O que você faz com o sofrimento?

César Vasconcelos de Souza

Cesar Vasconcellos de Souza

Saúde Mental e Você

O psiquiatra César Vasconcellos assina a coluna Saúde Mental e Você, publicada às quintas, dedicada a apresentar esclarecimentos sobre determinadas questões da saúde psíquica e sua relação no convívio entre outro indivíduos.

quinta-feira, 21 de julho de 2022

Nessa vida todos temos lutas, decepções, sofrimento. Saúde mental não é ausência de dores emocionais, como tristeza, angústia, medo. Uma pessoa com saúde mental boa tem em alguns momentos tristeza, sofre angústia, experimenta alguns medos dentro de um contexto de situações provocadoras destes sentimentos dolorosos.

Existe o perigo de medicar sentimentos desagradáveis em vez de pensar no significado deles para nossa existência e entender de onde eles vêm. Uma boa parte da população está muito medicada com remédios psiquiátricos. Falta a elaboração consciente do sofrimento. Não é que nunca se deve usar medicamentos psiquiátricos. Porém, muitos querem funcionar bem na vida, no trabalho, na família, e lançam mão de comprimidos, priorizando a busca de melhora emocional neles, porque precisam tocar a vida para a frente e não sabem ainda como fazer isso através de um trabalho de psicoeducação, o qual significa aprender a lidar com suas emoções, especialmente as dolorosas, desagradáveis, que causam dor.

Se você prestar a atenção, verá que provações surgem em sua vida, algumas com o fim de destruir sua pessoa, mas que podem ser encaradas como fonte de amadurecimento. Ajudará muito a mudar o rumo da maneira de lidar com situações dolorosas na sua vida, se você mudar a pergunta: “Por que isso está acontecendo comigo”, para: “O que posso aprender com esta situação dolorosa?”

Experiências traumáticas, um acidente de trânsito, perda financeira, divórcio, conflitos conjugais, morte de pessoa querida, decepção, infidelidade conjugal, perda do emprego, perseguição no trabalho, podem ser usadas por nós para nos fortalecer. Depende do olhar que teremos para com estes traumas, da rede de apoio para lidar com eles, e da intenção consciente de aprender com o sofrimento.

Provações, decepções, vêm sobre todos nós em momentos diferentes da vida, algumas mais devastadoras, outras menos, mas em todas podemos ver que surgem forças para enfrentá-las, mesmo tendo que passar temporariamente por uma depressão ou ansiedade excessiva em qualquer modalidade clínica.

A vida não é fácil. As religiões que prometem vida fácil, cheia de prosperidade material e ausência de sofrimento, nisto pregam falsidade. O Chefe do Cristianismo, Jesus Cristo, disse aos que O seguiriam que eles teriam aflições nessa vida, mas que isto não os deveria desanimar. (João 16:33). Não é justo nem verdadeiro afirmar que seguir Jesus garante sucesso financeiro e ausência de problemas. Não há respostas fáceis para o problema do sofrimento na humanidade, tema estudado por pensadores, filósofos e psicólogos. Sabemos que existe um conflito entre o bem e o mal que afeta todas as dimensões da sociedade e de nossa pessoa. Assim, existe sofrimento mesmo nos mais consagrados e praticantes de boa espiritualidade.

Os sofrimentos de hoje podem servir para nos preparar, nos fortalecer para os que virão mais adiante, e eles virão. Independente e apesar disso, é possível ter serenidade, paz e até alegria pessoal, interior. Depende de onde você colocará sua esperança, depende do seu conceito de significado dessa existência e boa compreensão sobre a guerra espiritual entre o bem e o mal, depende do que você faz com sua dor ou do que você permite que ela faça com você, depende dos recursos psicológicos e espirituais pessoais, além do apoio familiar e social de que você dispõe, e depende de fé de que há um Criador bondoso que está atento aos seus sofrimentos e fazendo o melhor para preservar sua sanidade mental e espiritual e sua vida física.

Cesar Vasconcellos de Souza – www.doutorcesar.com

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O psiquiatra César Vasconcellos assina a coluna Saúde Mental e Você, publicada às quintas, dedicada a apresentar esclarecimentos sobre determinadas questões da saúde psíquica e sua relação no convívio entre outro indivíduos.

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