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Tratado da felicidade
Wanderson Nogueira
Palavreando
Aos sábados, no Caderno Z, o jornalista Wanderson Nogueira explora a sua verve literária na coluna "Palavreando", onde fala de sentimentos e analisa o espírito e o comportamento humano.
O que é felicidade? Como alcançá-la? Não. Não espere das próximas linhas — respostas. São despretensiosas, como a própria felicidade. Seria a felicidade despojada?
A filosofia, a teologia, a ciência, a literatura tentam desde sempre abordar o tema sem fechá-lo. Fato é que todos nós queremos ser felizes, ao ponto de que a felicidade seja o objetivo da vida. Existimos, persistimos e até teimamos. E é válida essa insistência, tanto quanto justa. Justo é ter uma vida plena e não há plenitude sem felicidade.
Se é estado de espírito, que seja. Se é coleção de momentos, que seja. Se é imaginação, que se realize. Só quem pode definir felicidade, somos nós mesmos, com a gente mesmo. Ainda que existam conceitos, estudos biológicos e até quânticos, dogmas e drogas, cada um tem um jeito para chamar de seu. Minha felicidade. Sua felicidade. Nossa felicidade.
Ainda que singular, difícil ser feliz sozinho. Não é preciso morrer para descobrir que “felicidade só existe se for compartilhada”.
Dirão: “felicidade não é querer ter tudo, é não precisar de nada”. Talvez. Percepção. Às vezes, se é feliz e nem se sabe, e, a nostalgia é quem traz o sentimento de felicidade vivida, mas nem sempre apreciada enquanto presente. Relembrar é trazer para perto e compreender que a saudade flutua entre os altos e baixos de se atrever. A vida é um atrevimento, quase sempre divertido.
Se a paixão é perigosa, corra o risco. Se apaixone por pessoas, por sonhos, por projetos. Se aventure. Se engaje em lutas coletivas. Se meta a pertencer. Felicidade também é o que nos dá sentido de existir. E haverá saborosos enganos, mas até se confirmar como tal, terá sido feliz a entrega. Riremos de tudo ao final.
Faça o seu próprio tratado da felicidade. Sugiro apenas uma cláusula: é regra ser feliz, tanto quanto se revogam todas as regras. As amarras que nos impõem não são dos nossos tempos. Livre pra poder voar. Liberdade!
Não precisa ir tão longe para enumerar tantas atrocidades cometidas “por mandado” de Deus. E os homens, em nome do bem, seguem a fazer tanto mal. Coitado de Deus, marionete de púlpitos. Respeito aos que foram assassinados por resistirem. Suas memórias cintilam como sinal de que foram eles e poderiam ser nós. Até Jesus foi crucificado. E seria de novo! Até quando?
Ainda há muita luta pelo direito de ser feliz, mas a luta por si só nos concede certa felicidade. Herdaremos o céu, sem acreditar em promessas. Eles não, ainda que prometam o que não lhes cabe. Que Deus os perdoe. Que nos perdoemos por todas as vezes que nos negamos a busca pela felicidade e a contemplação da mesma.
Que a felicidade seja a guia e guiados pela felicidade cumpramos o tratado que pactuamos com a gente mesmo.
O que é felicidade? Como alcançá-la? Sagrada é a sua resposta, sua forma de viver isso, tanto quanto é a de cada um. Que sua felicidade lhe proteja e lhe conceda muitos dias de paz divertida.
Wanderson Nogueira
Palavreando
Aos sábados, no Caderno Z, o jornalista Wanderson Nogueira explora a sua verve literária na coluna "Palavreando", onde fala de sentimentos e analisa o espírito e o comportamento humano.
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