Um nariz de palhaço para mim e outro para você

Lucas Barros

Além das Montanhas

Jovem, advogado criminal, Chevalier na Ordem DeMolay e apaixonado por Nova Friburgo. Além das Montanhas vem para mostrar que nossa cidade não está numa redoma e que somos afetados por tudo a nossa volta.

quinta-feira, 09 de novembro de 2023

Paz uma ova, estrebucho aqui através do seu computador e nas páginas do jornal. Nunca me senti tão belicoso e avesso a essa nova velha politicagem que consome cada ponto desse país. A cada dia, começo a entender os muitos por quês desta estranha sensação de impotência misturada com a indignação de ser também contribuinte desta patota.

Eu mesmo estou surpreso, portanto, com o quanto me envolvi emocionalmente ao saber dos repasses dos royalties de diversos setores e dos altos valores das taxas de iluminação pública - pagas por nós - que foram destinadas a contratos milionários para decorar carros alegóricos e montar som na rua no Natal.

É estranho, porque nem os recentes escândalos vividos nos últimos dez anos dos poderes Executivo nacional e estadual me deixaram tão enfurecido e comovido. Talvez seja o aspecto pessoal em perceber como cada pequena má decisão tem interferido diretamente na minha e na sua vida.

Como usuário do Hospital Municipal Raul Sertã é visível - seja você também usuário ou não - de que a situação da saúde no município é precária. Lembro-me da madrugada do último dia 28 de outubro, em que necessitei buscar atendimento médico ortopédico na unidade pública de saúde aberta naquele horário.

No longo tempo entre triagem e o atendimento na recepção - num hospital vazio - um idoso teve uma crise convulsiva na recepção do hospital. Veio a buscar apoio numa cadeira de espera, até que caísse no chão. Uma cena forte e que toca. Os enfermeiros realizaram o atendimento do rapaz, que passou longos minutos agonizando no chão.

Após um considerável tempo, uma cadeira de rodas foi trazida ao local. O inconsciente paciente, ainda muito trêmulo, foi colocado na cadeira de rodas. Sabido que uma crise epilética mata, quando o homem foi ser levado para o atendimento, perceberam suas pernas rastejavam pelo chão impedindo a locomoção do paciente.

Ao analisarem o problema, perceberam que a cadeira de rodas – que custa em média uns R$ 400 a R$ 600 - estava quebrada. O equipamento só tinha um único apoio para pés, que nem estava lá essas coisas. E assim, numa cadeira de rodas quebrada e com um enfermeiro tentando dar um jeito para o  pé do paciente não encostar no chão, foi levado um senhor com risco de morte.

Logo depois, chegou um jovem rapaz que havia se acidentado ao andar de moto, com ferimentos nada bonito de se ver em seus dois pés. Enquanto eu e muitas outras pessoas esperávamos a triagem, comecei a perceber como o nosso hospital, que atende toda a região, está caindo aos pedaços – literalmente.

Faltam cadeiras de espera para os pacientes. As paredes e os tetos descascam tinta em meio as muitas infiltrações. Ironicamente, em alguns pontos, a iluminação do hospital público é inexistente. Cadeiras de roda, quebradas. As filas de exames lotadas. E sem contar, os escândalos expostos pela “Operação Baragnose” quanto as falhas nas licitações da alimentação, deflagrada pela Polícia Federal no começo do ano.

Após ser atendido por uma médica, fui direcionado ao setor de raio-x do hospital, onde, novamente, encontrei o rapaz do acidente de moto, numa cadeira de rodas. Ao ser chamado para “bater uma chapa”, constatou-se que apesar do seu pé machucado, a cadeira de rodas não conseguia passar por um estreito corredor e levá-lo assim, até a máquina do raio-x.

Dessa forma, o jovem rapaz que pouco conseguia se levantar, foi “convidado” a ir andando até a máquina e enfim, fazer o exame. Depois de algumas horas, eu saí extremamente pensativo e encabulado sobre o que havia vivido naquela curta madrugada. Mas quando falamos de gestão pública, até o básico parece difícil.

Dois dias depois, não surpreendentemente, o teto da recepção do hospital caiu após uma forte chuva. Felizmente, não veio a machucar ninguém. Na semana passada, tivemos a irônica, “feliz e empolgante” notícia de que Nova Friburgo terá um dos seus Natais mais coloridos e com os carros alegóricos mais exuberantes, com parte do orçamento transferido de royalties e das taxas de iluminação pública, mesmo diante de toda problemática existente no município.

E para fechar com chave de ouro, a irônica, “alegre e cativante” notícia de que todos os partidos na Câmara dos Deputados estão unidos, como uma bonita e forte família, para inflar ainda mais, o Fundão Eleitoral das eleições do ano que vem para valores que extrapolam os R$ 6 bilhões.

Nossas problemáticas não importam para ninguém! Estamos sozinhos. E quando se trata do nosso dinheiro tudo é uma grande festa das quais não somos convidados ou beneficiados com nada! Um nariz de palhaço para mim e outro para você, contribuinte.

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