Agressão ambiental. Pantanal teve 17% da área total queimada em 2024

Índices colocam o ano como o segundo pior da série histórica iniciada em 2012 pelo Lasa, superado apenas por 2020, quando 3,6 milhões de hectares foram devastados
quinta-feira, 30 de janeiro de 2025
por Liz Tamane
(Foto: Marcelo Camargo - Agência Brasil)
(Foto: Marcelo Camargo - Agência Brasil)

O Pantanal brasileiro, maior planície alagável do mundo e santuário de biodiversidade, enfrentou em 2024 uma das maiores tragédias ambientais da última década. Segundo dados do Laboratório de Aplicações de Satélites Ambientais (Lasa), da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), cerca de 2,6 milhões de hectares foram consumidos pelas chamas, o equivalente a 17% de toda a área do bioma, estimada em 15 milhões de hectares. Esse número é quase três vezes maior do que o registrado em 2023, que teve 0,9 milhões de hectares queimados.

Os índices de 2024 colocam o ano como o segundo pior da série histórica iniciada em 2012 pelo Lasa, superado apenas por 2020, quando 3,6 milhões de hectares — ou 24% da área do Pantanal — foram devastados por incêndios. Estimativas de outros estudos, como o do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe), indicam que esse número pode ter chegado a 4,5 milhões de hectares naquele ano. Apesar das ações de prevenção intensificadas desde então, a situação em 2024 expõe os desafios persistentes enfrentados por este bioma tão vital para o equilíbrio ecológico do país.

A seca extrema registrada em 2024 foi apontada como um dos principais fatores para a intensificação das queimadas. O índice meteorológico de perigo de fogo, usado para estimar a probabilidade de incêndios, alcançou em outubro os maiores valores desde 1980. De acordo com nota técnica do Lasa, o regime de seca prolongado e as altas temperaturas acumularam grande quantidade de material combustível na região, criando condições favoráveis para o avanço do fogo.

No entanto, a maioria dos incêndios tem origem em atividades humanas. A queima intencional para limpeza de áreas, quando realizada durante o período de estiagem, é uma das principais causas dos incêndios florestais no bioma. Outros fatores incluem a queima de lixo e as condições climáticas, como ventos fortes e baixa umidade.

Os números de 2024 contrastam com as promessas do governo de priorizar a agenda ambiental e reverter os danos causados. O Ministério do Meio Ambiente e Mudança do Clima assumiu o compromisso de combater o desmatamento e preservar biomas como o Pantanal brasileiro. Contudo, os recordes de queimadas no Brasil em 2024 — que atingiram 30,9 milhões de hectares, segundo o MapBiomas — indicam a necessidade de ações mais contundentes e coordenadas.

A ministra do Meio Ambiente, Marina Silva, alerta sobre o futuro preocupante do Pantanal, citando previsões de cientistas que indicam o desaparecimento do bioma até o fim do século, caso as condições atuais de degradação persistam. “A cada ano, vamos perdendo cobertura vegetal, seja por desmatamento ou queimadas, prejudicando toda a bacia do bioma”, declarou a ministra em setembro de 2024, na Comissão de Meio Ambiente do Senado.

Desde os graves incêndios de 2020, brigadas de combate ao fogo foram reforçadas, e ações de educação ambiental ganharam destaque na região. Contudo, as previsões para 2025 continuam desafiadoras. De acordo com o Governo Federal, a seca no Pantanal pode continuar, mantendo a região em alerta.

A luta pela preservação do Pantanal é um chamado urgente para políticas públicas eficazes, fiscalização rigorosa e o engajamento da sociedade em prol de um dos biomas mais ricos e vulneráveis do planeta.

 

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