A escola rural Ibelga Ceffa Flores, da rede municipal, localizada em Vargem Alta, região considerada a maior produtora de flores de corte do estado do Rio, trabalha com uma pedagogia diferenciada, denominada pedagogia de alternância. Atualmente a escola tem no corpo técnico desta matéria, os professores Diogo Busnardo Mattos, Maria Clara Stoducto e Camila Nardy.
Segundo o professor de agricultura prática Diogo Busnardo, a pedagogia de alternância foi criada para adequar o cotidiano escolar ao dia a dia no campo, com períodos em que os estudantes passam na escola e outros com a família, para passar adiante o aprendizado adquirido na escola. Entre os projetos da escola, estão o da prática de agrofloresta e uma nova viagem a Holambra (SP) — a cidade das flores, a maior produtora do Brasil.
“A área de agrofloresta está sendo implantada desde o ano passado e hoje estamos colhendo hortaliças sem utilização de agrotóxicos nem adubação química. A viagem para Holambra, visa levar os estudantes para conhecer a região que é vanguarda na questão das flores no intuito de absorver informações e práticas que possam melhorar nossas plantações aqui”, explicou Diogo.
O Ceffa Flores atende alunos do ensino fundamental do 6º ao 9º anos e além das matérias curriculares comuns a toda a rede, conta também com a de agricultura teórica e prática, além dos vários instrumentos da pedagogia da alternância como o Plano de Estudos, intervenções externas, viagens de estudo, caderno de acompanhamento dos alunos, visitas às famílias, entre outros.
Projetos em desenvolvimento
O professor explica que o estudo de agricultura assume um papel ainda mais relevante na comunidade ao promover diversos projetos, dentro e fora dos ambientes escolar e familiar. Um deles foi a viagem a Holambra em 2019, quando os alunos conheceram o maior polo de produção de flores de corte do país.
“A viagem resultou em experiências e conhecimentos importantes que trouxemos para a nossa comunidade. No ano passado, com a volta às aulas presenciais, recebemos a visita do secretário de Agricultura e da titular do Meio Ambiente, do município. Os encontros culminaram em um projeto de coleta de embalagens de agrotóxicos na escola, além de troca de ideias sobre preservação de florestas”, revelou Diogo, acrescentando que havia muitos anos a coleta de embalagens não era feita na comunidade. “Antes eram levadas até Conquista para o descarte apropriado”.
Os alunos também recebem alertas do Inea sobre os perigos das queimadas e de como atuam as brigadas anti-incêndio. Também ano passado teve início a implantação de uma área de agrofloresta que está sendo utilizada para a prática da pedagogia adotada pela escola.
“A agrofloresta é uma forma de plantio orgânico que une a produção de alimentos (agro) com o elemento florestal (árvores) em um mesmo espaço, formando um sistema biodiverso, equilibrado e que regenera o solo, tendo como resultado desta regeneração, alimentos saudáveis. Nesta área, os alunos colocam a mão na terra e fazem desde a preparação da área como roçada e capina, passando pela preparação do solo, a adubação dos canteiros, a cobertura, o plantio, o manejo e a colheita. A comunidade de Vargem Alta também colabora conosco, tendo doado insumos, mudas e o preparo de área total com um microtrator”, esclareceu.
Perspectivas que transformam comunidades
Segundo ele, atualmente, estão consorciadas diversas variedades de hortaliças, intercaladas com linhas e árvores, implantada em uma área de aproximadamente 500 m2. “Apesar do espaço pequeno, temos uma variedade de mais de 15 espécies de árvores diferentes, sendo a maioria delas, nativas da Mata Atlântica. Recentemente colhemos mais 150kg de alimentos, como repolhos, alfaces, brócolis, pimenta, acelga, cebolinha, salsinha, couve, entre outros”.
Diogo ressalva que o manejo neste tipo de sistema é o que garante o sucesso ou fracasso da produção, pois como a diversidade é grande e a densidade de plantas é alta, é preciso manejar para que as plantas se ajudem ao invés de se atrapalharem. Com isso, os alunos têm uma experiência diferente de tudo que estão acostumados na família e na comunidade, levando pra casa práticas como a cobertura de solo, a compostagem, o uso de biofertilizantes, o plantio consorciado.
“Como intervenção externa este ano, tivemos a presença do Viveiro da Mata Atlântica, onde foi demonstrada a importância das áreas de Reserva Legal e Áreas de Preservação Permanente nas propriedades. Os alunos também fizeram uma visita ao viveiro e observaram a forma de produção de mudas e a importância das sementes. Estamos realizando também, em parceria com a Emater local, uma formação sobre estufa, com palestras sobre os tipos de estufas e materiais utilizados, além de aula prática em estufa vizinha à escola”, contou.
Sendo pública, a escola propicia aos alunos vivenciar experiências que trazem outras perspectivas possíveis, para que os jovens atuem na transformação da comunidade. “Esta escola existe e temos o privilégio de tê-la em nossa cidade, trazendo formação de ponta a alunos de uma comunidade rural importantíssima ao nosso município. Inclusive, agricultores aqui de Vargem Alta estão desenvolvendo dois projetos, um de turismo, para obervação das flores, e o outro de um restaurante especializado em cozinha mineira”, acrescentou.
Mais de três décadas de história do Ibelga
Em visita oficial a Nova Friburgo, em 1986, o cônsul geral da Bélgica, no Rio de Janeiro, embaixador Victor Bernhard, ao conhecer a região hortigranjeira do município, e verificar a grande produção através do mercado produtor local (Ceasa), ficou surpreso com a falta de suporte para os jovens produtores rurais, como formação profissional e organizações sociais capazes de trabalhar pelo desenvolvimento rural.
Para criar as condições necessárias, em 17 de julho de 1990, foi formado o Instituto Bélgica – Nova Friburgo / Ibelga, juntamente com o Serviço Internacional de Cooperação aos Projetos de Desenvolvimento (Disop), e o Instituto para o Desenvolvimento Econômico, Educacional, Social e Cultural de Nova Friburgo (Ides).
Tanto empenho resultou na inauguração da primeira Fazenda Escola Rei Alberto I, em 1º de março de 1994, com aplicação da pedagogia da alternância, e o segundo segmento do ensino fundamental com 39 alunos. Em 1998, atendendo reivindicação da comunidade, foi implantado o ensino médio com a educação profissional.
Ibelga Salinas
O Ceffa Rei Alberto I funciona na localidade de Baixada de Salinas, em Nova Friburgo e aplica a Pedagogia da Alternância no atendimento escolar dos estudantes filhos de agricultores familiares e demais famílias do meio rural. A escola é dividida em duas unidades, o CM Ceffa Rei Alberto I, que atende alunos do segundo segmento do ensino fundamental e funciona a partir da parceria do Ibelga com a Prefeitura Municipal de Nova Friburgo.
Contando hoje com mais de 300 alunos, o Ceffa CEA Rei Alberto I funciona numa parceria entre o Ibelga e a Secretaria de Estado de Educação do Rio de Janeiro. A unidade atende alunos do ensino médio integrado a dois cursos profissionalizantes: técnico em agropecuária e técnico em administração. Hoje possui cerca de 150 alunos matriculados.
Ibelga Vargem Alta
Criado em 2002, o Ceffa Flores de Nova Friburgo está situado em Vargem Alta, distrito de São Pedro da Serra, nos limites com o município de Bom Jardim. Ficando atrás apenas de Holambra (SP), o distrito é o segundo maior produtor de flores de corte do Brasil e se destaca com um modelo de agricultura familiar, na produção de rosas, hortênsias, monsenhores, crisântemos, gérberas e muitas outras. Neste contexto, foi criada a escola rural Ibelga Ceffa Flores para atender a essa demanda, já que a maioria de seus alunos são filhos dos produtores da região. Hoje, contando com o ensino médio inaugurado em 2015 em parceria com o estado, através do Colégio Estadual Raphael Jaccoud, os jovens podem finalmente completar seus estudos sem o desconforto de sair da comunidade, valorizando assim seu espaço e com uma pedagogia adequada à sua realidade.
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