Tem dor nessa vida

César Vasconcelos de Souza

Cesar Vasconcellos de Souza

Saúde Mental e Você

O psiquiatra César Vasconcellos assina a coluna Saúde Mental e Você, publicada às quintas, dedicada a apresentar esclarecimentos sobre determinadas questões da saúde psíquica e sua relação no convívio entre outro indivíduos.

quinta-feira, 19 de maio de 2022

Dr. Scott Peck, famoso psiquiatra norte-americano começa seu best-seller “Road Less Travelled” (A Trilha Menos Percorrida) com “A vida é difícil.”. No centro da filosofia budista encontramos a afirmação de que “viver é sofrer”. Jesus disse que “no mundo tereis aflições”. Melody Beattie escreveu: “A vida machuca” (“Pare de se maltratar”, 2003, Record). Quando uma pessoa morre é comum dizer-se: “Descansou.” Ora, afinal, a vida é boa ou não? Talvez tenhamos que fazer outra pergunta: Qual vida? Ou ainda, de que pessoa? E mesmo assim, em que momento?

Outro dia percebi que havia ao mesmo tempo sol, uma chuva fininha, uma corrente de ar quente que passou por meu carro, e mais adiante um ar frio. A vida parece ser assim, sem previsões, e parece que a imprevisibilidade esta cada vez maior em tudo, nas decisões judiciais, numa eleição política, no tempo atmosférico, numa relação conjugal.

A vida, aquilo que mantém eu e você vivos é algo maravilhoso, sem dúvida. Olha um cadáver. Inerte. Sem circulação. Sem cor na pele. Sem vida. Onde está a vida que o fazia se movimentar segundos antes da morte? Onde está aquela energia que movia o corpo e a mente? A Bíblia diz que está com Deus, a Fonte da vida (veja Eclesiastes 12:7). Neste sentido, a vida, como energia que nos faz estar vivos agora é maravilhosa! Não temos controle sobre ela. Não podemos dizer a ela: “Fica aqui em meu corpo mais 50 anos!” e ela ficar. Podemos antecipar seu desaparecimento, mas não temos poder para esticar sua permanência mais do que está proposto.

E como é a vida no sentido de como vivemos, de como decidimos ou não decidimos as coisas, de como nos relacionamos uns com os outros, e de como sentimos nossos sentimentos, como pensamos? É boa ou ruim? Feliz ou infeliz? Depende.

Você pode um dia estar se sentindo muito bem. Pode estar sereno, em paz, e pensar: “Puxa, quando é que isso (essa sensação) vai embora?” “Por que não fica assim sempre?” Mas aprendendo a viver um dia de cada vez, uma emoção de cada vez, então você pode deixar aquele pensamento de lado, e curtir o momento agradável. O que é bom passa, mas o que é desagradável também passa. Vem o sol, depois vem a chuva, depois vem o mormaço, em seguida uma neblina, depois um pouco de frio, em seguida o céu azul e o sol esquenta. Tudo imprevisível, assim é nossa vida.

As palavras “sempre” ou “nunca” são perigosas. Nunca sabemos o que virá. Nunca disse para um paciente meu “Você vai ter que usar este medicamento o resto de sua vida!” Por que não dizia isso? Por que não tinha e não tenho condições de afirmar tal coisa. Muitas coisas fantásticas podem ocorrer na vida de uma pessoa em termos terapêuticos ou curativos que nunca imaginaríamos ser possível pela Medicina convencional. Por isso, no máximo, posso afirmar: “Pode ser que você vá precisar usar isto por muito tempo. Mas, vamos ver o que ocorrerá no futuro.”

A vida dói porque vêm dores de fora e de dentro de nós. Dores emocionais, dores físicas, de perda, de abusos, de maldades feitas contra a gente, ou que fazemos contra pessoas. Deus fez os seres humanos bons e equilibrados, mas nós criamos muitas complicações. A vida é bela, mas temos dores. Saúde mental não é ausência de tristeza, ansiedade, medo, mas é não se apavorar quando sentir isto, é ter paciência consigo mesmo quando sentir isso, e aguentar estas emoções desagradáveis até que elas passem sem se drogar com qualquer coisa. E ter esperança de melhora e recuperação.

 

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