O aeroporto Santos Dumont vai encolher

Max Wolosker

Max Wolosker

Economia, saúde, política, turismo, cultura, futebol. Essa é a miscelânea da coluna semanal de Max Wolosker, médico e jornalista, sobre tudo e sobre todos, doa a quem doer.

quarta-feira, 06 de setembro de 2023

Chegamos de Brasília na última quinta-feira, 31 de agosto, e ainda desembarcamos no Aeroporto Santos Dumont, para mim o mais charmoso do Rio e, talvez, do Brasil. Afinal, não é fácil não se deslumbrar ao nos depararmos de um lado com o Pão de Açucar, em frente a Baía da Guanabara e do outro lado a Ponte Rio-Niterói. É um cartão de visitas digno de nota e que não tem igual em nenhum outro lugar do mundo. Conheço-o desde que nasci, pois fui criado no bairro da Urca até 1957 e minha primeira viagem aos seis meses de idade, para São Paulo para conhecer meus avós paternos, foi de avião partindo do aeroporto do centro da cidade do Rio de Janeiro.

O Santos Dumont foi inaugurado em 30 de novembro de 1936, com uma pista de pousos e decolagens de 700 metros de comprimento. No mês anterior à inauguração, Getúlio Vargas, então presidente do Brasil, publicou um decreto dando o nome do aeronauta Santos Dumont ao aeroporto, considerando a relevância deste brasileiro na história da aviação.

Em fins de 1957 mudei-me para a Ilha do Governador e conheci o Velho Galeão, inaugurado oficialmente em 1º de fevereiro de 1952. Os antigos hidroaviões de companhias como a Pan American e a Condor estavam sendo substituídos nas rotas internacionais por aviões maiores, dotados de rodas, que precisavam de pistas maiores, em terra, para pouso e decolagem. Com isso, em 1945, o Aeroporto do Galeão recebeu oficialmente a categoria de “internacional”, com o objetivo de atender os novos aviões. Os antigos Sikorsky ou Junkers J-52, entre outros, cederam lugar aos Douglas DC-3 e DC–4 e L-1049 Constelations da Lockheed. A pista, maior, propiciava mais segurança nas operações de pouso e decolagens, para aviões maiores.

O atual Tom Jobim/Galeão foi o mais importante do país até 2015. Dele partiam a maioria dos voos internacionais. A partir daí seu movimento começou a declinar e hoje ele é, apenas, o quinto em importância no país, perdendo espaço para o de Guarulhos, Congonhas, Brasília e Belo Horizonte. Aliás, hoje, o aeroporto Governador André Franco Montoro (Guarulhos) é o mais movimentado do Brasil, principal porta de entrada dos turistas no país.

O porquê da perda de popularidade e de movimento do Galeão /Tom Jobim não é o escopo desse artigo, pois os motivos são vários. No entanto, é triste constatar que dos 13,5 milhões de embarques e desembarques computados em 2019, somente 5,8 milhões de passageiros passara por lá no ano passado, uma queda de 56%. Dado os investimentos que já foram feitos, com a inauguração do terminal 1, em 1977 e do terminal 2, para a Copa do Mundo de 2014 e as Olimpíadas, em 2016, é inadmissível esse ostracismo.

Numa iniciativa da Prefeitura do Rio de Janeiro, dos governos do Estado do Rio de Janeiro e Federal, resolveu-se um tratamento de urgência para reviver o aeroporto internacional do Rio e tentar realoca-lo na importância que sempre teve. Assim, restringiram a distância dos voos do Santos Dumont para até 400 quilômetros, o que impossibilita destinos além de São Paulo. Está em estudo a manutenção dos voos para Brasília, pois é a capital federal; com isso, o aeroporto do centro do Rio retrocederia “trocentos anos” e voltaria a ser exclusivo da rota Rio-São Paulo.

Não se perguntou ao passageiro, maior interessado e mantenedor principal das companhias aéreas, a opinião deles e o seu grau de satisfação com essas drásticas mudanças. Afinal, a Ilha do Governador dista 20 quilômetros do centro do Rio, seu acesso passa por um dos mais conturbados trajetos da Cidade Maravilhosa, as linhas expressas Vermelha e Amarela, com congestionamentos diários na hora do rush e com tiroteios frequentes, pois às margens delas ali se encontra um dos maiores complexos de favelas da capital fluminense. Uma das soluções do Governo do Estado é construir um muro bem alto separando as pistas de rolamento das habitações, minimizando o perigo dos disparos de armas de grosso calibre. Seria como aquela história do marido que encontra a esposa com o amante, no sofá de sua casa e como providência, manda tirar o sofá da sala.

Mas, será que o Santos Dumont vais mesmo encolher? Com a criatividade do carioca, alguma saída há de ser encontrada para manter o charme do aeroporto mais antigo da cidade do Rio de Janeiro. Esse encolhimento tem data, seria a partir de janeiro de 2024.

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