Produtos ecológicos são realmente mais caros?

Alex Santos tem dedicado seus esforços desde 2010 para disseminar a importância da sustentabilidade. Através de projetos inovadores busca catalisar uma mudança positiva no mundo, incentivando práticas mais responsáveis e ecologicamente conscientes.

Alex Santos

Prosa Sustentável

Alex Santos tem dedicado seus esforços desde 2010 para disseminar a importância da sustentabilidade. Através de projetos inovadores busca catalisar uma mudança positiva no mundo, incentivando práticas mais responsáveis e ecologicamente conscientes.

terça-feira, 12 de novembro de 2024

Opa! Tudo verde?

O assunto desta coluna é complexo e exige profundidade sobre os aspectos do comportamento de consumo e o valor embutido que vai além do preço. Cada consumidor tem a sua própria maneira de interpretar a forma como ele próprio quer investir o seu valoroso dinheiro comprando um bem ou serviço. Neste sentido, não quero me atrever a dizer o que está certo ou errado, mas sim trazer algumas reflexões sobre o tema.

Particularmente atuo na área de negócio socioambiental desde 2010. Ao longo deste tempo percebi uma crescente preocupação com a sustentabilidade e o impacto ambiental dos produtos que consumimos, e por isso já fui convidado a entrar neste assunto por algumas vezes, inclusive em palestras para grupos de pessoas e empreendedores.

É notável que diversos produtos ecológicos, muitas vezes, tendem a apresentar preços mais elevados em comparação com seus equivalentes tradicionais. Uma das principais razões para o custo mais alto dos produtos ecológicos está relacionada aos métodos de produção mais sustentáveis.

O uso de matérias primas mais responsáveis e processos de fabricação ecologicamente corretos são planejados para impactar o mínimo possível e, para isso, exigem pesquisas, testes, produção artesanal, investimentos em novas fontes energéticas, gestão completa de resíduos, valorização das pessoas, fornecedores certificados e alinhados com o propósito do modelo de negócio mais verde entre muitos outros fatores. É pensar “circular” imaginando que todas as pontas da cadeia devem estar conectadas num mesmo propósito: a construção de um mundo melhor para todos.

 

Por que produtos feitos com “lixo” são mais caros já que não se paga pelo material?

Está aí uma das perguntas que já tive que encontrar respostas para algumas pessoas. No entanto, mesmo com este exercício de “perguntas e respostas” ainda é um tema que exige exemplos claros e profundos para que eu possa tentar explicar a complexidade na formação de preços. Neste sentido, a partir de uma ótica da minha própria vivência de empreendedorismo de impacto tentarei ser objetivo para esclarecer este assunto e trago o exemplo de reuso de banners publicitários.

Elaborado a partir de derivados do petróleo, o banner é um produto que pode levar anos para se decompor no ambiente, contribuindo para o entupimento de bueiros, a poluição de rios e causando danos significativos à saúde humana quando queimado. Ao optarmos pela reutilização desse material, impedimos que seja descartado de maneira irregular, proporcionando uma extensão em sua vida útil. Além disso, essa prática estimula a economia ao impulsionar a cadeia produtiva, enquanto simultaneamente aborda uma questão ambiental crucial. Essa abordagem representa uma proposta valiosa, especialmente para aqueles que já adotam um pensamento mais consciente em relação ao meio ambiente.

Algumas pessoas, no entanto, acreditam que “por vir do lixo”, os produtos feitos a partir do reuso de banners deveriam ser baratos para estimular o consumo. No entanto, é importante considerar os processos produtivos embutidos nesta transformação, assim como:

 

  • Coleta do material - Em muitos casos, existe o custo de logística para recolher os banners.
  • Separação - Em muitos casos, é necessário selecionar os banners por tamanhos e espessuras exigindo tempo para realização deste trabalho.
  • Limpeza - Antes de qualquer coisa, o banner precisa ser higienizado e exige trabalho manual.
  • Corte dos banners - Exige trabalho manual e corta-se poucas peças num mesmo enfesto.
  • Maquinário de costura - É necessário maquinários específicos, mais difíceis de serem encontrados e manuseados, além da manutenção que exige profissional capacitado.
  • Linha e agulha - Específicas e mais difíceis de serem encontradas.
  • Gestão de resíduos - Os pedaços menores de banners devem ser direcionados para o descarte correto.

 

Como pode-se perceber acima, o processo produtivo exige muito mais do que só costurar. Este mesmo pensamento deve ser considerado para outros produtos feitos de maneira mais ecológica. Empreendedores que optam por seguir o caminho da sustentabilidade muitas vezes enfrentam desafios extras ao desenvolver novos produtos ou adaptar os existentes para serem mais ecológicos. O investimento em pesquisa e desenvolvimento para encontrar alternativas sustentáveis e eficientes pode ser dispendioso, refletindo diretamente nos custos dos produtos finais.

Um dos maiores desafios para empreendedores que buscam a sustentabilidade é a falta de incentivos e subsídios governamentais. Enquanto indústrias tradicionais muitas vezes recebem apoio financeiro significativo, os setores ecológicos geralmente têm acesso limitado a esses recursos. Em muitos casos, os negócios mais verdes colaboram para uma cidade mais limpa e preservada, mas os impostos aplicados para estes modelos de negócios são os mesmos das indústrias tradicionais que descarregam seus resíduos em qualquer ponto da cidade.

A ausência de incentivos dificulta, e muito, a competitividade dos produtos ecológicos no mercado, já que os preços mais altos podem afastar os consumidores. Outro fator a ser mensurado nesta prosa é o consumidor final. Embora os produtos ecológicos tenham benefícios ambientais notáveis, muitos consumidores ainda não compreendem totalmente as vantagens. A falta de conscientização e educação ambiental do consumidor pode resultar em uma demanda menor por produtos sustentáveis, o que, por sua vez, contribui para a falta de escala na produção e, consequentemente, para preços mais altos.

Apesar dos desafios enfrentados pelos empreendedores que buscam a sustentabilidade, é crucial reconhecer a importância de consumir produtos mais ecológicos. A adoção de práticas sustentáveis não apenas preserva o meio ambiente, reduzindo a pegada de carbono e o uso de recursos naturais, mas também promove uma mudança cultural em direção a uma economia mais verde.

Consumidores conscientes desempenham um papel vital ao escolherem apoiar produtos ecológicos, incentivando a indústria a inovar e aprimorar suas práticas sustentáveis. Além disso, governos e organizações devem intensificar os esforços para oferecer incentivos financeiros e subsídios àqueles que buscam empreender com foco na sustentabilidade, tornando os produtos ecológicos mais acessíveis e competitivos.

Em última análise, a transição para uma economia mais sustentável exige a colaboração de todos os setores da sociedade. Ao superar os desafios financeiros e promover a conscientização, podemos criar um futuro onde a sustentabilidade não seja apenas uma escolha mais cara, mas sim a norma, beneficiando o planeta e as gerações futuras.

Tudo verde sempre!

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Alex Santos tem dedicado seus esforços desde 2010 para disseminar a importância da sustentabilidade. Através de projetos inovadores busca catalisar uma mudança positiva no mundo, incentivando práticas mais responsáveis e ecologicamente conscientes.

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