O diabetes é uma doença silenciosa e, quando não diagnosticada e tratada corretamente, pode provocar uma série de consequências e até levar à morte. Estima-se que, no Brasil existam oito milhões de pessoas com diabetes e que não sabem que têm a condição. Por isso, a Coalizão Vozes do Advocacy em Diabetes e Obesidade, que reúne 24 organizações em prol da prevenção e tratamento do diabetes e da obesidade, lançou a campanha “A prevenção salva vidas”. O intuito é de que se adote como protocolo de atendimento na porta de entrada das urgências e emergências o teste de glicemia capilar, que mede a taxa de açúcar no sangue a partir de uma pequenamostra colhida com uma picada na ponta de um dos dedos das mãos. O teste é um pré diagnóstico da doença.
Uma das entidades participantes é a Associação dos Doentes Crônicos do Brasil (ADCBra), com sede em Nova Friburgo, que surgiu através da experiência vivida por sua presidente, Márcia de Jesus. “Levei meu filho, que estava passando mal à emergência e, ao fazerem o teste de ponta de dedo, a glicose dele estava em 455 mg/l (o ideal é até 99 mg/l, em jejum). Isso fez toda a diferença no atendimento e meu filho foi logo encaminhado para tratamento. Agora, imagine uma pessoa passar mal sozinha, e ser levada para a emergência desmaiada. Se não fizerem o teste, pode ser aplicado um soro glicosado, que é um procedimento padrão, e levá-la ao coma ou até a morte”, explica ela.
O teste de ponta de dedo na entrada da emergência pode, não só salvar vidas, como também fazer um pré diagnóstico da doença. De acordo com Márcia, Nova Friburgo não tem dados estatísticos oficiais da doença. “O número que a cidade têm é somente do diabetes tipo 1 (que precisa ser tratado com aplicações de insulina), pois as pessoas se cadastram para receber a fitinha para fazer a medição da glicose pelo Sistema Único de Saúde (SUS). São 1.400 diabéticos tipo 1. Mas não há o registro do número de pessoas com diabetes tipo 2 (tratado com medicamentos e dieta), que não têm direito a esse serviço. Estatísticamente, sabemos que 8% da população tem diabetes e que desses, 90% são diagnosticados com o tipo 2 e 10% com o tipo 1”, esclarece Márcia.
Segundo projeções do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), Nova Friburgo tem hoje, 191.158 moradores. De acordo com as estatísticas mundiais sobre o diabetes, a cidade teria em torno de 15 mil diabéticos. A Associação dos Diabéticos de Nova Friburgo (Adinf) têm hoje mais de quatro mil associados. De acordo com Flávia Lopes, secretária e técnica de enfermagem da Adinf, o número de diagnósticos de diabetes Tipo 1, na pandemia aumentou assustadoramente.
“Recebemos 26 novos pacientes e muitos de crianças de até 10 anos. Estou na associação há 16 anos e nunca vi tantos novos casos juntos. Somente em março de 2021 foram dez diagnósticos. A pandemia acelerou o processo de abertura de quadros de diabetes”, disse ela observando que o exame de glicemia capilar é muito importante, pois muitos que não sabiam ter diabetes, descobrem exatamente com esse simples exame.
Junto com a campanha “A prevenção salva vidas”, foi lançado o site institucional da Coalizão (vozesdoadvocacy.com.br), com conteúdos sobre diabetes e obesidade e o contato das organizações de todo o país, que fazem parte dessa iniciativa. Para ajudar a ampliar os diagnósticos de diabetes no país, a campanha também lançou uma petição pública, buscando o apoio popular a partir de assinaturas para sugerir ao Ministério da Saúde a inclusão do procedimento de medição de glicose na porta de entrada do protocolo de atendimento de urgências e emergências do Sistema Único de Saúde.
Diagnóstico precoce previne complicações
De acordo com a Federação Internacional de Diabetes, atualmente, cerca de US$ 42,9 bilhões são gastos com o tratamento do diabetes e suas complicações no país. “Estamos certos de que boa parte deste valor poderia ser economizado com o diagnóstico precoce. Nossa expectativa é ampliar os diagnósticos precoces, reduzindo os riscos de complicações destes pacientes e, por consequência, reduzindo o impacto do SUS por internações e hospitalizações, desonerando seus custos”, disse Vanessa Pirolo, coordenadora da Coalizão Vozes do Advocacy em Diabetes e Obesidade.
E as complicações causadas pelo diabetes não tratado podem atingir diversos órgãos. “Pessoas com diabetes têm chances três vezes maior do que uma pessoa sem a doença de ter um evento cardiovascular e insuficiência cardíaca. Também pode levar a uma lesão progressiva do funcionamento das células do rim. Isso vai evoluindo e pode chegar ao ponto dos rins pararem de funcionar e esse paciente ter que ser submetido a diálise. Há o risco também de ter uma lesão progressiva em células das retinas, causando uma retinopatia, comprometendo a visão. Além disso, podem acontecer alterações na microcirculação que podem levar o paciente a lesões de difícil cicatrização, e como consequência evoluir para amputação de dedos, pés, de perna”, alerta a endocrinologista e consultora da Coalizão Vozes do Advocacy em Diabetes e em Obesidade, María Victoria Martinez Descalzo.
Sintomas do Diabetes tipo1 e tipo2
De acordo com a endocrinologista, quando a glicose está muito alterada, a pessoa começa a emagrecer, apesar de aumentar a fome, sente muita sede e aumenta também a quantidade de urina. “No diabetes tipo 1, os sintomas surgem de forma abrupta, mas no diabetes tipo 2, esses sintomas podem ser mais discretos e, muitas vezes, durante algum tempo nem aparecem. Então realmente é necessário fazer um diagnóstico. E o jeito mais fácil talvez que fazer o diagnóstico de diabetes é através do teste de glicemia capilar, o exame que dá uma furadinha no dedo e, com uma gotinha de sangue se vê quanto está a glicemia desse paciente”, explica ela.
María Victoria explica também o motivo dos sintomas aparecerem de forma mais lenta nas pessoas que têm o diabetes tipo 2. “O diabetes tipo 2 se caracteriza por uma deficiência parcial de insulina. Por ter uma reserva de insulina no pâncreas, o início dos sintomas não é tão evidente. Já no diabetes tipo 1, o pâncreas perde totalmente a capacidade de produzir a insulina”, esclareceu ela.
Tratamento do diabetes
Os tratamentos dos pacientes com diabetes tipo 1 e tipo 2 são bem diferentes, de acordo com a endocrinologista. “Nos pacientes com diabetes tipo 1 o tratamento é feito pela administração da insulina através de injeções subcutâneas. Existem vários tipos de insulinas, algumas com ação mais lenta, outras com ação mais rápida. Mas, basicamente esses pacientes fazem várias aplicações de insulina ao longo do dia e, algumas delas relacionadas com a alimentação: café da manhã, almoço e jantar.
Já para o diabetes tipo 2 usam-se medicamentos via oral. São comprimidos que agem de várias formas. Alguns deles melhorando a sensibilidade à insulina por parte das células, outros fazendo com que aumente a produção de insulina no pâncreas. Também tem os que fazem com que o paciente elimine a glicose através da urina”, explicou María Victoria Martinez Descalzo.
Mas, a mudança do estilo de vida também faz parte do tratamento. “Inicialmente, sugerimos uma alimentação mais correta, mais variada, com menos quantidade de carboidratos, rica em fibras e pobre em gorduras. E sempre orientamos também para que pratiquem atividades físicas. São fatores que também podem ajudar a melhorar o controle glicêmico”, destaca a médica.
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