Um dia após ter sido eleito prefeito de Nova Friburgo para o mandato 2021-2024, o vereador Johnny Maycon visitou a redação de A VOZ DA SERRA e concedeu esta entrevista exclusiva aos nossos leitores.
AVS: Como foi receber a notícia da eleição, a ficha já caiu?
Johnny Maycon: Muito obrigado ao jornal por essa oportunidade. Tivemos nosso coração muito acelerado, sabemos o peso da responsabilidade. Acreditamos que Nova Friburgo tem jeito, justamente por todas as nossas potencialidades, por termos um pessoal muito preparado, especializado. Não precisamos importar pessoas, temos grandes servidores públicos que contribuirão para colocar a cidade no patamar que ela merece.
Temos observado a votação para prefeito caindo muito desde 2008, sinal do vácuo de liderança, de uma fragmentação política muito grande. A cidade carece de referência nesse momento, e a sua eleição foi em grande parte tributária da comunidade evangélica, sendo pastor da Igreja Quadrangular, embora não tenha ficado restrita a ela. O que o senhor pode dizer, inclusive por ser do partido Republicanos, que levanta muitas sobrancelhas, por o associar a figuras como o prefeito do Rio de Janeiro. O que o senhor tem a dizer para quem não lhe deu o voto, para quem não acompanhou seu trabalho na Câmara? Você entende a necessidade de unir a cidade nesse momento, de ser uma referência política, ter apoio popular e tranquilizar quem não votou em você?
Exatamente. Peço que aqueles que não acompanharam o nosso mandato de vereador que façam um estudo, uma pesquisa, porque sempre fomos imparciais. A gente sempre teve um diálogo com diversos segmentos da sociedade. Inclusive, como presidente da comissão especial que reformulou a Lei Orgânica, tivemos dezenas de audiências públicas, inclusive com participação de religiões diferentes, pessoas que têm ideologias diferentes das minhas, porque entendemos que, mais do que nunca, precisamos unir forças com as pessoas de bem. O que a população pode esperar é que a gente vai governar para todos, com um diálogo permanente, com todas as áreas da sociedade. A partir de janeiro de 2021, todos os movimentos sociais e instituições de Nova Friburgo terão as portas do nosso gabinete abertas.
O senhor certamente tem consciência de que vai assumir o mandato num momento extremamente delicado. Existe uma perspectiva de redução de orçamento, de receitas, em grande parte em razão da pandemia. E, paralelamente, em momentos de crise muita gente migra dos serviços privados para os serviços públicos. Muita gente deixa de ter condições de pagar escola particular ou plano de saúde. Ao mesmo tempo, existe um déficit profundo na folha de pagamento do município, grande parte do funcionalismo municipal se encontra à beira da miséria, os quadros de carreira precisam de mais atenção e que seja feita justiça em relação à entrega com que se dedicam à municipalidade. Como o senhor pretende enfrentar esse momento?
Não vai ser nada fácil. Pretendemos, progressivamente ir retomando alguns serviços que hoje são terceirizados. Como exemplo as cozinhas dos hospitais Raul Sertã e Maternidade. Para que as pessoas possam compreender, a Maternidade tem a sua equipe de trabalho e o município paga a esta equipe e a empresa terceirizada. Só em 2020 o município deve gastar em torno de R$ 7 milhões. Quatro milhões no Raul Sertã e outros três com a Maternidade. Reassumindo os serviços vamos economizar alguns milhões. Vamos também fazer uma avaliação minuciosa em vários contratos que são nitidamente suspeitos e gerar economicidade em favor dos cofres públicos. O município vem gastando quase 40% de seu orçamento anual com a Saúde, e infelizmente não temos visto em nosso dia a dia melhorias. Nosso objetivo é gastar cada vez menos com a saúde. Se a Constituição estabelece que é preciso gastar no mínimo 15%, não faz sentido continuar gastando 40%. Havendo uma gestão organizada, planejada, estratégica e com o apoio de pessoas técnicas, vamos conseguir gastar menos com saúde e melhor a prestação desse serviço. Com relação ao servidor público municipal, não há outro caminho para que eles sejam valorizados que não seja “cortar na carne”. É preciso diminuir de forma significativa esse quantitativo exorbitante de cargos comissionados. Estamos sepultando a política do toma lá dá cá. De antemão vamos promover uma reforma administrativa. Vamos convidar a população para conversar, a Câmara de Vereadores, o Ministério Público, a imprensa, e principalmente o servidores. Vamos criar um cronograma com as diversas temáticas, e convidar todas essas pessoas para debater, e principalmente o funcionalismo vai poder apontar o que está dando certo, o que está dando errado. Vão nos dar um diagnóstico para que a gente possa tomar todas as medidas necessárias, e esse diagnóstico vai ser utilizado para que a gente faça essa reforma administrativa.
O senhor falou em fim do toma-lá-dá-cá, e que vereador não vai poder indicar cargos na prefeitura. Estando há quatro anos no Legislativo o senhor sabe que existem chantagistas na Câmara Municipal, e que tem vereador que se perpetua na vida pública justamente em razão dos cargos que consegue emplacar através do tráfico de influência e tudo mais. Fatalmente, portanto, é de se esperar uma reação a isso na Câmara Municipal, e não apenas lá, uma vez que também existem muitos chantagistas na comunicação friburguense, pessoas que gostam de ter dossiê contra governante e de receber pelo silêncio, ou para elogiar uns e difamar outros. O senhor naturalmente se torna alvo de todo esse pessoal. Por outro lado, o senhor provavelmente também irá lidar com fiscalizadores, como você mesmo foi um fiscalizador ao longo deste mandato. O que se pode esperar de sua postura, tanto em relação a estes que irão te atacar como forma de lutar contra o fim deste tipo de política e, por outro lado, o que os fiscalizadores sérios – a imprensa séria, um vereador sério – pode esperar do seu governo em termos de diálogo e de ajudar a encontrar erros, que todo governo fatalmente tem?
Em relação a chantagens, em momento algum iremos ceder. Estaremos frequentemente na Câmara. Vamos olhar olho no olho, prestar contas a toda a sociedade friburguense, vamos sempre respeitar o Poder Legislativo, que vai ser ouvido e vai participar, com as suas atribuições, nesse processo de evoluir as políticas públicas para toda a sociedade. E, sinceramente, se for preciso enfrentar chantagistas na Câmara Municipal, ou nos meios de comunicação e nas redes sociais, assim o faremos. Os fiscalizadores sérios, no entanto, eu quero por perto. Inclusive eu, como vereador, tive e tenho esse perfil de fiscalizador. No mandato de prefeito entendo que eu serei o gestor, eu darei o norte e as diretrizes para as secretarias municipais, mas também atuarei como fiscalizador, porque quero que a coisa funcione, que tudo dê certo. Se for necessário, vai partir do gabinete denúncia de agente público caso haja envolvimento em alguma coisa que comprometa a utilização do recurso público. Foi para isso que eu fui eleito, é isso que aqueles que votaram, e mesmo os que não votaram, esperam de nós. E é o que nós vamos fazer.
Tentativas de associar o seu nome ao do prefeito Marcelo Crivella, entre outros boatos, como, por exemplo, de que no seu plano de governo havia questões relacionadas a educação sexual em escolas. Parece oportuno lhe dar a oportunidade de falar um pouco para a população friburguense sobre esses ataques que já começaram e que vão continuar.
A gente nunca teve qualquer tipo de dificuldade de se relacionar com pessoas que pensam diferente, com pessoas que têm outras ideologias, justamente porque entendemos que o representante da população tem que governar para todos. Eu tenho as minhas opções pessoais, como qualquer cidadão tem, mas nunca influenciarão as minhas decisões. Para dar um exemplo, no início do mandato, em 2017, houve um posicionamento do presidente do meu partido aqui em Friburgo. Ele enviou um documento para a Câmara de Vereadores dizendo que o nosso partido seria base do governo Renato Bravo. Eu e o vereador Marcinho nos posicionamos incisivamente e dissemos que nós não seríamos base. Porque o partido nunca mandou e nunca vai interferir no nosso mandato. Religião, da mesma forma. Tanto assim que, quando eu estou na igreja, nunca falo de política. Pode perguntar a todos que me conhecem e eu tenho uma relação muito próxima com os líderes eclesiásticos aqui do município. Eu sempre separei bem as coisas. Como também no meio político eu nunca falei e nem mencionei religião, então a população pode ficar tranquila, pode ficar despreocupada que o meu compromisso é com a população. Qualquer movimento que a gente tenha aqui na nossa cidade, podem nos contatar, podem nos procurar. Teremos o imenso prazer de olhar olho no olho e discutir políticas públicas na nossa cidade. Tivemos uma audiência pública com a comunidade LGBT, enquanto discutíamos a formação da Lei Orgânica Municipal, e eu sugeri à época para que tivéssemos essa audiência pública para discutirmos com todos os grupos que pertencem ao município. Eles têm que ser respeitados, têm que ser valorizados, têm que se dignificados e têm, por obrigação constitucional, de receber um serviço público de qualidade. E é esse compromisso que eu assumo com todos que moram em nossa cidade. Infelizmente temos muitas pessoas que se utilizam de fake news. Na verdade o tempo que vai revelar que de fato o que nós falamos aqui é a pura verdade.
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