Dezembrite — a síndrome de fim de ano

O período de festas e de encerramento de mais um ciclo pode disparar sentimentos de ansiedade, exaustão e tristeza
sexta-feira, 29 de dezembro de 2023
por Jornal A Voz da Serra
(Foto: Shutterstock)
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Dezembro já está de partida, e é nesse período de fim de ano que muitas pessoas fazem uma espécie de “balanço geral” dos últimos 12 meses. E então percebem que metade dos planos e objetivos traçados não foram cumpridos. O fim de mais um ciclo, ao lado das tradicionais festas de fim de ano, pode desencadear sentimentos de ansiedade, melancolia e até quadros de depressão e insônia em algumas pessoas. Isso tem nome: síndrome de fim de ano.

“A síndrome de fim de ano, ou a dezembrite, é um diagnóstico popular que não é formalmente codificado pela psiquiatria nem pela psicologia, mas é uma forma simples de nomearmos um sofrimento recorrente, que afeta várias famílias nesse período do ano”, explica o psicanalista Christian Dunker, que também é professor do Instituto de Psicologia da Universidade de São Paulo (USP).

Segundo a psicóloga Julia Rigueiro Silva, do Serviço de Psicologia do Hospital Israelita Albert Einstein, esta síndrome pode afetar qualquer pessoa e é uma forma de nomear um estado emocional, seja por fazer um balanço do ano que passou, seja por trazer lembranças, frustrações e lutos não elaborados. Os sentimentos associados a esse conjunto de sintomas são muito semelhantes aos de pessoas que vivem no hemisfério norte e relatam ter a “depressão de inverno”. Nesse caso, esse sentimento é chamado de transtorno afetivo sazonal, pois está relacionado à mudança de estação.

“No hemisfério norte, à medida que o inverno vai se aproximando, muitas pessoas vão ficando mais inquietas, inseguras em relação ao futuro, com medo do isolamento e das dificuldades inerentes ao frio. A síndrome de final de ano é uma reação parecida. Os sentimentos de ansiedade, de tristeza e melancolia podem aparecer”, diz Dunker.

Como problema é desencadeado

Há várias razões que ajudam a explicar por que as pessoas ficam mais melancólicas nesse período. Primeiro, é um momento de transição, marcando o encerramento de um ciclo, o que provoca angústia e um estado genérico de temor pelas mudanças que virão com o início do novo ano. “É uma data em que as pessoas tomam decisões, seja de mudança de emprego, de casa, de cidade, separação de casal. É um conjunto de circunstâncias”, explica o psicanalista.

O segundo ponto é que, especialmente no Natal, as pessoas geralmente participam de celebrações que envolvem reuniões familiares, com amigos e colegas de trabalho. Este período é compreendido por muitos como um momento de renovação, reencontro e festividades, mas pode trazer à tona possíveis conflitos dentro da própria família, talvez mal resolvidos.

“Frente à pressão social para que essa seja uma época de comemorações e de encontros, às vezes as pessoas precisam lidar com situações frustrantes, gerando maior sentimento de angústia”, diz Júlia Rigueira. Além disso, destaca, o luto também é um fator que pode se tornar um gatilho:

“Neste período, os sentimentos e as recordações ficam mais aflorados. As reuniões em família podem ativar o sentimento relacionado à perda e à memória afetiva de pessoas que já se foram. Acaba despertando a sensação de melancolia e de sofrimento”, ressalta a psicóloga.

Um terceiro motivo para desencadear a síndrome de fim de ano é que, após o Natal, caracterizado pela reunião familiar, segue-se a celebração do Ano Novo, que é a festa dos desejos e do futuro do indivíduo: “Em geral, as pessoas fazem balanços curtos, rápidos, em vez de meditações pessoais. Olham para o ano que passou como se fossem uma empresa”, explica Dunker.

“São esses balanços que frequentemente levam à sensação de decepção, de frustração. Isso acaba tornando a experiência um encontro com o vazio, com a perda, com a falta, com o que a pessoa ainda não alcançou. Essa é uma fonte importante de sofrimento”, detalha.

Outros fatores que influenciam no desenvolvimento da síndrome incluem problemas financeiros, acúmulo de tarefas, sensação de vazio, sentimento de fracasso, saudade das pessoas que já partiram, isolamento social, alta demanda no trabalho, entre outros. Isso também engloba a pressão em torno das expectativas criadas para o ano que passou e para o novo ano prestes a começar.

Como evitar a síndrome

“É difícil evitar ou prevenir a síndrome de fim de ano porque as circunstâncias variam de pessoa para pessoa. Não é possível prever, por exemplo, se alguém perderá o emprego ou se um casal decidirá se separar, pois são eventos pontuais e individuais que podem afetar as pessoas de formas distintas.”

No entanto, existem recomendações para tornar esse período menos melancólico. A primeira delas é fazer um balanço do ano com calma e cuidado, escrevendo sobre as conquistas e o que ainda não foi alcançado em relação às metas estabelecidas: “Leve a sério essa tarefa”, recomenda o psicanalista.

A segunda dica é não ter medo de fazer esse balanço, não ter medo de olhar para a própria vida, porque esse é o momento em que todos estão “convidados” a viver essa situação. “Converse com outras pessoas de sua confiança, mas conheça e respeite os próprios limites. Se a gente ultrapassa os nossos limites, ficamos desgastados do ponto de vista emocional e psicológico”, também orienta Rigueira.

O terceiro ponto é entender que as festividades significam um reencontro com o passado. Então, é preciso ter paciência e tolerância. “Não espere demais, porque isso pode trazer certas decepções”, ressalta Dunker.

Por fim, estipular objetivos realistas também é uma estratégia positiva. “Se não alcançou as metas estabelecidas no ano anterior, está tudo bem, não precisa desanimar. Vamos estipular novos planos, mas sempre refletindo sobre o que você conseguiu entregar. Ter uma organização, mesmo que seja mental, é importante para todas as pessoas”, pontuou a psicóloga.

Dunker concorda e ressalta que criar perspectivas para o futuro é importante tanto do ponto de vista objetivo quanto subjetivo. “O problema é que frequentemente confundimos metas, objetivos e métricas com os nossos sonhos. Só precisamos ter o cuidado de não confundir os sonhos com as metas para não chegar ao fim de mais um ano infeliz”, finaliza. (Fonte: metropoles.com/saude)

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