É fácil amar as pessoas fáceis

César Vasconcelos de Souza

Cesar Vasconcellos de Souza

Saúde Mental e Você

O psiquiatra César Vasconcellos assina a coluna Saúde Mental e Você, publicada às quintas, dedicada a apresentar esclarecimentos sobre determinadas questões da saúde psíquica e sua relação no convívio entre outro indivíduos.

sexta-feira, 23 de abril de 2021

É fácil amar as pessoas fáceis

Somos diferentes. Temos temperamentos diferentes uns dos outros. A maneira como nossa personalidade vai se estruturando ocorre num mesmo ambiente familiar para crianças diferentes, mas cada uma terá um desenvolvimento e formação de características do eu (self) de forma distinta. Ou seja, crianças criadas num mesmo ambiente familiar desenvolvem personalidades diferentes. Uma se torna mais dócil, serena, pensativa, com melhor autocontrole emocional, enquanto que seu irmão ou irmã se torna mais agressiva, rebelde, impulsiva. Cada um reage aos fatores ambientais de modo diferente. Um com serenidade e aceitação, outro com irritação e rebeldia. Um tolera a frustração, outro se impacienta demais com a mesma.  

Com que tipo de pessoa você acha mais fácil se relacionar? Com a dócil ou com a rebelde? Com a serena que pensa antes de falar, ou com a impulsiva que só pensa no que disse ou no que fez depois de ter falado e atuado? Que tipo de pessoa é mais fácil amar? A que escuta com paciência o que você está dizendo, ou a que atropela sua fala sem ouvir direito o que você está tentando dizer, geralmente reagindo com impaciência? É fácil amar uma pessoa que vive criticando você e os outros, que sai falando alto porta à fora sobre a zanga dela com você de maneira que vizinhos ouvem aquilo que deveria ser privativo? É fácil amar quem geralmente retruca o que você diz, questiona não de maneira pensada e calma, mas sempre confrontando você como se vivesse sempre em disputa, em guerra que você não quer ter com ela?

Se você fizesse uma pesquisa de opinião pública sobre o que é uma pessoa fácil de se relacionar, pode ser que a maioria dissesse algo assim: É a pessoa que fica calma mesmo quando eu fico nervoso. É aquela que sabe me ouvir quando preciso desabafar. É a que não reage com agressividade verbal quando digo algo que a irrita. É aquela que é honesta comigo, sincera, não manipula, não mente para mim, é compreensiva. Uma pessoa fácil de se relacionar é a que procura entender o que estou sentindo sem me julgar e criticar. É a que aprendeu a se controlar e não me dirige palavras cruéis e irônicas mesmo quando eu fiz isso com ela. Uma pessoa fácil de amar é a que se mostra ser minha amiga e me ajuda quando preciso dela. É alguém que dá vontade de estar junto, conversar com ela, porque ela sabe ouvir, não fica me criticando, não se deixa ser tomada pela emoção e por isso não fica me agredindo pelo frequente descontrole emocional dela.

É fácil amar as pessoas fáceis. Mas como amar as pessoas difíceis, de temperamento explosivo, autoritárias, mandonas, que vivem em negação quanto a ter problemas emocionais, que são muito emocionais de modo que com frequência caem em atitudes histéricas, de descontrole emocional, como se fosse crianças pirracentas, mimadas? Como amar alguém de difícil personalidade, que trouxe marcas de sofrimentos do passado para a vida adulta e ainda não aprendeu a lidar com isso de forma equilibrada, e por esta razão vive provocando tensão e estresse nos relacionamentos?

É fácil amar as pessoas fáceis. No livro de Provérbios, na Bíblia, no capítulo 19 e versículo 19, uma tradução moderna diz: “O homem (ou mulher) de gênio difícil precisa do castigo; se você o poupar, terá que poupá-lo de novo.” Agora veja este texto em outra versão: “Uma pessoa que perde a calma que se irrita violentamente, terá de vir sofrer as consequências da sua atitude. Se os outros vierem a desculpá-la, estão a incitá-la a recomeçar os seus excessos.” Talvez uma pessoa com este tipo de comportamento seja difícil de ser amada e talvez se encaixa naqueles tipos de pessoas sobre as quais Jesus se referiu ao dizer: “Amem os seus inimigos e orem por aqueles que os perseguem, para que vocês venham a ser filhos de seu pai que está nos céus. Porque ele faz raiar o seu sol sobre maus e bons e derrama chuva sobre justos e injustos. Se vocês amarem aqueles que os amam, que recompensa vocês receberão?” Mateus 5:43-46 (NTLH).

Não é fácil amar “inimigos”, não é? Ou será impossível de nós mesmos amá-los, usando nossos recursos psicológicos humanos? Será possível amar inimigos? Você consegue isso de si mesmo? É fácil amar as pessoas fáceis. Mas e as difíceis? Não será possível somente pedindo esta capacitação sobrenatural a quem pode lhe dar, a quem tem este tipo de amor incondicional para dar?

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O psiquiatra César Vasconcellos assina a coluna Saúde Mental e Você, publicada às quintas, dedicada a apresentar esclarecimentos sobre determinadas questões da saúde psíquica e sua relação no convívio entre outro indivíduos.

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