O ponto mais central de Nova Friburgo, a interseção entre as praças Dermeval Barbosa Moreira e Getúlio Vargas, terá o trânsito alterado pela prefeitura a partir desta terça-feira, 30. O motivo é a instalação do canteiro de uma das obras mais aguardadas pelos friburguenses: a drenagem da Rua Farinha Filho e vias adjacentes, que sempre alagam nas chuvas de verão (abaixo).
As obras serão realizadas pelo governo do estado. O largo entre as duas praças, onde hoje ficam estacionados os táxis, será fechado ao trânsito para a instalação do canteiro de obras. Ali ficarão máquinas e equipamentos, escritório e todas as dependências de apoio à obra.
Os táxis passarão a ocupar, provisoriamente, a rua entre o Willisau Center e o Instituto de Educação de Nova Friburgo (Ienf). Por isso, não será mais permitido estacionar dos dois lados da pista, que funcionará em mão dupla. O secretário de Ordem e Mobilidade Urbana (Smomu), Renato de Souza Silva, explicou que, dessa forma, os táxis poderão sair tanto em direção à Avenida Alberto Braune quanto no sentido contrário, rumo à Praça Getúlio Vargas.
Segundo Renato, o prazo das intervenções será de 18 meses (um ano e meio). Ele informou que, conforme prevê o Artigo 95 do Código de Trânsito Brasileiro, assim como ocorreu na obra de drenagem da Rua Minas Gerais, em Olaria, a sinalização do local é por conta da empresa contratada pelo estado para a execução da obra, que é de grande porte. No entanto, agentes da Smomu estarão nas imediações nos primeiros dias, orientando os motoristas.
Os motoristas que seguem pela Getúlio Vargas em direção à Alberto Braune e quiserem se deslocar para o antigo Fórum ou a Praça do Suspiro precisarão seguir até a Rua Augusto Cardoso. Em uma segunda etapa da obra, esta rua também será interditada e, segundo Renato, na ocasião, nova determinação da Smomu será divulgada. O trecho em frente à Catedral São João Batista não será afetado.
A obra se dará em duas frentes: da Rua Farinha Filho, esquina com a Augusto Spinelli, até a Avenida Comte Bittencourt, atravessando a Rua Dante Laginestra; e da Rua Augusto Cardoso até a subida das Braunes, passando pela Monte Líbano.
Preocupação com o comércio
Há duas semanas, o presidente da Câmara de Dirigentes Lojistas (CDL) e do Sindicato do Comércio Varejista (Sincomércio) de Nova Friburgo, Braulio Rezende, participou de uma reunião na prefeitura, juntamente com um grupo de empresários ligados à Associação Comercial do município (Acianf), para discutir o impacto dessa obra no comércio.
“Sabemos que a obra vai causar tumulto, pois a empresa abrirá valas para a canalização. Sugerimos, por exemplo, a escavação de pequenos pedaços com fechamento rápido, em sequência, em vez de deixar as ruas inteiramente esburacadas até o término de cada etapa”, ponderou.
Braulio sugeriu ainda a interrupção do serviço perto de 10 de dezembro, com retorno somente em janeiro, por causa das compras de Natal. Embora admita que esse hiato possa atrasar um pouco a conclusão dos trabalhos, ele disse acreditar que os prejuízos se revelarão menores do que se forem mantidas vias quebradas no período das festas de fim de ano, com o trânsito ainda mais engarrafado. Ele também alertou para a proximidade da temporada de chuvas, que por certo contribuirá para alongar o prazo de entrega das obras.
“É inegável que enfrentaremos dificuldades com um serviço de tal vulto. Queremos combinar com a empreiteira de acompanhar o desenrolar do processo, para tomar providências imediatas logo que os problemas apareçam, abrandar os impactos negativos na rotina do comércio e dos moradores. Vamos tentar superar tudo com diálogo e bom senso, porque a obra terá grande importância para a qualidade de vida em Nova Friburgo. Há anos nos queixamos dos alagamentos no Centro, esperando por uma solução”, disse Braulio.
Anunciada no fim de fevereiro deste ano pelo Governo do Estado, a licitação para a obra de drenagem e pavimentação nas ruas Carlos Alberto Braune, Monte Líbano, Augusto Cardoso, Farinha Filho, Dante Laginestra, parte da Avenida Alberto Braune e da Praça Getúlio Vargas aconteceu no fim de março. Foi feita na modalidade concorrência, no modo de disputa tradicional, com critério de julgamento pelo menor preço. Diferentemente do modo de disputa por pregão, que avalia apenas o fornecedor vencedor da licitação, no modo de disputa tradicional todos os fornecedores são avaliados.
Para a execução dessa obra, oito empresas se habilitaram. O trabalho está estimado em R$ 16.698.820,35.
Enchentes desde a fundação da vila
Como já descreveu A VOZ DA SERRA em várias reportagens, o alagamento do Centro é um problema antigo. Tão antigo que, como recordou A VOZ DA SERRA em dezembro de 2020, um cemitério que existia próximo à Rua Sete de Setembro chegou a ser removido para a parte mais alta da vila porque corpos eram arrastados pelas águas. (RELEMBRE AQUI, COM GALERIA DE FOTOS HISTÓRICAS).
Segundo historiadores, o cemitério ficava onde hoje é o prédio da Maçonaria. Foi removido para onde hoje se localiza o São João Batista. ogo que os primeiros imigrantes suíços se estabeleceram, enfrentaram, em janeiro de 1820, uma enchente que desestruturou o núcleo colonial. O Rio Bengalas não tinha o curso retilíneo que tem hoje, e a Praça Getúlio Vargas era entrecortada por inúmeros córregos. As enchentes provocavam extensas formações de pântanos, e acreditava-se que a água estagnada era responsável pelas doenças da época. Ainda assim, apesar de tantos danos materiais através dos séculos, a vila se desenvolveu no entorno do Bengalas, onde foi estabelecido o comércio, as melhores residências e as praças.
Os historiadores João Raimundo de Araújo e Agnes Weidlich contam que houve enchentes lendárias nos anos de 1938, 1945, 1978, 1979, 1996 e 2007. Sem falar na mãe de todas as tragédias, em janeiro de 2011.
A rua que vira um rio
Ainda nos dias de hoje, basta chover forte que a Rua Farinha Filho vira um rio e fica intransitável. Praticamente todas as lojas naquele ponto comercial tiveram que instalar comportas para estancar a água. Uma das lojas mais antigas da rua (está lá há 115 anos), a Camisaria Friburgo é uma das que mais sofrem. “Esse problema acontece desde que a loja existe. Já fizeram várias obras, e nada resolveu. O jeito é fechar as portas, limpar e ficar com o prejuízo em vendas, que representa uma perda de 15%”, disse o proprietário, Helio Cardoso, em uma reportagem em abril de 2019.
O problema estrutural é sentido por todos. A loja de Leine Ramos, a Focus, que fica no meio da via, tem 28 anos: “Já ficou até cansativo falar sobre esse assunto. Entra governo, sai governo e o problema permanece. Já nos acostumamos a arcar com o prejuízo, porque não tem mais para quem reclamar”, desabafou.
Localizada logo no início da rua, a Imagem Universal, por ter o piso mais alto, não tem muitos problemas com a entrada de água pela porta principal, mas a falta de vazão às vezes causa problemas internos, com retorno da água pelos ralos. “Estou aqui há 15 anos, o que ouço dos comerciantes mais antigos é que alagamento nesse cruzamento já acontece há anos. E piorou com o asfaltamento das Braunes, pois o volume de água de água que desce, aumentou. Eu percebo que enche rápido, mas também escoa rápido, então não são só bueiros entupidos. Aqui normalmente não entra água, com exceção das marolas provocadas pelos veículos”, contou a proprietária Teresa Namiki.
Além de tolerar a queda das vendas, investir em limpeza e ficar ilhado quando a chuva cai em horário comercial, o investimento em comportas já é parte do processo de qualquer lojista da Rua Farinha Filho: “A situação é crítica. Choveu muito, tem que colocar a comporta, que no meu caso, para uma pequena, foi necessário um investimento de R$ 400. Todos os lojistas daqui têm que ter”, contou Jean Cabral, da livraria Agnus Dei.
Os alagamentos na área central, incluindo a Avenida Comte Bittencourt, ocorrem mesmo sem o transbordamento do Rio Bengalas, devido à obstrução das galerias (foto acima, de Henrique Pinheiro).
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