Tempo de despertar

Wanderson Nogueira

Palavreando

Aos sábados, no Caderno Z, o jornalista Wanderson Nogueira explora a sua verve literária na coluna "Palavreando", onde fala de sentimentos e analisa o espírito e o comportamento humano.

sábado, 23 de setembro de 2023

A brisa leve traz novidades. Sussurra aos ouvidos atentos que tempos bons vêm. Há maior querência aos despertos. A atmosfera vibrante é chamado provocante. A melhor das coerências é ser feliz. 

Se dizem não, o mundo faz que sim. Sim! É pleno o campo da criatividade e por ele passeiam memórias e afetividades. Nascem flores multicoloridas e até brotam estrelas. Berço esplêndido para os sonhos que recusam classificações de ingênuos demais ou sagazes de menos. Os sonhos, todo e qualquer sonho, merecem respeito.

Reverência ao que vem. Fé no futuro com pé no presente. Uiva o vento e abraça quem dele faz vestimenta. Quando assobia o vento ao pé do ouvido, escapole da alma a timidez e com ela fora de nós, de repente se é livre. Para ser quem se é. E os que não se desapontam, você pode chamar de amigo.    

Trovadores versam sobre esse clima de festa, sobre essa sincronia com a natureza em que não há invadido ou invasor. Tudo como um só grande ser. Uns chamam de energia, outros de Deus. Mistério sem pretensão de desvende, sem ambição de ser segredo. Talvez, a intenção desse tempo seja apenas ser trova enredada em poesia. Será que os poetas sabem mais que os filósofos? Não. Poemas não são vãs filosofias. 

Tempo de colher. Tempo de despertar. Se tenho medo? Perguntam-me. Tenho medo, mas não tenho escolha — respondo a mim mesmo. E você? 

Aberto, livre, disposto. Seja arranha-céu. Abandono aos penduricalhos e nos braços priorize buquês de flores. A estação vindoura espalha vivacidade e não pede continência. Harmonia. Prazer em ser. Que honra é viver. 

Navega como barquinho à vela pelos oceanos. Não precisa mergulhar em águas profundas para saber do mar. Mas para amar é necessária certa profundidade. O amor não é raso e bom saber que também não é raridade, ainda que cada um seja um tanto exclusivo.                     

E nenhuma estação é como a outra. Nem mesmo as que se repetem a cada dezembro, março, junho e setembro. Se as estações são diferentes, igualmente nós não somos as mesmas pessoas do outono passado.

O eu que já não gostou do Horário de Verão, hoje tem saudade e pede seu retorno em outubro. Sem arrependimentos, precisamos admitir que o que experimentamos nos transforma. Vigora, pois, a essência. Temos o nosso próprio perfume, cuja fragrância é inimitável.        

Esse cheiro de terra molhada. Esse sabor rotulado de novo é mesmo novo. Tem gosto de fruta caída. Desperta. São as cores da temporada das flores. O sol de ouro que traz alvoroço diz que a espera pela primavera acabou. 

Se Francisco, El Hombre dança com o trovão, só flutuando é que se pode florescer. Se a estação traz sentido para dizer “te amo”, a boa nova que anda nos campos traz certeza de que este tempo desperta muito mais do que canções de primavera.


 

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