Saborosas lembranças da Páscoa

Tereza Cristina Malcher Campitelli

Momentos Literários

Tereza Malcher é mestre em educação pela PUC-Rio, escritora de livros infantojuvenis e ganhadora, em 2014, do Prêmio OFF Flip de Literatura.

segunda-feira, 01 de abril de 2024

Ontem, domingo de Páscoa, foi um dia em que boas lembranças me rondaram, como se fizessem uma ciranda de situações. O tempo passa rápido, mas, por sorte, nos deixa recordações. Ontem não quis me tocar com tristezas porque sempre existem, posto que em todos os momentos há hiatos, ausências e discrepâncias. Todavia, no domingo de Páscoa, fiz questão de me apegar ao aconchego da felicidade. E, por que não?!

Como o passado tocou em minhas faces desde que acordei, vou trazê-lo em pequenos flashes a esta coluna, como se oferecesse aos leitores uma aragem alegre. Quando recordamos coisas boas e falamos delas, levamos a quem nos escuta a prazerosa sensação que nos invade. 

Certa vez, participei de uma coletânea de contos de memória e receitas, na qual, depois de apresentar a receita, escrevi sobre uma lembrança especial que guardo com carinho. Quando pequena, minha avó Vera fazia balas de coco, e eu a ajudava a esticar a massa. Enquanto nós a puxávamos e a encolhíamos, ela contava histórias da sua infância em Conservatória, no estado do Rio de Janeiro, lugarejo perto de Vassouras. Foram momentos afetivos em que nossa relação era enriquecida pelo sabor das balas que derretiam na boca. Ah, nunca mais comi tão gostosas. 

Na Páscoa, como em tantos outros dias do ano, ela fazia um bolo de frutas cristalizadas que ninguém conseguiu fazer depois que ela viajou para o universo para brilhar como estrela. Cada neto tinha uma torta; a de chocolate era do Tuca e a de morango, minha. Na casa da dona Vera sempre tinha um quitute que ela fazia para se tomar com café ou chá no meio da tarde. Vovó trouxe para a vida adulta os hábitos da meninice na fazenda em Conservatória, onde a numerosa família se reunia para o sagrado lanche da tarde. Costume que, infelizmente, vem se perdendo com o tempo. Hoje, o que restam são as xícaras, os bules, os pratos expostos em cristaleiras como relíquias quase intocadas. 

Depois me lembro dos ovos de Páscoa que escondia nos canteiros do jardim para meus filhos quando pequenos. Na verdade, era uma competição entre os dois e os amigos que estavam com eles; sempre tinha uma criança junto para compartilhar o desafio de achar os melhores, inclusive antes do meu cachorro, Zeus, encontrar. Ainda de pijama e com os pés descalços na grama, eles iam, agachados, procurando-os entre as plantas, raízes e pedras. Também não posso me esquecer dos ovos que eram trocados entre nós, os adultos, quando não fazíamos de forma diferente das crianças: alguns eram devorados, enquanto outros estocados na geladeira, ou mesmo nos armários de roupa, para serem saboreados ao longo da semana.

E as canjicas da Sexta-Feira Santa? Hum... Leite de coco, canjica, leite condensado, paçoca no café da manhã e no lanche. Mas o melhor nunca foi saboreá-las, mas compartilhá-las, conversando em família, colocando os papos em dia, fazendo recordações. E a pesagem na balança depois da comilança? Sempre aumentava diante dos nossos olhos assustados na segunda-feira, mas com brilho de felicidade. 

Nesta vida, passei por tantos bons momentos pascoalinos. Certamente, outros virão. Muitos. Assim espero que seja para todos.

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Tereza Cristina Malcher Campitelli

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Tereza Malcher é mestre em educação pela PUC-Rio, escritora de livros infantojuvenis e ganhadora, em 2014, do Prêmio OFF Flip de Literatura.

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