Caminhar pelas ruas de uma cidade ordenada, limpa e sem poluição visual é uma experiência agradável para muitos. Por vezes, as pessoas não se dão conta de como a poluição visual é capaz de mexer com a emoção. Mas basta ter a experiência de visitar uma cidade com prédios e muros pichados e sem manutenção, que uma sensação ruim logo se instala. De acordo com a arquiteta Núbia Gremion, todo esforço para melhorar a qualidade urbana é uma valiosa contribuição à política de saúde pública.
“A experiência de vida na cidade começa por um conceito relativo, não importando o número de pessoas, mas a sensação que o lugar transmite. Assim enveredamos pelo debate da poluição visual. Existe uma frase de efeito, muito famosa entre arquitetos e designers, que caiu no gosto popular, atribuída ao arquiteto alemão modernista Mies van der Rohe de que “menos é mais”. Uma cidade com menos distrações estéticas sem relevância – não no quesito da funcionalidade, mas focado na questão estética -, torna o caminhar mais agradável e, consequentemente uma cidade mais convidativa. Um comportamento habitual e automático dos citadinos é perambular pelas calçadas; quanto menos distrações que não impactem no que realmente vale como imagem e identidade de um lugar, melhor a experiência”, explica Núbia.
Para trazer mais segurança aos cidadãos e melhorar o visual urbano, no último domingo, 16, foi realizada uma ação de organização dos cabos de uso mútuo pelas empresas de telecomunicações nos postes da Avenida Alberto Braune, com acompanhamento de representantes da Câmara Municipal e Energisa. De acordo com a concessionária de energia elétrica, o mutirão teve início às 7h e foi até às 16h e aconteceu em uma parte da Avenida Alberto Braune, da altura da esquina com a Rua Monte Líbano à Casas Bahia, sem interrupção do fornecimento de energia.
Nesta ação participaram 58 pessoas de sete empresas de telecomunicações que possuem cabos nos postes no trecho. Na ocasião, as empresas de telecomunicações, responsáveis pelos cabos e pela organização dos mesmos, reordenaram os demais cabos e retiraram os cabos inoperantes, ficando responsáveis pelo descarte desses fios. Em nota, a concessionária Energisa informou ainda que “a distribuidora executa ações complementares de limpeza e remoção de cabos fora de operação, visando minimizar a poluição visual causada pelo excesso de cabos. Somente em 2021, a empresa removeu mais de quatro toneladas de cabos fora de uso que são de propriedade das empresas de telecomunicações.”
A ação é resultado de reuniões propostas pela Câmara Municipal. Nos encontros, o presidente da casa legislativa, vereador Wellington Moreira (acima), cobrou a aplicação da lei municipal 4.699/19, de sua autoria, que dispõe sobre posturas, organização e compartilhamento de infraestrutura pelos agentes que exploram os serviços de energia elétrica e de telecomunicações no município.
“Nova Friburgo é um município turístico e a poluição visual ocasionada pelos fios não combina, sem falar dos possíveis riscos à população. Esse mutirão foi o “start” das ações e espero que não pare por aí, pois a multa pelo descumprimento é no valor equivalente a 300 Ufir-RJ/dia, hoje cerca de R$ 1.230 e, em caso de reincidência no mesmo local, a multa será aplicada em dobro”, declarou o vereador. A lei dispõe sobre posturas, arranjo e compartilhamento de infraestrutura pelas empresas que exploram os serviços de energia elétrica e telecomunicações na cidade.
Ordenamento dos fios é demanda antiga
O ordenamento dos fios e cabos é uma demanda antiga na cidade. Assunto que já foi pauta em diversas reuniões de entidades, como Câmara de Dirigentes Lojistas (CDL), Sindicato do Comércio Varejista (Sincomércio) e Associação Comercial, Industrial e Agrícola de Nova Friburgo (Acianf).
Para o presidente da CDL e do Sincomércio, Braulio Rezende (acima), o mutirão de limpeza nos postes, dará aparência mais ordenada a Nova Friburgo, além de mais segurança à população. Ele lembra que empresários do comércio cobram há anos solução para o problema e que foi durante reunião com vereadores na sede das entidades, em maio de 2019, que surgiu a ideia da lei 4.699/19, de autoria de Wellington Moreira, hoje presidente da Câmara Municipal.
“Faz bastante tempo que esta questão nos incomoda. Temos reclamado junto ao poder público para que exija das empresas responsáveis pelo menos uma arrumação nos fios, retirada dos que estiverem sem uso, e que também fiscalize a manutenção do trabalho. Agora, esperamos que o mutirão prossiga, seja levado adiante, ainda que em etapas, para conseguirmos dotar nosso centro urbano de feição mais agradável e oferecer mais proteção a todos”, observa.
O presidente da Associação Comercial e Industrial de Nova Friburgo (Acianf), Júlio Cordeiro (abaixo), considera que a poluição visual nos postes da cidade causa um aspecto muito triste, de um lugar quase “sem lei”. “É um assunto de debate já há bastante tempo entre várias entidades representativas. Entre elas, a Acianf, que tem imbuído esforços nesse sentido de se colocar um ordenamento nos postes de maneira que possamos ter um visual menos agressivo no nosso dia a dia. Sabemos da necessidade dessa fiação para passar não só eletricidade em si, mas para passar também o sistema de comunicação, porém do jeito que está (totalmente desorganizado e sem parâmetros) causa péssima impressão. Esperamos que a partir de agora, após o engajamento de várias entidades e colaboração das empresas de energia e telecom, possamos ter um visual um pouco melhorado,” disse ele.
O sonho do aterramento dos fios
O ordenamento e a limpeza dos fios e cabos amenizam a situação, mas o desejo das entidades é o aterramento dos fios, como já feito em algumas partes de Petrópolis. Para a arquiteta Núbia Gremion (abaixo), essa é a melhor solução. Ela explica que Nova Friburgo tem belas montanhas que rodeiam as perspectivas diárias e legislações como Plano Diretor e Código de Obras acabam por auxiliar na relação de menos impacto para as escalas, trazendo a sensação de que se mora em uma cidade com excelente fornecimento de serviços, mas sem arranha-céus. “É muito mais agradável caminhar pelo centro de Nova Friburgo do que pelo centro de São Paulo, por exemplo. Conseguimos enxergar além do que está construído. Quando entramos na relação de escalas, e na linha de visão das pessoas, eliminar ou minimizar o impacto da fiação dos postes destaca as fachadas, o conteúdo dos comércios, as reentrâncias da Avenida Alberto Braune com seus banquinhos. Fachadas visíveis (e temos fachadas lindíssimas e importantes, historicamente, espalhadas pela cidade) contam a história da nossa cidade, reforçam nossa identidade enquanto friburguenses. Adotar uma política de enterramento do cabeamento exposto, a longo prazo, é uma opção que traz inúmeros benefícios e vale a pena, mesmo que com um custo elevado”, defende ela.
Apesar de comemorar a proposta do mutirão, que na opinião do presidente da CDL, Bráulio Resende, pode conter a bagunça na rede aérea da cidade, ele defende intervenção mais radical no Centro e nos bairros de Nova Friburgo. O presidente da CDL e do Sincomércio acentua que somente um projeto de remodelação – com adoção de fiação subterrânea, pavimentação das calçadas, instalação de equipamentos de acessibilidade, entre outras medidas – permitirá ao município recuperar suas antigas beleza e organização. “Concordamos com iniciativas para ajeitar a cidade, só que, acima das ações paliativas, necessitamos de programas mais abrangentes. Nova Friburgo acumulou demandas que ficaram por longo período reprimidas. Atualmente, elas são numerosas”, sustenta.
Júlio Cordeiro, presidente da CDL, lembra do projeto de lei Cidade Limpa, que chegou a ser debatido provisoriamente na Câmara de Vereadores de Nova Friburgo, mas não se deu segmento à época. “Está mais do que na hora de voltarmos a debater esse assunto de maneira que possamos ter uma cidade com um melhor visual, uma cidade mais limpa em vários aspectos. Uma cidade mais amigável ao meio ambiente e amigável à sua população. Esperamos uma nova padronagem e ficaremos atentos para que essa poluição visual não volte mais”, finaliza ele.
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