Fênix – renascer das cinzas

A Voz da Diocese

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Buscando trazer uma palavra de paz e evangelização para a população de Nova Friburgo.

terça-feira, 25 de junho de 2024

Quando as trevas parecem prevalecer, brilha a Luz de Cristo, tesouro valiosíssimo transportado no vaso de argila da nossa pobre e medíocre natureza.  Ele como o sol nos toca misteriosamente com sua força suave, nos fortalecendo e fazendo renascer as fibras morrentes de nossa humanidade ressequida. Uma poderosa chama que interiormente nos sustenta: esperança.

A esperança, uma virtude sobrenatural, teologal, repleta do Esperado, luminosa graça de resiliência amorosa que fez o apóstolo Paulo exclamar: "Tudo posso n'Aquele que me fortalece" ( Filipenses 4,13). O vaso de barro não é a última palavra, de onde vem a desesperança, a desconfiança, a fragilidade e sensação de impotência, a angústia ou desistência covarde e omissa, a insensibilidade ou indiferença. 

Não. A última palavra é do conteúdo, do Poder extraordinário que traz vida à natureza humana cercada de morte, de fora e de dentro. De fora, das opressões, perseguições, injustiças, tentações, destruições e degradações, da lógica da exclusão do mundo. De dentro, da desumanização provocada pela desfiguração do pecado, corrupção e desgaste interior. Mas do Espírito que vem em socorro de nossas fraquezas vem a fortaleza, a unção, a iluminação da Sabedoria Superior, a Vida maior que eleva e renova todas as coisas.

E o apóstolo pergunta com total segurança: "Se Deus é por nós, quem será contra nós?"... "O que nos separará do Amor de Deus?. "A tribulação ou a angústia, a perseguição ou a fome, a nudez, o perigo, a espada?... E o próprio apóstolo responde: "Mas em todas estas coisas somos mais que vencedores por aquele que nos amou. Porque estou certo de que nem a morte, nem a vida, nem os anjos, nem os principados, nem as potestades, nem o presente, nem o porvir, nem a altura, nem a profundidade, nem alguma outra criatura nos poderá separar do Amor de Deus que está em Cristo Jesus nosso Senhor" (Romanos 8,31-39).

O mesmo Mestre das nações, na experiência forte de sua conversão afirma: "Por isso, por amor a Cristo, regozijo-me nas fraquezas, nos insultos, nas necessidades, nas perseguições, nas angústias. Pois quando sou fraco, então é que sou forte" (2 Coríntios 12,10). Por que diz isso o grande apóstolo? Porque ele sabe por certeza mística que quando nós nos enchemos de nós mesmos pelas vaidades dos sucessos, do êxito, das conquistas de nossas capacidades, fechamos o espaço para a ação de Deus. Aí fala e age o homem orgulhoso que quase se sente um deus, desprezando a graça e a vontade de Deus.

Já quando nos sentimos fracos e assumimos a nossa fraqueza humildemente, diante das dificuldades e obstáculos, sofrimentos ou oposições, nos entregamos confiantes ao Poder transformador de Deus. Aí Deus fala e age, fortalecendo a nossa frágil e vacilante estrutura, nos enriquecendo com a sua Luz de infinita Sabedoria, na resistência invencível de sua misericordiosa graça. Damos abertura para o Senhor da obra missionária realizar o que é o Seu plano e não insistimos nos nossos projetos pessoais, tantas vezes desencontrados dos desígnios do Salvador e que se desgastam por si mesmos.

Sem Deus, sem estarmos totalmente entregues e enxertados à Videira que é Cristo (cf João 15), não vamos muito longe, nosso gás acaba, nossas forças se extinguem, nossas boas intenções de descoloram e talvez se esgotem com a não correspondência ou as rejeições. Os ramos, se desligados do Senhor, por mais bonitos, viçosos, com belos frutos e flores, em pouco tempo secam, se desencantam, fenecem, perdem a cor e o sabor. Faltarão, com certeza, o frescor, o perfume suave e forte da graça divina, a unção da Vida que brota do Coração Sagrado de Jesus, fonte inesgotável de vigor, amor e alegria, o regozijo de que nos fala São Paulo. Ele é a seiva que nos alimenta, nutre a nossa perseverança, na certeza da fé na vitória do Cristo Ressuscitado.

"Se morremos com Cristo, temos fé que com Ele viveremos" (Romanos 6,8). Morrer para o homem velho do pecado, da maldade, do egoísmo e renascer para o homem novo da graça, da luz, do amor ao próximo, com o amor de Deus (cf Efésios 4,22-24).

Um mito grego cantado pelo poeta Hesíodo, de raízes egípcias como afirma o historiador Heródoto, nos fala de uma ave, a Fênix, que quando velha e cansada ateia fogo sobre o seu próprio ninho e renasce de suas próprias cinzas. Os padres da Igreja, primeiros escritores cristãos, como S. Clemente Romano, Tertuliano e Lactâncio, aproveitaram a sua rica simbologia, associando-a à ideia da imortalidade, no prenúncio da paixão, da Ressurreição de Cristo e do renascimento espiritual, fundamento da mística cristã, os cristãos configurados em Cristo, numa vida nova que jorra para a eternidade, como se apresenta, especialmente, no Novo Testamento: "Eu sou a Ressurreição e a vida; quem crê em mim, ainda que esteja morto viverá; e quem vive e crê em mim, jamais morrerá" (João 11,25-26).

E como podemos ver em mais alguns textos paulinos: "Pelo que, se alguém está em Cristo, nova criatura é; as coisas velhas já passaram; eis que tudo se fez novo!" (2 Coríntios 5,17); Fomos, pois, sepultados com ele na morte pelo batismo; para que como Cristo foi ressuscitado dentre os mortos pela glória do Pai, assim também nós andemos em novidade de vida" (Romanos 6,4-14). Isto ficou gravado na iconografia cristã primeva - a fênix renascida , símbolo do Cristo Ressuscitado e de sua vida nova.

Uma boa inspiração que nos pode recordar esta nossa missão de sempre recomeçar na fé em Cristo, no enfrentamento de todos os desgastes, de nos entregarmos totalmente confiantes nas mãos do Senhor, renascendo do fogo do seu amor, nos renovando a cada dia, transformando as cinzas dos nossos pecados, limites e fraquezas em uma ave altaneira e forte, chamada ao voo maior da graça, do horizonte de Deus, na elevação da vida dos irmãos. 

 

Padre Luiz Cláudio Azevedo de Mendonça é assessor eclesiástico diocesano da Comunicação Institucional

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