Ao que parece, a pandemia deve deixar marcas duradouras em estabelecimentos de bairros. O comportamento dos friburguenses com relação ao consumo local vem ditando um novo ritmo econômico de aquecimento a lojas menores, como os mercadinhos de bairro. Apesar do preço um pouco mais elevado do que as grandes redes, os estabelecimentos bairristas costumam oferecer mais comodidade e praticidade, além de, em tempos de coronavírus, mais segurança.
Luanda Abicalil, moradora do Jardim Califórnia, no distrito de Conselheiro Paulino, trocou os grandes mercados e farmácias pelo comércio local. Segundo ela, mesmo com um preço um pouco mais elevado, vale a pena não frequentar locais mais movimentados. Da mesma forma pensa Hiago Antônio, que mora em Olaria e tem priorizado pequenos mercados do bairro ou mesmo comprar no Cônego e Cascatinha, bairros mais próximos. “Tenho buscado usar pouco os mercados por conta das aglomerações. Os mercadinhos e açougues costumam ter um preço mais alto, mas têm a comodidade de não enfrentar filas e também ajudar a roda da economia a continuar girando.”, explicou.
Nas últimas semanas, o Procon tem inspecionado mercearias e mercadinhos de bairros a fim de verificar a prática de preços abusivos. Nas últimas investidas, estabelecimentos nos bairros Duas Pedras, Chácara do Paraíso, Jardim Ouro Preto, Olaria, Cônego, Cascatinha Nova Suíça, entre outros, receberam fiscais do órgão e alguns foram notificados.
O coordenador do Procon no município, o advogado Alexsandro Gabetta, diz que durante as incursões do órgão de defesa do consumidor é recorrente encontrar preços altos nos mesmos produtos, como alho, pêra, arroz, feijão, cebola, leite em caixinha e tomate, por exemplo. “Os mercados notificados receberam um prazo de dez dias úteis para apresentar as notas fiscais referentes aos últimos 30 dias de compra. Vamos compilar esses dados para comparar se o preço de venda ao consumidor condiz com o preço de compra do fornecedor primário. Se for constatado que este último é quem está com o valor elevado dos produtos, serão cobradas explicações dele e não do mercado em si. Por outro lado, caso seja detectado que o preço do mercado é que, de fato, está alto, iremos autuá-lo imediatamente”, disse.
Moradora do bairro Braunes, Maiara Braga Porto, diz que tem procurado um equilíbrio. Segundo ela, mesmo sem ter uma grande diversidade de produtos e marcas, ainda vale a pena o consumo local em nome da segurança sanitária. Dá para sobreviver, e sai mais barato do que ir aos grandes mercados. Tem menos filas e mais comodismo”, conta.
Para Ítalo Schumacker, que mora em Olaria, a pandemia não mudou muito seu comportamento de compra. Antes mesmo ele já priorizava o comércio do bairro. Soma-se a essa atitude, o fato de querer ajudar o pequeno comércio. “Eu tinha o costume de comprar mesmo antes da pandemia, por ser mais perto de casa. Mas agora venho comprando mais, além de fortalecer o comércio, fico menos tempo na rua me expondo ao vírus”, revela o consumidor.
Pesquisa mostra a força dos mercadinhos
Um levantamento recente do Instituto Fecomércio de Pesquisas e Análises (IFec RJ), da Federação do Comércio de Bens, Serviços e Turismo do Estado do Rio, realizado com 652 fluminenses durante a quarentena, mostra que 81,9% dos consumidores priorizaram os mercadinhos na hora das compras de alimentos e itens básicos de limpeza e higiente. A pesquisa também mostra que, ao final do distanciamento social, daqueles que optaram por comprar desse tipo de estabelecimento, cerca de 82,2% pretendem continuar prestigiando o negócio de menor porte do seu bairro.
“A pandemia obrigou os consumidores a olharem para os estabelecimentos comerciais do seu bairro, uma vez que o isolamento fez com que permanecêssemos por mais tempo em casa. Desta forma, passamos a consumir em estabelecimento em que não consumíamos antes”, destaca João Gomes, diretor do IFec-RJ.
O estudo também questionou os consumidores do Estado do Rio sobre a sua percepção em relação às despesas pessoais fixas e de lazer, num comparativo entre os meses de maio e junho. Para 52,6% os gastos vão aumentar, outros 31% acreditam que vai permanecer igual e por fim, 16,4% creem que deve diminuir.
Os fluminenses também sinalizaram na pesquisa as maiores despesas de junho em relação a maio, começando por: alimentos e bebidas (79,6%); energia elétrica, gás e água (56,8%); produtos de higiene pessoal (50,5%); produtos de limpeza (50,5%); produtos farmacêuticos (46,2%); internet de celular (19,3%); e produtos eletrônicos (10,6%).
Compras pela internet
A experiência de compra no mundo virtual já é uma realidade para 81,8% dos consumidores do Estado do Rio. Dentre os fluminenses pesquisados, 11,3% passaram a fazer compras pela internet por causa do isolamento social. Ainda sobre o comportamento do consumidor, para 22,6% há a percepção de que suas compras on-line aumentaram durante a quarentena, para outros 22,1% se mantiveram no mesmo nível e, 25,8% observaram uma redução.
Entre os fluminenses que fizeram compras pela internet a partir da quarentena, 45,5% enfrentaram algum tipo de problema. Os principais foram: pagar pelo frete normal e a mercadoria chegar fora do prazo (17,1%); pagar pelo frete expresso e a mercadoria chegar fora do prazo (9%); não precisou pagar pelo frete e a mercadoria chegou fora do prazo (4,6%), produto entregue com defeito (1,7%) e outros problemas (13%), dentre os quais a mercadoria não ter chegado. Mesmo sendo visível a necessidade de uma melhor logística de entrega dos produtos, aproximadamente 54,5% dos pesquisados informou não ter enfrentado problemas com a compra realizada no mundo virtual.
Para os que fizeram compras pela internet a partir do isolamento, o ranking de produtos é bem variado: eletrônicos, celulares, computadores etc. (28,4%); alimentos e bebidas (27%); artigos de farmácia e médicos (24%); vestuários e calçados para adultos (22,3%); produtos de saúde e beleza (20,8%); vestuários e calçados infantis (19,6%); eletrodomésticos (18,8%); livros e e-books (17%); artigos de uso pessoal – bolsa, óculos etc (13,8%); móveis (11,1%); artigos de papelaria (8,2%); brinquedos (7,6%) e materiais de construção (3,5%).
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