Notícias de Nova Friburgo e Região Serrana
Era uma vez
Tereza Cristina Malcher Campitelli
Momentos Literários
Tereza Malcher é mestre em educação pela PUC-Rio, escritora de livros infantojuvenis e ganhadora, em 2014, do Prêmio OFF Flip de Literatura.
As oficinas literárias suscitam questões a serem pesquisadas e refletidas.
Nosso grupo se propôs a escrever contos infantis e houve, antes do encontro,
troca de textos para leitura crítica e apresentação de sugestões entre os
participantes. Recebi um que tratava da expressão “era uma vez”. Entrei em
contato com Marisa Maia, escritora e contadora de histórias da região serrana
de Nova Friburgo e recebi um presente: a aula de uma mestra.
“Era uma vez”, expressão tradicional, usada desde o século XIV, é
utilizada em diferentes países atualmente; é universal. Pode ser entendida
como um código estabelecido para o leitor ou o ouvinte entrar no mundo
imaginário das histórias, contadas através de narrativas orais e escritas. É
como se fosse um convite a uma visita a um outro lugar, o do faz de conta,
onde tudo pode acontecer e a fantasia tem o seu reinado. Não está localizado
na realidade concreta dentro da qual as pessoas estão inseridas.
“Era uma vez” é como se fosse um portal que separa o real do imaginário.
É uma permissão para o ouvinte fantasiar, tendo a finalidade de criar a
impressão de que ele será transposto para o mundo imaginário de uma
história.
Contar uma história no decorrer de uma conversa é bem diferente do que
narrá-la em uma situação de contação, quando um acontecimento, situado e
circunscrito em um ambiente ficcional, é relatado através de uma narrativa, em
que o contador poderá se utilizar de elementos lúdicos, teatrais e simbólicos
para melhor encantar o público.
Tal expressão pode ser equiparada a outras, como “naquele tempo” ou
“certa feita”. São importantes para que o contador e o ouvinte mudem de
postura; o ouvinte abra seus canais de absorção, e o contador prepare-se para
ser o intermediário entre a história e o ouvinte, tendo a missão de apresentar,
de modo mais encantador possível, um conto, uma lenda, um causo ou uma
fábula.
O ouvinte e o leitor precisam ter ciência de que o mundo em que eles
vivem é diferente do da história. A criança, principalmente, deve ser capaz de
diferenciar a realidade concreta da imaginária. Entretanto, os personagens das
histórias tendem a se tornar entidades significativas nos seus processos de
construção da identidade individual e de compreensão do mundo. A
desenvoltura na passagem do real ao imaginário faz parte do fazer-se pessoa,
enquanto ser de interações, realizações e convivência.
“Era uma vez” é amplamente usado e pode ser traduzido em idiomas:
Afrikaans: Eendag Lank Gelede
Alemão: Es war einmal
Espanhol: Había uma vez
Francês: Il était uma fois
Inglês: Once upon a time
Japonês: Mukashi mukashi
Norueguês: Det var en gang
Theco: Bylo nebylo
***
Aliás, meu amigo, haverá um lugar no mundo onde não se contam
histórias?
Como seriam as pessoas deste lugar?
Você gostaria de viver lá?
Tereza Cristina Malcher Campitelli
Momentos Literários
Tereza Malcher é mestre em educação pela PUC-Rio, escritora de livros infantojuvenis e ganhadora, em 2014, do Prêmio OFF Flip de Literatura.
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