Salve os 114 de Luiz Otávio!
A trova tomou-me inteiro,
tão amada e repetida,
que agora traça o roteiro
das horas da minha vida!
Luiz Otávio
A Casa da Bahia ( do Rio de Janeiro), em 1958, organizou um concurso de trovas. J.G. de Araújo Jorge classificou-se em 1º lugar e Luiz Otávio em 2º. Sem que um soubesse da participação do outro, pois os concorrentes usavam pseudônimos, para surpresa de ambos, acabaram viajando juntos.
No álbum, organizado por Luiz Otávio, assim relata o próprio Luiz Otávio:
“No navio, o tema de nossas conversas tinha que ser, forçosamente, Friburgo. A imagem de suas montanhas, de suas manhãs de céu azul, de suas flores, estava sempre em nossos olhos. Propus ao J.G.: vamos fazer um concurso de trovas para Friburgo. Poderíamos dar o nome de Jogos Florais. A aceitação foi imediata. Ele anteviu o grande interesse que o certame poderia despertar e a sua importância cultural e turística. Assim, esquematizando, escrevi:
Viagem à Bahia + trovas + Friburgo = Jogos Florais
Luiz Otávio – Dezembro de 1958”
Do primeiro pensamento de Luiz Otávio ao trabalho...
Para que a primeira festa de Jogos Florais acontecesse em 1960, os dois apaixonados por Nova Friburgo trabalharam intensamente durante o ano de 1959 e não mediram esforços para que o evento criasse raízes em solo friburguense. O Berço dos Jogos Florais acordava do sonho para a realidade que há seis décadas cultuamos. Com base nos relatos de Luiz Otávio, os Jogos Florais emergiram em Nova Friburgo com o abraço inicial de “Quatro As”:
A VOZ DA SERRA (Com o A de Américo Ventura)
Academia Friburguense de Letras
Associação Comercial Agrícola e Industrial de Nova Friburgo
Associação Friburguense de Imprensa
Esses “Quatro As” estão no primeiro cronograma, datado de 22 de fevereiro de 1959, onde Luiz Otávio começava a delinear as primeiras pautas para a execução do sonho que, mais tarde, traria para Nova Friburgo, por Lei Municipal, o título de “Cidade da Trova”.
Assim, consideramos, para este ano de 2020, o ano em que completamos 61 anos de jogos, que os “festejos” aconteçam neste Caderno Z, na certeza de que o nosso Legado é de um brilhantismo inegável e de uma responsabilidade que nos desafia a cada dia, mais e mais.
Nesse turbilhão de transformações, onde tudo muda a cada instante, nossa trova se engalana para receber os leitores. Estamos em traje de gala, vestindo o orgulho de tanto prestígio em A VOZ DA SERRA, porém com a humildade de Rodolpho Abbud. Sua memória, seu exemplo de companheirismo, seu poder de conciliação e de encantamento com os Jogos Florais são os pilares que nos alicerçam para a condução do elevado trabalho que nos foi confiado.
A Festa de Maio que não aconteceu... 2020 - O ano das imprevisões...
(Não podemos negar o drama do cancelamento da festa de 2020. Estamos vivendo um acontecimento perturbador, de âmbito mundial, e é inevitável, e seria injusto, não tocarmos no assunto, pois a pandemia do coronavírus desarticulou os nossos planos e engavetou os sonhos que sonhamos para os LXI Jogos Florais de Nova Friburgo.
A humanidade, de uma forma ou de outra, está afetada. Há um mar de incertezas e, diante de tudo o que temos visto e sentido, não haveria como realizar os festejos de maio. Assim, sem qualquer previsão de uma festa ainda para 2020, nossa celebração no Caderno Z, festejando o Dia do Trovador, é um grande reconhecimento para a Cidade da Trova.
Como eu gosto de dizer, o sonho que não se realiza pode sempre ser sonhado. E o sonho é uma embarcação que nos permite ir adiante!
Vestimos traje de gala
aqui no Caderno Z...
Nossa Voz, que ao mundo fala,
é uma voz para a UBT!
Elisabeth Souza Cruz
Peregrinação à Maca dos Trovadores
Em maio de 1998 quando fui aos Jogos Florais de Nova Friburgo pela primeira vez, eu tinha 21 anos. Ainda me lembro de como me senti tomado de uma estranha felicidade que até hoje me visita uma vez por ano. Confesso que não sei explicar: apenas sei que é uma sensação única, que não tenho em nenhum outro lugar.
Quando chega janeiro, fico ansioso pelo último final de semana do mês de maio, quando, entre sexta-feira e domingo, é como se tudo parasse para eu me sentir feliz durante três dias.
Friburgo é meu lugar preferido, uma espécie de céu particular para onde tenho que peregrinar todos os anos. Aliás, o verbo “peregrinar” me faz lembrar do Islã: todo muçulmano precisa peregrinar a Meca pelo menos uma vez na vida. Nova Friburgo é a Meca da Trova: trovadores do Brasil inteiro e do exterior participam regularmente dos Jogos Florais com os corações ao alto...
Alguns precisam realizar essa peregrinação, independentemente de serem premiados ou não, e Nova Friburgo acolhe a todos esses trovadores-peregrinos. Sou um desses... Minha necessidade espiritual me impele a subir a serra anualmente. 2020 começou com meu entusiasmo de sempre, mas por causa da pandemia e do cancelamento (inédito) dos festejos dos Jogos Florais, não pude fazer minha peregrinação anual e abraçar meus amigos...
Mas que Nova Friburgo me aguarde: quando tudo melhorar (e vai melhorar), o peregrino subirá a serra novamente até o último ano de vida.
Pedro Melo, São Paulo
Friburgando...
Há poucos anos, um grande amigo trovador me confessou que tinha viajado para Nova Friburgo, e participado dos Jogos Florais, sem que a esposa soubesse (ela achava que ele estava num congresso). Ponderei que era melhor dizer a verdade, para evitar mal entendido, o que ele fez. Ela, claro, perdoou o apaixonado trovador. Apaixonado por Nova Friburgo, claro! Em seguida ao ocorrido, escrevi a seguinte trova, em homenagem ao “causo”:
Mês de maio... e o trovador
some. E, a mulher, enciumada,
descobre que o seu Amor
foi dar... uma friburgada!
Pois bem, sem que percebesse, a partir do substantivo “friburgada”, eu criara um verbo: friburgar. Friburgada, então, é o ato de friburgar. Na música “Sina”, de Djavan, ocorreu, também, a criação de um verbo, o verbo “caetanear”, que segundo Djavan é “o ato de compor feito Caetano”. Esses verbos, que surgem a partir de substantivos, adjetivos e nomes próprios têm um nome: são os verbos denominais.
E já que Djavan explicou o que é caetanear, eu explico o que é Friburgar, ao estilo dos dicionaristas:
Friburgar (v). Estar em Nova Friburgo; participar dos Jogos Florais; rever amigos em Friburgo; ter Nova Friburgo no coração; amar Nova Friburgo.
Friburgo, cartão postal,
terra de muitos valores,
tornou-se a Terra Natal
de todos os trovadores!
Sérgio Ferreira da Silva - São Paulo/SP
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