Blog de paulafarsoun_25873

Me tornei o que mais temia

sexta-feira, 09 de setembro de 2022

Sabe aquela frase um tanto lugar comum nas redes sociais que diz: “Me tornei aquilo que eu mais temia”? Já parou para pensar em quantas circunstâncias você precisou agir de forma similar àquela pessoa a quem tanto criticava? A verdade é que realmente cada um sabe da sua dor, seus anseios e suas necessidades.

Sabe aquela frase um tanto lugar comum nas redes sociais que diz: “Me tornei aquilo que eu mais temia”? Já parou para pensar em quantas circunstâncias você precisou agir de forma similar àquela pessoa a quem tanto criticava? A verdade é que realmente cada um sabe da sua dor, seus anseios e suas necessidades.

Lembro-me, ainda muito jovem, admirando e ao mesmo tempo indagando como determinadas pessoas do meu convívio conseguiam fazer tantas coisas ao mesmo tempo, terem energia para dar conta de tudo e seguirem com o sorriso no rosto. Mais tarde, questionei-me porque para tantas outras conhecidas era difícil dar uma pausa em suas tarefas para cuidar de uma dor, como deixavam de almoçar porque não dava tempo e como dormiam tão pouco. O tempo passou e por vezes poderia brincar ter me tornado não aquilo que temia, mas que já sabia existir.

Sem nem perceber, eu também já me emocionava assistindo até comerciais, já não trocava meu descanso precioso por qualquer coisa, já preferia tomar um chá lendo algo interessante, preferia ir à praia em horários de “sol baixo” (essa era uma expressão que ouvia muito), já conversava com flores e acarinhava plantas, já amava cozinhar e servir a todos, só tomava café fresquinho e não trocava um minuto com a família por nada. Quando me dei conta, percebi que meu dia precisava de 36 horas, que eu gosto mesmo é da roça, que trabalhava além da conta, que não ligava para besteiras, que não me importava com as olheiras e que ser útil era um grande barato.

Muito do que somos hoje, talvez, seja aquilo que não entendíamos que seríamos um dia. E eis que o tempo passa e simplesmente temos comportamentos similares àqueles que antes apenas observávamos como espectadores. Outro dia uma pessoa brincou dizendo que “antigamente era a tia da piada sem graça e hoje é a tia do meme”. Não tem graça agora, mas na hora teve. E parece uma grande bobagem, e não deixa de ser.

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Cadê a leveza ?

sexta-feira, 02 de setembro de 2022

Acreditar no ser humano até que ele demonstre que não é digno da sua confiança. Ter boa vontade até que reste comprovado que o destinatário das suas ações não é tão digno assim de recebê-las. Ter a intenção de ajudar, sem requisitar nada em troca (nem nas entrelinhas das segundas intenções). Dar de verdade, doado, porque sim. Sem dívida moral para acertar depois. Compartilhar prosperidade, sem contabilizar os créditos que sua boa ação pode te proporcionar. Fazer sem esperar retorno. Ensinar com a intenção de que aprendam. Aprender com a intenção de aprender mesmo.

Acreditar no ser humano até que ele demonstre que não é digno da sua confiança. Ter boa vontade até que reste comprovado que o destinatário das suas ações não é tão digno assim de recebê-las. Ter a intenção de ajudar, sem requisitar nada em troca (nem nas entrelinhas das segundas intenções). Dar de verdade, doado, porque sim. Sem dívida moral para acertar depois. Compartilhar prosperidade, sem contabilizar os créditos que sua boa ação pode te proporcionar. Fazer sem esperar retorno. Ensinar com a intenção de que aprendam. Aprender com a intenção de aprender mesmo.

Nem tudo vale dinheiro, nem tudo vale crédito, nem tudo vale nota na escala de valores de uma pessoa. Aliás, as coisas mais importantes da vida, nem coisas são. Frase repetida, mas cheia de razão.

Sabe quando alguém é honesto com você e chega a te comover? Quando você recebe um presente como demonstração de gratidão, sem interesse. Quando você é tão bem tratado que fica com vontade de levar a pessoa gentil para casa. Quando as pessoas são tão solícitas que chegam a te constranger. Quando te oferecem colo e acalento e você não consegue nem aceitar. Quando te fazem tão bem que você chega a se emocionar. Quando as intenções das pessoas são genuinamente tão boas que chegamos a desconfiar. Então. Quando o lado bom da força transborda, por vezes fica até difícil conseguir lidar. Estranha realidade.

Por que dificultar a vida das pessoas à toa? Para quê criar obstáculos desnecessários? Por que se fazer temer para receber o respeito de alguém? 

Estamos na Era da Luz. Nem todos os pingos dos “is” precisam estar milimetricamente em cima dos “is”. Cadê a flexibilidade? O jogo de cintura? O “borogodó”? Cadê a leveza? Le-ve-za.

Não estou me referindo aos jeitinhos, às trapaças, ao desejo de enganar as pessoas. Pelo contrário. Quero falar das pessoas que por pureza de espírito, por intenções positivas, fazem por amor, acreditam pela crença de que as pessoas podem ser verdadeiras, dão por dar, recebem por receber, e por aí vai. Essa lógica que deveria ser mais natural entre nós, humanos.

Pessoas não são números. Pais não estão sempre certos. Professores não sabem tudo. Desempregados não são malandros. Estrangeiros não vivem melhor. Relacionamentos não são sempre perfeitos. Trabalho não é martírio. Políticos não são todos corruptos. Todos os milionários não são felizes. Percebem?

Às vezes acho que estamos vivendo de exceções. Isso me inquieta. A pirâmide às vezes me parece invertida. A base, a massa, a maioria, deve ser composta pelo lado bom da força. Se me falam algo, acredito. Por que tenho que imaginar que a pessoa está mentindo? Se me tratam com gentileza, retribuo. Por que deveria imaginar que a intenção por trás dos gestos afáveis estão enrustindo uma intenção diversa? Se me pedem e eu posso fazer, eu faço. Por que deveria me recusar a ajudar alguém?

É tão comum escutarmos conselhos do tipo : “não fique disponível”, “ a regra é não”, “não caia nessa conversa fiada”, “não perca seu tempo ajudando”, “faça o mínimo necessário”, “não acredite nessas boas intenções”, “duvide até do espelho”, “não conte nada para ninguém”. Andamos tão armados. Tão fechados. Tão individualizados. Complexo. Talvez mais difícil fosse ser diferente disso.

Hoje em dia estamos sendo julgados, filmados, gravados, registrados. São tantos dedos apontados, tantas mentes fazendo juízo de valor sobre nossa postura. São tantas opiniões preconcebidas sendo extraídas exclusivamente das postagens das redes sociais, de uma fala isolada, de uma atitude excepcional em um dia ruim, de uma fofoca, de uma impressão negativa. Isso dificulta as relações mais naturais, mais reais, mais verdadeiras, com mais partilha e menos julgamento, com mais essência e menos forma. Será que o lado bom da força está enfraquecendo?

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Dedicação

sexta-feira, 26 de agosto de 2022

A bem da verdade, a vida nos ensina que a lei de causa e efeito é real, sem que para tanto precisemos crer em nenhuma profecia para que de fato possamos perceber que plantar e colher são causa e consequência interligadas de muitas situações, a exemplo do que acontece com a própria natureza, da qual fazemos parte.

A bem da verdade, a vida nos ensina que a lei de causa e efeito é real, sem que para tanto precisemos crer em nenhuma profecia para que de fato possamos perceber que plantar e colher são causa e consequência interligadas de muitas situações, a exemplo do que acontece com a própria natureza, da qual fazemos parte.

E aqui faço referência especificamente à “lei do esforço”, sem intuito de traçar nenhum perfil técnico sobre a expressão, mas apenas um enfoque quase orgânico e natural sobre o tanto que a dedicação plantada, certamente, cedo ou tarde, gera frutos. Como, quando e quantos colheremos, não podemos precisar. Contudo, só teremos os frutos se plantarmos as sementes.

Todo o esforço empregado para o bem gera luz, contribui para nosso mérito acumulado e resulta em coisas boas. Acredito nisso. No tempo certo, o resultado vem. Talvez não exatamente conforme o esperando, mas certamente da forma como era para vir. Se não nos empenharmos, creio que resultados satisfatórios serão bem mais difíceis de serem alcançados.

É sobre isso que estou falando. Empregar energias, investir tempo, intensificar forças em prol de algum sonho, projeto ou ideal. Não raras vezes, pensamos que os esforços estão sendo em vão, pois os resultados esperados não acontecem muitas vezes conforme a ansiedade humana demanda. Mas a vida tem me provado, felizmente, que o empenho sincero por algo, sobretudo se a causa for verdadeira e for para o bem, de alguma maneira, retornará para nossas vidas em forma de êxito, realização, aprendizado e gratidão das pessoas.

Não vejo um atleta ser campeão sem ter enfrentado esforço diário da superação e do treinamento. Também não vislumbro um casamento feliz sem que o casal se empenhe diariamente por essa felicidade. O candidato aprovado em um vestibular difícil e concorrido, certamente empregou bastante energia no seu projeto de estudos. E por aí vai. Não podemos generalizar, claro, pois somos seres absolutamente únicos e especiais, com histórias de vidas particulares que diferenciam, inclusive nossas condições para lutar.

Mas de uma maneira geral, pessoas que vencem pelo caminho da honestidade e do bem, seja em que aspecto da vida for, certamente em algum momento precisaram decidir sobre o que desejavam plantar e esforçarem-se para semear. A colheita é uma consequência. E o tempo é de Deus.

Dificilmente conquistas grandiosas, relacionamentos felizes, prosperidade e satisfação pessoal caem em nosso colo sem esforço algum. É da vida. É saudável. Precisamos nos empenhar em nossos projetos e escolhas. E devemos fazer isso de forma leve, equilibrada e contínua, sem que precisemos prestar justificativas para os outros. É uma história entre nós mesmos e as forças superiores, as quais particularmente credito a Deus. Não vai ser fácil sempre. Não vai dar certo todas as vezes. Mas acredito sinceramente que se não movimentarmos a energia, será bem mais difícil alcançarmos o sonho de felicidade que todos temos.

Por isso, é fundamental termos responsabilidade por cada grão a germinar que plantamos na vida. A semente do esforço justo e sincero, certamente resultará no cultivo de um fruto de luz. E se nos mantivermos atentos, reconheceremos esses sinais e colheremos frutos doces e belas flores na vida.

Encerro o texto com as palavras de Cora Coralina:  “Me esforço para ser melhor a cada dia. Pois bondade também se aprende.”

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Gota

sexta-feira, 19 de agosto de 2022

Dia desses, por sorte, pude apreciar uma gota de água que pairou sobre uma folhinha de manjericão da minha horta na varanda. Foi o suficiente para lembrar-me de um trecho da canção “A felicidade” de Toquinho e Vinicius de Moraes de que gosto muito: “A felicidade é como uma gota de orvalho numa pétala de flor... brilha tranquila, depois de leve oscila e cai como uma lágrima de amor.”

Dia desses, por sorte, pude apreciar uma gota de água que pairou sobre uma folhinha de manjericão da minha horta na varanda. Foi o suficiente para lembrar-me de um trecho da canção “A felicidade” de Toquinho e Vinicius de Moraes de que gosto muito: “A felicidade é como uma gota de orvalho numa pétala de flor... brilha tranquila, depois de leve oscila e cai como uma lágrima de amor.”

Ainda não consigo dissociar uma experiência da vida com um feito da mãe natureza. Permaneci alguns minutos observando a gota sobre a folha e um detalhe além da beleza me intrigava: a gota parecia ser enorme em proporção ao tamanho da folha de manjericão, bem pequena, daquelas que ficam no cume da planta. Era uma gotinha, mas era muita água para a superfície suspensa da folha miúda, concretizando um equilíbrio difícil de compreender. Eu não entendi porque a gota não escorreu pelo caule da planta. Supus o malabarismo de força que deveria estar sustentando aquele peso aparente. Era para ela estar naquele local, foi ali que encontrou morada, ou uma missão a cumprir, ou a proporção era perfeita, ou nada disso, estava por estar.

E então eu me pus, naturalmente, a refletir. A felicidade e a gota de orvalho. Tudo a ver. Quando quer ficar, fica. Quando é para ser, é. O que tem que ser, realmente tem muita força. E quanto ao peso? É muito relativo. Peso para quem? Se houver estrutura, fica leve. Se houver acolhimento, facilita. E com um tanto de sorte e a obra do destino, se desenrola.

A gota do orvalho, pode passar absolutamente despercebida. Pode ser subestimada diante de sua simplicidade. Pode ser efêmera. Pode requerer sustentação, preparo. Talvez até sorte, aquela coisa de estar no lugar certo, na hora certa. Assim como a felicidade. Quanta gente só percebe que era feliz e não sabia o dia em que deixa de ser? Quanta gente é feliz mas não tem tempo de perceber? De tão simples que pode ser, nem nota, nem acredita, nem valoriza.

Como no trecho de Vinicius de Moraes, um dia, aquela gota que brilha, oscila e cai, em forma de lágrima. Tomara que seja de amor.

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Poder do não

sexta-feira, 12 de agosto de 2022

Ela se doía ao ter que dizer um “não”. Sofria a ponto de não conseguir fazê-lo. Era muito para ela. Atravessar essa barreira quase intransponível entre ceder e selecionar era uma grandiosa missão. Para o mundo, “sim”. Para os outros, “sim”. Para ela, só o que sobrava dela mesma. Quase nada.

Ela se doía ao ter que dizer um “não”. Sofria a ponto de não conseguir fazê-lo. Era muito para ela. Atravessar essa barreira quase intransponível entre ceder e selecionar era uma grandiosa missão. Para o mundo, “sim”. Para os outros, “sim”. Para ela, só o que sobrava dela mesma. Quase nada.

Não tinha tempo. Não tinha energia. Não se satisfazia com suas escolhas. Para cada tarefa nova assumida, era um sonoro “não” que intimamente ouvia e que apenas ela sabia. E então se perguntava se seria uma patologia não conseguir negar um pedido de alguém. Sentia-se incapaz de recusar alguma situação, de esquivar-se de fazer algo quando ia além de seu propósito, de sua capacidade e de sua energia. Não sabia andar até o limite do alcance de suas próprias pernas. Quem sofre por não saber dizer “não”, sabe o peso gerado pelo acúmulo de afazeres assumidos.

Ela era assim. E já esclareço aos leitores que ainda que eu me identifique em parte com ela, não sou o eu lírico desse texto. Nela represento todos aqueles que estão sobrecarregados justamente por não conseguirem respeitar seus limites e assumirem menos do que o mundo exterior demanda deles. Desde as pequenas coisas às grandiosas. Desde futilidades às funções elementares.

Um dia, a vida – a mais sábia dos sábios, cuidou de ensinar à menina que para cada “não” sentenciado, abria a porta para inúmeros “sim”. E descobriu que sim, a vida é feita de escolhas sob muitos aspectos, e que ela deveria aprender a escolher, a aprender a impor limites, a respeitar sua própria capacidade (inclusive de discernir o que deve e o que não deve, o que pode e o que não pode, o que quer e o que não quer).

Resolveu então investir no seu autoconhecimento e refletir sobre o que deveria fazer por obrigação de trabalho. O que deveria fazer por amor. O que deveria fazer por missão de civilidade. O que fazer por prazer. Ou por necessidade. Ou pelo querer. E o que era excesso. Separou o joio do trigo. Concluiu que muito do que fazia era excessivamente oneroso para sua vida e sua própria saúde.

Desde a concepção de que dizer não para alguém ou para alguma situação não faria com que fosse menos amada ou querida, foi assimilando que seria capaz de assumir o que fosse suficiente e não o que não conseguisse escapar por dizer “sim” para tudo. Saber se impor dentro dos seus critérios de ética e utilidade foi um processo de superação de valor inestimável.

Só quem tem esse perfil de querer dizer “sim” para tudo e todos talvez entenda o sofrimento que pode existir por trás dessa característica. A sobrecarga, o peso, o arrependimento, a culpa pela imperfeição, o acúmulo de tarefas, a falta de tempo são consequências dessa incapacidade de delimitar limites, e aqui me permito a redundância das palavras.

Ao aprender, finalmente, a dizer necessários “nãos” para certas coisas, ela conseguiu se cuidar mais, amar mais seu ofício, destinar mais tempo à sua família, fazer suas tarefas com mais paz e a viver com maior qualidade de vida. Ela entendeu que dizendo “não” aos excessos de tudo e às demandas externas infinitas, estaria na verdade escolhendo dizer “sim” para si mesma.

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Por falar em saudade

sexta-feira, 05 de agosto de 2022

Saudade é algo difícil de explicar. Nos possibilita sentir, viver, reviver. Saudade alegra. Inspira. Motiva. Enche o coração. Mas tem um viés de saudade que dói. E muito. Não há uma dor física que possa ser comparada. É algo que vem lá de dentro, das profundezas da alma, do fundo do coração. Saudade tem suas nuances. Pode nos mover em várias direções. Tem poder de ser mola propulsora para diversas ações.

Saudade é algo difícil de explicar. Nos possibilita sentir, viver, reviver. Saudade alegra. Inspira. Motiva. Enche o coração. Mas tem um viés de saudade que dói. E muito. Não há uma dor física que possa ser comparada. É algo que vem lá de dentro, das profundezas da alma, do fundo do coração. Saudade tem suas nuances. Pode nos mover em várias direções. Tem poder de ser mola propulsora para diversas ações.

Saudade nos leva ao choro no travesseiro, no banho, na rua, em todo lugar. Conduz a lágrima de canto de olho que insiste em cair quando toca aquela música, quando olhamos aquela paisagem, quando fitamos uma foto. Muitas vezes, é o que nos derruba. É o sufoco sem conforto. A dor sem remédio. O grito sem ruído. Outras vezes, é a motivação que nos eleva, a inspiração que nos guia, o amor que preenche o invisível.

Hoje seria um dia propício para falar de saudades, pois tudo o que provoca as minhas, são de estima constante. Logo, todo dia é dia quando se tem do que e de quem sentir saudade – ao meu ver, uma dádiva. Mas é também um momento de falar do oposto. Da saudade daquilo que podemos suprir, das pessoas que podemos abraçar, do reencontro com familiares que chegam de longe, das memórias afetivas que podemos revisitar. Ah! É inenarrável o prazer de estar junto novamente, de refazer os votos e os planos, de sentir o cheiro familiar, o aconchego que tem morada certa.

Quais os limites desse sentimento sem limite? Vale a redundância da pergunta para refletirmos sobre o que fazemos com o tempo que temos ao lado de tudo aquilo que quando ausente, nos faz nostálgicos. Os sentimentos realmente atravessam fronteiras, ultrapassam todas as balizas físicas e imagináveis. Um ente querido vivendo na China continua sendo o ente querido. Esse é o ponto. O que nos faz transcender às barreiras materiais merece nosso tempo, o foco e a direção de nossas vidas. Com amadurecimento e pitadas de autoconhecimento, o sentimento de saudade que não pode ser saciada e daquela que podemos suprir de alguma maneira, pode se tornar um grande aliado.

E se temos a chance de criar novas oportunidades em encontro a tudo o que nos é caro e deixará saudade, que sejamos gratos pela oportunidade e que saibamos cuidar de cada momento novo dessa vida que às vezes sorri para a gente. Privilégio é poder reviver aquilo que nos faz bem. Viver momentos novos, com temperos especiais. Construir a existência sabendo definir o que merece toda a nossa energia e o que vale a pena deixar passar. Sabedoria. Deixar ir e escolher o que deve ficar. Saudade pode ser um bom critério. Do que já foi. Do que é. Do que estar por vir.

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Mudança

sexta-feira, 29 de julho de 2022

De repente tudo muda. Às vezes, por nosso querer. Outras, por obra do acaso – se é que ele existe. Só sei que há mudanças planejadas, projetadas na ponta do lápis, perseguidas com empenho e comemoradas. Há outras que nos surpreendem; e nem sempre a surpresa é boa. Só sei que mudar por vezes dói.

De repente tudo muda. Às vezes, por nosso querer. Outras, por obra do acaso – se é que ele existe. Só sei que há mudanças planejadas, projetadas na ponta do lápis, perseguidas com empenho e comemoradas. Há outras que nos surpreendem; e nem sempre a surpresa é boa. Só sei que mudar por vezes dói.

Nós somos seres naturalmente adaptáveis. A maquininha humana é eficaz a ponto de nos preparar para as intercorrências. Até certa medida. Por melhor que seja o funcionamento de nossas engrenagens, é bom ter em mente que a máquina não é infalível, nem dispensa cuidados. Dessa realidade não podemos nos dissociar completamente, pois não somos os super heróis que supomos ser.

Nossas fotos de hoje já não são retratos de quem fomos um dia. Já somos outros. Dia após dia, experiência após experiência, tornamo-nos um tanto diferente do que éramos. Eu não sou hoje a mesma de dez anos atrás. Ninguém pode ser. As coisas mudam, nós mudamos. Mas o grande barato dessa dinâmica me parece ser a conservação da essência. Acho incrível perceber que a forma da caixinha está diferente, mas o conteúdo, aquele mais importante que fica lá no fundinho do recipiente, permanece intacto. Tudo pode mudar.

Pensamentos evoluem (ou involuem), o corpo muda, os valores vão sendo polidos conforme a vivência, dons vão sendo descobertos, ao redor temos novas companhias, um trabalho novo, um lar diferente, perdemos, ganhamos, sofremos, nos alegramos, conhecemos novas culturas, novas dores, novos prazeres. Mas acho lindo quando essência, quem somos de verdade, aquela construção magnífica do nosso ser, apesar de todas as intercorrências, segue intacta. Sinto-me mais à vontade para mudar tudo sabendo que posso conservar quem eu sou de verdade. Quando creio que os afetos, desafios, perdas, ganhos, vivências vão sendo na verdade incrementados, escolho mudar para melhor, apesar das circunstâncias, zelando pela chave de quem sou de verdade.

Mudar dói, crescer dói, o inesperado dói. Nem sempre, é claro. Vivemos mudanças diárias indolores. Mas algumas não têm como passarem despercebidas. Abalam nossas estruturas, nos apresentam um cenário novo, impõem dedos nas feridas, demandam mais esforço pessoal, mais contar com a sorte, mais integração com o indivíduo, mais malabarismo com o inesperado. Quem conhecer a fórmula mágica para viver os processos profundos de transformação de forma milagrosamente indiferente, desperdiçará uma bela chance de ser a borboleta que vem da lagarta. De perceber a metamorfose. Saber lidar com a dor também é uma forma de crescer. Impregnar o processo de amor, é um alicerce nesse caminho. Mudar com dignidade é uma forma elegante de viver.

Tem uma frase escrita por Érico Veríssimo que eu acho simples e fantástica que diz mais ou menos o seguinte: “ Quando os ventos da mudança sopram, umas pessoas levantam barreiras, outras constroem moinhos de vento.” É sobre isso que estou falando. Quero ser ventania, não sopro; quero lidar com moinhos de vento, não com barreiras.

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A graça da coisa

sexta-feira, 22 de julho de 2022

Desapegar-se. Verbo simples. Prática difícil. Nada simples, porém muitas vezes, necessária. É preciso ter o pulso firme e coração leve para não nos prendermos demasiadamente a tudo e todos que têm valor para nós.

Ouvi dizer que o apego ofusca a luz, como se embaçasse a clareza que pudesse existir. Senti também. É verdade, o apego atrapalha, amarra, atravanca, pesa. Sentimento estranho e mal aplicado, por assim dizer.

Desapegar-se. Verbo simples. Prática difícil. Nada simples, porém muitas vezes, necessária. É preciso ter o pulso firme e coração leve para não nos prendermos demasiadamente a tudo e todos que têm valor para nós.

Ouvi dizer que o apego ofusca a luz, como se embaçasse a clareza que pudesse existir. Senti também. É verdade, o apego atrapalha, amarra, atravanca, pesa. Sentimento estranho e mal aplicado, por assim dizer.

Apego é diferente de amor. Diferente de querer. Diferente de zelo. Apego é apego e ponto. Nós sabemos do que se trata e convivemos bastante com esse sentimento.

Há quem lute por uma vida mais livre de apegos, seja aos sentimentos, às pessoas, às coisas, à posição social, ao emprego, à matéria. Levante a mão quem se identifica com esse ato de verdadeira coragem que é buscar um caminho com mais desapego e leveza.

Sei o quão dolorida e difícil é uma existência pautada no apego arraigado à alma. Dóem os ombros só de pensar. Dói a nuca também. E a têmpora direita. Sei o quanto a leveza de desapegar-se aos poucos dos excessos que encobrem o dia a dia é libertadora. E faz bem à saúde, diga-se de passagem.

Atualmente muito tem se falado nas práticas minimalistas, em valorizar um estilo de vida com menos acúmulo, menos barulho, menos objetos e mais espaço para o ar circular. Menos coisas e mais verde, mais contato com a natureza. Tenho percebido como essa tribo está ganhando integrantes. A galera que está valorizando mais o ser do que o ter, mais o tempo do que uma conta bancária recheada às custas de dias e noites de incessante trabalho, andando em corda bamba contra o fluxo do materialismo. Dá gosto de ver. E me parece um processo de desapego também. Desapegar-se do velho mundo e buscar um novo, o seu próprio mundo, mais próximo da verdadeira essência.

Essa reviravolta no meio da vida, esse desapego de tantas coisas e muitas vezes do próprio ego é um processo dos mais bonitos que tenho presenciado. Mas ainda assim, talvez não dê tão certo se não for bem delineado, se não contar com pitadas de sabedoria e um tanto de planejamento. O desapego é bom, traz leveza, mas para muitos, é um treinamento novo, sem precedentes e difícil de lidar. Ainda assim, vale a pena sentir e conhecer melhor o verdadeiro significado do desapego.

Como bem disse a escritora Martha Medeiros: “longa vida aos que conseguem se desapegar do ego e ver a graça da coisa.”

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Sem recompensa

sexta-feira, 15 de julho de 2022

Maria circulava por aí. Todo santo dia, mil tarefas por fazer, atividades de não dar conta, alguma energia vital, e a vontade de fazer dar certo. Seu simples viver dentro da normalidade, a intrigava por uma razão: ela não conseguia compreender a razão de alguém sempre exigir-lhe recompensas por alguma coisa ou indagar-lhe sobre seus interesses pelos feitos. Ela sequer conseguia explicar, mas relatara o que lembrava.

Maria circulava por aí. Todo santo dia, mil tarefas por fazer, atividades de não dar conta, alguma energia vital, e a vontade de fazer dar certo. Seu simples viver dentro da normalidade, a intrigava por uma razão: ela não conseguia compreender a razão de alguém sempre exigir-lhe recompensas por alguma coisa ou indagar-lhe sobre seus interesses pelos feitos. Ela sequer conseguia explicar, mas relatara o que lembrava.

Certo dia, em seu trabalho, no executar normal de sua função, precisou se debruçar um pouco mais sobre algumas questões para entregar um resultado melhor a um cliente, cujo caso era menos rotineiro e mais complexo. O fez por dever de ofício, responsabilidade e intenção de solucionar a demanda. Ao terminar o serviço, aliviada e com sorriso no rosto, informou que tudo estava dentro da conformidade e finalizou a demanda. Eis que um colega , em sequência, indagou-lhe se aquele cliente era alguém importante a merecer tamanho empenho e exclamou que agora ele lhe devia um bom favor. Ela, que sequer havia pensado nisso, manteve-se calada e pôs-se a refletir.

Outro dia, ao se deslocar de carro, percebeu que o pneu estava furado. Encostou o veículo e em seguida, foi ajudada por uma pessoa do bairro que vinha logo atrás. Com o auxílio, sentiu-se aliviada e grata. Simpatizou-se com aquele que havia trocado seu pneu, e antes mesmo de perguntar como poderia retribuir a gentileza, ele afirmara em tom de brincadeira: “- você me deve essa, vou aparecer para cobrar.” Rindo, ela respondeu que sim. E seguiu.

Coisas assim, aconteciam todos os dias, desde gestos brandos a propostas absurdas. Existir fazendo a coisa imputada como certa já lhe colocaria em posição de credora e também de desconfiança, afinal, qual a necessidade de dedicar-se tanto sem querer nada em troca? Começou a reparar, então, como parte da sociedade se coloca, talvez de forma inconsciente, sobre um tabuleiro de jogo, em que ganhar vantagens, dever favores, passar a frente, eliminar adversários, somar pontos passa a incorporar o cotidiano. Esse jogo, Maria, simplesmente, não queria jogar.

Ela queria que sentir gratidão bastasse, que dever comprometimento fosse o necessário e conviver com cooperação, harmonia, sensibilidade e responsabilidade fosse regra e não exceção. Sentiu-se a “estranha no ninho”, o “peixe fora d´água”, o “patinho feio”. E conformou-se. E resistiu. Segue circulando por aí e esforçando-se em suas mil atividades, sem interesses escusos. Prefere um olhar grato. E lhe basta.

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Riso

sexta-feira, 08 de julho de 2022

Rir. Sorrir. Gargalhar. Eis práticas deliciosas de viver. Rir é bom demais. Esboça alegria, faz bem para a alma, libera o diafragma, alivia tensões. Sorrir faz muito bem. A expressão da felicidade, simpatia, bem estar, muitas vezes transborda o sorriso, vai além do que se pode supor. Gargalhar passa por aquele riso extravasado, que contagia. 

Rir. Sorrir. Gargalhar. Eis práticas deliciosas de viver. Rir é bom demais. Esboça alegria, faz bem para a alma, libera o diafragma, alivia tensões. Sorrir faz muito bem. A expressão da felicidade, simpatia, bem estar, muitas vezes transborda o sorriso, vai além do que se pode supor. Gargalhar passa por aquele riso extravasado, que contagia. 

A verdade é que tudo isso faz muito bem, tanto para quem sorri, ri, gargalha, quanto para eventual interlocutor dessas mensagens corporais que transcendem os movimentos do rosto. Até isso é uma escolha. Sorrir ou não sorrir para a vida. Acolher ou não o outro com uma mensagem de boas-vindas. Tem a ver com simpatia, empatia, otimismo, alegria.

Andando por aí, vou observando os semblantes que por mim passam. A maioria das pessoas carrega olhares sofridos, expressões carregadas. Sobrecarregadas. Vivemos tempos difíceis sob muitos aspectos, não podemos negar. E as faces taciturnas, creio, são o oposto de tudo aquilo que o sorriso sincero expõe. Desânimo, cansaço, antipatia, tristeza.

Por outro lado, o sorriso aberto não significa felicidade. Não necessariamente. Em tempos em que o que se demonstra em redes sociais toma dimensões inimagináveis, não raras vezes o ser mais triste apresenta o sorriso mais bonito. A gargalhada gostosa do vídeo, ensaiada. O riso sem brilho nos olhos. Será que dessa forma, sem verdade, sem consonância entre o que realmente se sente e o que aparenta, sorrir faz tão bem assim? Tanto se utiliza a poderosa ferramenta do sorriso para vender a imagem da felicidade que no dia a dia está longe de ser perseguida. Gente que sorri para as câmeras, que mostra sua faceta mais aprimorada da simpatia em fotos, mas que é incapaz de sorrir para as pessoas com quem topa na rua, para o porteiro do prédio, para o colega de trabalho. Gente que oferece sua melhor versão às postagens nas redes sociais, mas que é incapaz de sorrir em casa, que oferece ao convívio familiar sua expressão de descontentamento. Sem senti-lo.

São divagações – para não dizer devaneios. Mas fazem algum sentido. Vejo tantas pessoas essencialmente sem brilho que fazem questão de ensaiar o Sol para convencer terceiros sobre uma felicidade que por vezes passa longe. E qual a intenção de tudo isso? O riso é livre. Sorrir transforma, muda a energia, eleva a frequência, transforma o dia de alguém. E livre e ilimitado. Por que não sorrir de dentro para fora? Isso mesmo: de dentro para fora. Rir de a barriga doer. De dentro para fora. Gargalhar sem medo de ser feliz. Sem pose para fotos. Sem necessários registros. Sem foco na aparência. De dentro para fora. Sorrir para mudar o dia, para mudar a si mesmo, para contagiar o outro, para transformar a vibração do mundo.

É isso. Enxergar o lado bom que tudo tem e sorrir para a vida. É deveras transformador. De dentro para fora.

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