Dicotomia

Paula Farsoun

Com a palavra...

Paula é uma jovem friburguense, advogada, escritora e apaixonada desde sempre pela arte de escrever e o mundo dos livros. Ama família, flores e café e tem um olhar otimista voltado para o ser humano e suas relações, prerrogativas e experiências.

sábado, 04 de novembro de 2023

Nesta semana a minha coluna semanal em A VOZ DA SERRA, que escrevo com tanto orgulho, completa seis anos. Lembro-me como se fosse ontem como tudo começou e como me senti feliz com a oportunidade de ter esse espaço para fazer algo que sempre amei: escrever. No início, pensei sobre o que escreveria... qual seria a abordagem, como me expressaria aqui para vocês. E optei que traria sempre reflexões sobre o cotidiano, sociedade, sentimentos, por meio de uma escrita sincera e com intenção de gerar algo de bom a cada um dos leitores.

Nessa caminhada, venho me perguntando se tenho conseguido, ainda que um pouco, somar algum tijolinho positivo para as pessoas por meio das palavras em meio a tantas atribulações, problemas, informações, sofrimento e barulho que nos assolam todos os dias. Sei que repito os temas, que falo mais do mesmo, que muitas vezes os textos passam como algo que não têm tanto a acrescentar. Sou muito crítica comigo mesma e posso fazer essa autoanálise. Mas mesmo assim, eu sigo propondo a mesma linha. Insisto no que há de mais humano. Sempre.

Por aqui, encontramos sentimento e esse se repete dentro da gente mesmo, oscila, passa por fases. Mas tá ali, o tempo todo. A gente encontra verdade, que por mais cansativa que às vezes possa parecer, é o caminho que escolho traçar. É o que é. Sem mirabolância. A gente encontra empatia, e por mais piegas e banalizado que esse termo possa parecer, o sentimento que o envolve é nobre e raro e merece ser homenageado e relembrado. Quem leu um texto há dois anos pode não ser o mesmo leitor que vai ler hoje. E eu tenho como proposta atingir o maior número de pessoas a cada vez que eu trouxer as mazelas e as delícias dos sentimentos humanos.

São seis anos de “Com a Palavra”. Agradeço de coração a todos que guardam esses cinco minutinhos para ler cada coluna. Na minha vida, é um momento feliz e que merece ser registrado. Sou grata por alcançar esse marco que para mim é motivo de superação pessoal. Não sou uma comunicadora, nem jornalista, não tenho pretensões e nem interesse. Sou pessoa que ama escrever e que ama gente e que de alguma maneira precisa se expressar por meio das palavras. E aqui estou, lisonjeada pela oportunidade de ser colunista de A VOZ DA SERRA, veículo de comunicação tão importante para a nossa cidade, o qual eu literalmente cresci lendo e agora posso participar, escrevendo.

Confesso que estou dificuldade de comemorar. É estranho porque as mazelas do mundo nos lembram a todo instante de que precisamos celebrar cada segundo de vida, porque ela é preciosa e efêmera. Mas ao mesmo tempo, as mesmas mazelas nos impedem de viver a plenitude sabendo que elas existem. Vivendo a sua existência. Embora eu esteja bem, não posso estar plenamente feliz sendo parte de um planeta em que seres humanos estão sendo explodidos. Em que as pessoas estão dilaceradas, morrendo. Sou parte de um todo que está sucumbindo naquilo de mais humano que possa existir.

Sinto-me angustiada, dolorida, preocupada e profundamente triste pela guerra. Dói em mim de uma forma que não conseguiria explicar. Mas eu sei exatamente por que dói. Sinto meu coração em frangalhos. Posso tentar não assistir, não me conectar, procurar não saber. Não importa, dói em mim e não poderia não doer, inclusive porque se assim fosse, nada do que trouxe a vocês aqui semanalmente durante esses seis anos faria sentido. É o tipo de dor que não dá para fingir que não existe. E nem para não sentir.

Por aqui, felizmente está tudo bem. Mas no fundo – não tão fundo - a dicotomia também está latente em mim. A tristeza pelo que está acontecendo fez morada. Estou com dificuldade de seguir normalmente a vida cotidiana sabendo da dor do mundo. É ruim pensar no que fazer para o almoço, na petição que tenho que preparar, no conteúdo da próxima aula, na dor de cabeça que senti mais cedo, em como darei conta do dia de hoje ou o que farei no fim de semana enquanto há milhões de pessoas vivenciando a extrema dor. Não dá. É difícil seguir a vida como se tudo estivesse normal, porque não está. E o motivo está a milhares de quilômetros daqui.

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Paula Farsoun

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Paula é uma jovem friburguense, advogada, escritora e apaixonada desde sempre pela arte de escrever e o mundo dos livros. Ama família, flores e café e tem um olhar otimista voltado para o ser humano e suas relações, prerrogativas e experiências.

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