custos de insumos.
3) Publicidade migra para o digital: Plataformas como Google e Meta absorvem a maior fatia do mercado publicitário, deixando os veículos tradicionais com recursos limitados para inovar ou se sustentar.
4) Demanda por personalização e interatividade: O leitor moderno não quer apenas receber informações, mas interagir com elas, algo que o digital oferece com maestria.
Entretanto, o fim do impresso não significa o fim do jornalismo de qualidade. Ao contrário, o digital abre portas para inovações, como o uso de inteligência artificial para apuração, novas formas de narrativa (vídeos imersivos, podcasts, storytelling interativo) e maior alcance global.
O desafio
Diante desse cenário, “como tornar o jornalismo sustentável em meio a tanta transformação? A cada novo anúncio de veículos tradicionais migrando para o ambiente digital, a pergunta ressurge: o que será da mídia impressa? Embora o cenário mostre um declínio acelerado no número de publicações físicas, a mídia impressa pode não estar com os dias contados — mas com certeza precisa se reinventar”, ressalta a jornalista e escritora Catarina Pierangeli, apontando os seguintes cenários possíveis para a mídia impressa:
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Complementaridade: Impressos que coexistem com plataformas digitais, focando em edições especiais, experiências sensoriais e curadoria de conteúdo aprofundado;
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Reconfiguração de papel: A impressão pode migrar para nichos, com menor frequência e foco em públicos específicos que valorizam tangibilidade e exclusividade;
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Substituição completa: A digitalização avança e absorve as funções do impresso, oferecendo rapidez, interatividade e sustentabilidade.
Sobre o que pode ser feito para preservar a mídia impressa, Pierangeli sugere:
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Repensar o papel do impresso no mundo digital: Não se trata de competir com a internet, mas de oferecer um diferencial que só o físico pode proporcionar.
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Entender as expectativas do leitor: O público atual busca algo além de notícias já acessíveis online. Edições impressas podem trazer análises profundas, arte, design inovador e experiências únicas;
Autora de três livros publicados, Pierangeli destaca que o desafio está lançado. “A mídia impressa e digital podem se complementar, desde que o setor entenda que o consumidor é quem define os rumos dessa história. Afinal, para um público que consome informação de forma tão ágil, talvez a grande missão do impresso seja desacelerar. Penso que a resposta está em entender o que o público valoriza — precisão, relevância e ética — e traduzir isso para formatos que dialoguem com a nova era digital”.
E declara: “Como jornalista, vejo com tristeza o fim de veículos impressos, mas também com esperança as oportunidades que surgem com a digitalização. O jornalismo nunca foi tão necessário, e cabe a nós, comunicadores, garantir que ele siga relevante, independente e comprometido com a verdade”, destaca Catarina Pierangeli.
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