Os desafios em relação à universalização da educação ficaram ainda mais evidentes com a pandemia, que acentuou a diferença de oportunidades entre os estudantes. A tecnologia aliada ao ambiente escolar hoje é uma necessidade para corrigir distorções e potencializar o interesse e o aprendizado dos alunos.
Segundo um levantamento do Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira (Inep), em todo o Brasil, nove em cada dez escolas, (90,1%) não retornaram ao ensino presencial em 2020. Enquanto no ensino privado 70,9% das escolas ficaram fechadas em 2020, na rede pública esse número é ainda maior, 98,4% das instituições federais, 97,5% das municipais e 85,9% das estaduais.
Outro estudo do Inep afirma que o ensino remoto ampliou diferenças regionais entre o centro urbano e o interior. Com as escolas distantes e difícil acesso à internet, crianças de áreas rurais sofreram mais os impactos causados pela pandemia do que os estudantes em áreas urbanas. No nível nacional, cerca de dois milhões de alunos de escolas rurais passaram 2020 em casa e sem acesso digital.
Durante oito meses, enquanto estive à frente da Secretaria Estadual de Educação do Rio de Janeiro (Seeduc), busquei fazer o máximo para enfrentar esta desigualdade. Em conjunto com uma equipe dedicada, composta majoritariamente por funcionários públicos concursados, aprovamos um planejamento estratégico de educação para o estado. A principal meta foi a implantação do ensino híbrido (presencial e à distância).
Para chegar lá, começamos pela condição básica para se navegar na internet: a conexão. Acesso à internet de qualidade sem limite de dados é uma realidade distante para a grande maioria dos alunos da rede pública estadual. Por isso, negociamos com as quatro principais operadoras de telefonia e oferecemos um “link patrocinado”, conectividade gratuita garantida para acessar os conteúdos educacionais desenvolvidos pela Seeduc. Para servir como porta de entrada para o ensino remoto oferecemos o “Aplique-se”, um aplicativo próprio desenvolvido pelos nossos valorosos servidores públicos da rede estadual de ensino.
Além de conexão garantida e conteúdo adequado, era preciso criar condições para que os próprios profissionais de ensino pudessem investir em tecnologia e participar ativamente deste novo desafio pedagógico. Após uma longa negociação, conseguimos viabilizar junto ao governo do Estado o investimento de R$ 72 milhões para o pagamento do “auxílio tecnológico”, um benefício para 48 mil profissionais da rede estadual de ensino público, que receberam, em cota única, o valor de R$ 1.500, através de folha suplementar de junho.
Como professor e homem público, sempre estive comprometido com as orientações da ciência e da tecnologia. Mesmo agora, com o retorno gradual das aulas presenciais nas escolas estaduais, é preciso manter estes avanços na inclusão digital e no uso das ferramentas atuais, como os smartphones, nos processos pedagógicos. Se o Governo do Estado e a sociedade reconhecerem esta importância, teremos condições de conquistar importantes avanços na educação brasileira nos próximos anos.
* Comte Bittencourt é ex-secretário estadual de Educação do Rio de Janeiro ex-presidente da Comissão de Educação da Alerj.
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