“Está tudo muito caro!”

Gabriel Alves

Educação Financeira

Especialista em finanças e sócio de um escritório de investimentos, Gabriel escreve sobre economia, finanças e mercados. Neste espaço, o objetivo é ampliar a divulgação de informações e conhecimentos fundamentais para a nossa formação cidadã.

sexta-feira, 20 de maio de 2022

Já não é de hoje, esta é uma realidade corriqueira nos mercados de bairro ou em qualquer conversa sã sobre o preço do custo de vida; principalmente quando relacionado a alimentação. No Estado do Rio de Janeiro, o preço da cesta básica calculado pelo Dieese já é de R$ 768,42 e isso representa um aumento de 41% na comparação com os dados de 2020. A nível nacional, o IBGE mediu 2,06% de inflação para alimentação e bebidas no último mês de abril; a maior alta para o período de toda a cesta de produtos que compõem o IPCA. Infelizmente, não é nenhuma novidade, mas comer é – historicamente – uma das atividades mais inflacionárias do nosso cotidiano.

Eu sei, de fato, temos conversado muito sobre inflação. As últimas duas semanas tangenciaram o assunto e, antes disso, muito também já foi abordado sobre o tema. Contudo, é inevitável falar de inflação quando o assunto é abordar a realidade cruel de guerra no leste europeu. Claro, é cruel para todos nós, mas inimaginável o cotidiano dos cidadãos que vivenciam tanta incerteza e desespero. É o estopim do que pode, a qualquer momento (se é que ainda não se tornou), se tornar uma guerra mundial.

Trigo, gás natural, petróleo, carvão… Rússia e Ucrânia são países altamente competitivos a nível global quando o assunto é produção de commodities. Estes, para quem ainda não está muito familiarizado com o termo, são produtos básicos; matérias-primas para o desenvolvimento de tudo o que ainda possa passar por processos de industrialização a fim de agregar valor ao que futuramente venha a ser comercializado. Partindo desse princípio, no qual – especificamente – ambos os países em questão produzem materiais básicos (e são relevantes, afinal, chegam a ser líderes globais em suas especialidades) e vivem o cenário de guerra entre si, as economias ao redor do mundo se deparam com o que mais pode comprometer o poder de compra de suas populações: o choque de oferta.

 As leis de oferta e demanda são as principais responsáveis pela atribuição de preço a quaisquer produtos ou serviços. É o ponto de encontro das duas curvas (as de oferta e de demanda) o que determina o preço de equilíbrio de comercialização entre vendedor e comprador. Logo, portanto, as assimetrias de oferta causadas pelo contexto de guerra provocam o reajuste de preços até alcançar o equilíbrio em questão. Contudo o problema é ainda maior quando nos damos conta de que a maior parte da produção do leste europeu (principalmente os países em guerra) é material básico e qualquer reajuste de preços provoca uma reação em cadeia de todo o sistema global de produção, estressando os índices inflacionários ao redor do mundo e reduzindo a qualidade de vida de toda uma população mundial.

A Ucrânia, por exemplo, é a maior produtora de trigo do mundo. Por consequência, se a produção (ou abertura de comércio) é reduzida, até o macarrão que você come no restaurante, ou o pão em sua casa vão ficar mais caros. A guerra entre Rússia e Ucrânia tem provocado os mais diversos impactos humanitários, sociais, políticos econômicos, naturais e não há como não sentir seus efeitos colaterais mesmo estando tão longe. Notícias abordando essa realidade estão aos montes espalhadas pelos jornais e outros meios de comunicação, mas meu foco aqui é outro: mostrar como uma reação em cadeia pode afetar o seu bolso e você precisa entender a causa disso.

No Brasil, é ano eleitoral, estamos vencendo uma pandemia e vivenciando uma grande crise de oferta ao redor do mundo. A instabilidade é enorme, mas a democratização do conhecimento vai nos ajudar a superar qualquer tipo de incerteza.

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