Ele é friburguense, e ela uma bibarrense com muitos anos vividos em Nova Friburgo. Unidos pelas artes marciais, e há alguns anos, também por laços matrimoniais, o casal Wilson e Aline Féu mora há três anos no México. Os planos iniciais eram de estabelecer a vida nos Estados Unidos, mas o destino os levou para a América Central. E é por lá que eles têm ensinado um pouco das técnicas brasileiras de jiu-jítsu, e se destacado em competições da modalidade.
“O nosso objetivo principal é apresentar o jiu-jitsu brasileiro nas escolas e usar como ferramenta para ajudar na formação do caráter dos jovens. Atualmente estamos empreendendo classes de condicionamento físicos, jiu-jitsu, MMA Fitness e cursos por uma plataforma, por causa da situação atual que o mundo está vivendo”, conta Aline.
A bibarrense de 34 anos passou a fazer sucesso nas competições de jiu-jítsu em pouco tempo, mas também se dedicou a outras modalidades. Em 2017 teve a oportunidade de se mudar para o exterior, passando a treinar com o marido, e logo assinou o primeiro contrato no MMA profissional. Chegou a lutar pela modalidade, mas foi no jiu-jitsu que se estabeleceu.
Já Wilson Féu, de 41 anos, chegou a morar nos EUA por alguns anos, antes de se mudar para a Cidade do México. No país norte-americano desenvolveu diversos projetos, e trabalhou no aperfeiçoamento pessoal em outras modalidades. Começou no jiu-jitsu aos 18 anos, enquanto servia a Marinha do Brasil, no Rio de Janeiro. Conciliou a arte marcial com outras profissões, como guarda municipal e técnico em enfermagem.
Dentre muitos outros títulos, Féu recentemente sagrou-se bicampeão do North American Granpling Association, o Naga, em San Antonio, Texas. Como professor de jiu-jitsu, desenvolveu projetos como o Mais Educação, na Escola Municipal Patrícia Jonas Santana, no bairro Bela Vista, e o projeto Féu Family, que ensina as técnicas do jiu-jitsu a crianças carentes do município.
Dentre outros projetos, desenvolve trabalhos em academias nos Estados Unidos e treina outras modalidades das artes marciais, como o taekwondo. Féu deu aulas em Arkansas, onde mora, no projeto "Jiu-jitsu para todos”, na School for the Blind, escola para deficientes visuais de North Little Rock.
Com currículo e ostentando os atuais títulos nacionais de jiu-jitsu na Cidade do México, o casal conversou com a A VOZ DA SERRA sobre adaptação, pandemia e planos. E dentre eles está o objetivo de permanecer em solo mexicano. “Temos muito carinho pelo Brasil, um amor especial por nossas cidades natais, Nova Friburgo e Duas Barras, mas aqui o nosso trabalho está sendo valorizado e estamos felizes”, resumiram.
Bate-bola com o casal
A VOZ DA SERRA: Como foi a adaptação ao México? Sentiram muita diferença em relação ao Brasil?
Wilson Féu e Aline: A resposta para essa pergunta é muito relativa e pode variar conforme o ponto de vista de cada um. Morar no México pode ser uma experiência incrível para quem pratica o desapego. Para os mais apegados à sua cultura, família, emprego, idioma, a experiência pode ser difícil e até mesmo dolorosa. Nós, particularmente, nos incluímos no time dos desapegados. É claro que a cultura, a família e amigos fazem falta no nosso dia a dia, contudo, não é algo que deixa a gente triste ou que nos faça pensar em voltar para o Brasil. Vi vários casos de brasileiros que não suportaram a carga emocional de morar no México. Apesar de morar no México ser incrível e gratificante, a adaptação foi muito difícil por causa da cultura mexicana, novo idioma e alimentação. O povo mexicano é muito acolhedor, simpático e adora os estrangeiros, o que de certa forma ameniza aquele impacto inicial de quando se chega no país sem conhecer ninguém.
O Wilson, no caso, foi primeiro para os EUA. Depois de alguns anos, Aline também foi para o exterior, mas o México acabou sendo o destino. Como surgiu o convite, e qual foi o objetivo dessa mudança?
A ideia desde o princípio era ir para EUA, onde o Wilson tinha um projeto em Arkansas e no Texas, mas por algum motivo eu (Aline) não consegui o visto americano. Mas hoje eu entendo que tudo foi permissão de Deus. Em outubro de 2017 a gente tinha uma competição agendada pela IBJJF (Federação Internacional de Jiu-Jitsu), a "México City Open", realizada na Cidade de México. Fomos campeões em nossa categoria, somando um total de sete medalhas na época. Depois desse dia as oportunidades começaram a surgir. Desde então, o nosso objetivo principal é apresentar o jiu-jitsu brasileiro nas escolas e usar como ferramenta para ajudar na formação do caráter dos jovens.
Atualmente, como estão trabalhando e levando um pouco do aprendizado obtido em Nova Friburgo e no Brasil para os mexicanos?
Estamos empreendendo classes de condicionamento físico, jiu-jitsu, MMA Fitness e cursos por uma plataforma on-line, por causa da situação atual de pandemia que o mundo está vivendo.
E quanto às competições? Vocês já participaram de alguma?
Nós seguimos ativos, e somos atuais campeões nacionais aqui na Cidade de México. Eu, Aline, tenho participado mais de torneios como, por exemplo, o Abu Dhabi Pro. Já Wilson está mais focado na arbitragem, nas regras, e atualmente é coordenador de torneios de jiu-jítsu para principiantes aqui na Cidade do México.
Como a pandemia tem interferido na vida de vocês?
Seguimos em quarentena. Estamos acostumados a estarmos ativos, treinando todos os dias e gastando muita energia. Agora só podemos fazer treinamento físico, BJJ Drills e às vezes lutamos em casa, em um pequeno espaço que adaptamos para treinar. Chegamos à noite com uma sobrecarga de energia, algo que geralmente não temos. Alguns psicólogos esportivos afirmam que a pandemia deixa atletas mais ansiosos, e nós concordamos com eles (risos). Estamos muito ansiosos, chegamos a um nível de ociosidade fora do normal, uma dificuldade de se adaptar a determinadas situações às quais não estávamos habituados. No imaginário de muitas pessoas, os atletas são superiores e nada acontece a eles. Essa não é uma realidade. Estamos também sofrendo com o atual momento.
Falando de futuro: pretendem permanecer no México ou voltar à Nova Friburgo?
Temos muito carinho pelo Brasil, um amor especial por nossas cidades natais, Nova Friburgo e Duas Barras, mas está aqui o nosso trabalho e ele está sendo valorizado e estamos felizes. Morar no exterior é o sonho de muitos brasileiros e realmente há muitos ganhos, como qualidade de vida, segurança e estabilidade. Porém não é uma escolha sem dificuldades e sem problemas. Toda escolha implica em abrir mão de algo, e estamos sempre avaliando se estamos dispostos a pagar o preço que é exigido. Não há como fugir disso, voltando para o Brasil ou ficando de vez onde a gente mora hoje. Cada pessoa sabe onde lhe é mais duro o preço da escolha. Por se tratar de algo muito pessoal, somente uma análise sincera de si e da realidade concreta de vida pode tornar essa decisão tão difícil mais consciente.
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