A cerejeira do Japão, um colírio para os olhos

Max Wolosker

Max Wolosker

Economia, saúde, política, turismo, cultura, futebol. Essa é a miscelânea da coluna semanal de Max Wolosker, médico e jornalista, sobre tudo e sobre todos, doa a quem doer.

terça-feira, 25 de julho de 2023

Elas só florescem uma vez ao ano e a floração dura cerca de sete dias. Suas folhas desaparecem com a chegada do outono. Os galhos nus enfrentam o inverno para desabrochar em flor na estação seguinte, entre março e abril.

 Estamos falando da sakura, mais conhecida como cerejeira, a flor nacional do Japão, símbolo de felicidade: é na época de sua floração que as crianças iniciam o ano escolar, que os recém formados saem em busca de trabalho; além disso, o chá de pétalas de sakura é utilizado em rituais como casamentos e ocasiões festivas.

No Brasil, poucas variedades de cerejeira puderam se desenvolver devido às variações climáticas; no entanto, a partir dos anos 80, após várias tentativas algumas espécies conseguiram se adaptar ao nosso clima, as mudas passaram a ser vendidas e seu plantio se espalhou por diversos estados. A variedade de sakura que mais se adaptou foi a “okinawa sakura” (cerejeira de Okinawa, ilha que tem as mesmas características climáticas do Brasil). Em muitas cidades e núcleos nipo-brasileiros, foram plantadas grandes quantidades desta árvore e na época da sua floração, no período que vai de julho a setembro, temos um visual de encher os olhos. Em geral, nesses locais têm sido organizados festivais japoneses.

Em Nova Friburgo, a presença japonesa é marcada pela chegada do engenheiro agrônomo Tohoro Kassuga, nascido em 1892, na cidade de Shiga-Ken, hoje Kusatsu. Em 1908 ele imigrou para o Brasil, onde desembarcou no porto de Santos. Não fixou residência no Estado de São Paulo, reduto dos japoneses na época, pois seguiu viagem até o Rio de Janeiro, onde se radicou na área rural de Friburgo. Foi ali que se dedicou ao plantio do caqui, fruta até então desconhecida na região e, provavelmente, é com ele também que começa a história da cerejeira, no município. Aos poucos o número de mudas se multiplicou a ponto de ser considerada hoje, a árvore símbolo da cidade.

Conhecido como “Hanami” (ver as flores), foi realizada, nos últimos dias 15 e 16 a festa da colônia japonesa na Associação Cultural e Esportiva Nipo Brasileira de Nova Friburgo (Acenbnf) que fica na estrada RJ-130, a Teresópolis-Friburgo, antes da entrada para o bairro Cardinot. Antes a festa do Hanami era celebrada no Sítio Florândia da Serra, da família Matsuoka; a mudança do local foi feita para facilitar o acesso ao evento e migrar essa celebração para esse espaço que pertence à colônia japonesa. A expectativa é que, em poucos anos, o local seja um verdadeiro corredor de sakuras (cerejeiras).

 No Japão, essa festa é realizada ao ar livre, em baixo das árvores, justamente na época em que todas estão floridas. No atual espaço ainda vai demorar um pouco para que as cerejeiras ali plantadas estejam frondosas e floridas, no entanto isso não tirou a beleza da festa, onde foram servidas comidas típicas. Teve ainda apresentação de danças folclóricas e mostrada um pouco da arte manual japonesa.

Chamou atenção também, uma árvore onde as pessoas colocam pedaços de papel coloridos em seus galhos, amarrados com barbante e que neles contém os pedidos mais variados. É conhecida como Tanabata Matsuri, a árvore dos desejos. É inspirada em uma lenda com cerca de dois mil anos que conta a história de uma princesa (Orihime) e de um pastor (Hikoboshi). Os dois, perdidamente apaixonados deixaram de lado seus afazeres diários e foram transformados, pelo pai da princesa furioso com o descaso de ambos, em duas estrelas colocadas em extremidades opostas da via láctea.

Diante das súplicas de Orihime para estar junto de seu amado, ele permitiu que os dois apaixonados se encontrassem uma vez por ano. Agradecidos a essa dádiva, passaram a atender aos pedidos dos mortais, na Terra.

É nessa época que Nova Friburgo mostra toda sua beleza natural. As cerejeiras florescem no inverno e em todos os bairros encontramos “hanamis” mostrando a exuberância de sua floração. É a compensação visual para o frio que castiga e nos obriga a tirar mais e mais casacos do armário.

Com a realização do Festival Sesc de Inverno, friburguenses e turistas têm a oportunidade de conhecer uma das mais bonitas cerejeiras de Friburgo, pois ela está situada nos jardins do Country Clube, onde acontecem várias apresentações do evento. Ela é um verdadeiro colírio para os olhos.

Publicidade
TAGS:

Max Wolosker

Max Wolosker

Economia, saúde, política, turismo, cultura, futebol. Essa é a miscelânea da coluna semanal de Max Wolosker, médico e jornalista, sobre tudo e sobre todos, doa a quem doer.

A Direção do Jornal A Voz da Serra não é solidária, não se responsabiliza e nem endossa os conceitos e opiniões emitidas por seus colunistas em seções ou artigos assinados.