A seca na Europa é uma amarga realidade

Max Wolosker

Max Wolosker

Economia, saúde, política, turismo, cultura, futebol. Essa é a miscelânea da coluna semanal de Max Wolosker, médico e jornalista, sobre tudo e sobre todos, doa a quem doer.

terça-feira, 25 de abril de 2023

O Brasil é um país que tem de jogar as mãos para os céus e chamar Nosso Senhor de compadre. Pelo menos no que diz respeito a água, esse líquido tão precioso cuja falta ameaça a vida humana, a fauna, a flora e toda a cadeia produtiva de um país. Apesar de termos as grandes secas do Nordeste, cuja história remonta à nossa descoberta, passando pelo Brasil Colônia, Império e República, de uma maneira ou de outra, conseguiu-se mitigar a sede da população que mora nessa região árida. Agora, com a transposição das águas do Rio São Francisco, iniciada no primeiro governo do PT e quase concluída no mandato de Jair Bolsonaro, esse problema continua a existir, ou seja, a carência de chuvas, mas pelo menos a população será servida desse precioso líquido. Pelo menos, temos um rio caudaloso e que pode ser desviado para irrigar regiões áridas do Nordeste.

Infelizmente, não é o que acontece na região da Catalunha espanhola, que vive um drama após 31 meses sem chuvas, isso mesmo dois anos e meio. A situação é tão grave que o jornal Le Monde noticiou no último domingo, 23, que o canal de irrigação de Urgel, situado na província catalã de Lérida, no norte da Espanha permanecerá aberta por somente um mês. Na última sexta feira, 21, a equipe de funcionários dessa infra estrutura hidráulica que transporta as águas do Rio Segre até os municípios vizinhos e que é responsável pela irrigação de 50 mil hectares de campos e pomares decidiu fechar as comportas, abertas em 27 de março.

Amadeus Farré, presidente da comunidade de funcionários do canal de Urgell, disse que é preciso reservar as águas que restam nas duas barragens do Segre para os 120 municípios, as duas mil fazendas de criação e as 300 indústrias que dependem dessa água, rezando para que chova a qualquer momento.

O mesmo acontece na região dos Pireneus Orientais, na França, onde as torneiras estão apenas pingando água. O estado sofre uma restrição de água, decorridos um ano, tão radical que vários municípios são obrigados a uma restrição de captação. À medida que os lençóis de água mais superficiais se esgotam é necessário furar poços mais profundos. A situação é tão grave, as pessoas envolvidas com esse problema nunca escutaram falar de um problema tão grave anteriormente, e estão preocupadas com o que lhes aguarda, como a Catalunha Francesa passará o verão. Assim que a captação do líquido precioso atingiu o limite mínimo de captação, os produtores foram obrigados a aceitar uma divisão restrita de distribuição, para que todos possam ser atendidos.

De acordo com o site https://www.publico.pt/2022/08/24/azul/noticia/seca-europa-caminho-pior-ultimos-500-anos-2018074, a seca que está a assolar o continente europeu (e não só) deverá tornar-se a seca mais grave dos últimos 500 anos. “Esta seca parece ser pior do que a de 2018, que era a pior desde o ano 1500”, diz o investigador Andrea Toreti, numa resposta dada por email ao público. “A seca deste ano é mais intensa, persistente e afeta uma área muito maior” do que a de 2018, explica o cientista do Centro de Investigação Comum (JRC, na sigla em inglês) da União Europeia.

Um outro problema que preocupa as autoridades é que nessa época do ano (primavera e verão, no continente europeu) acontecem os grandes incêndios que assolam países como Espanha, Portugal, Grécia, Irlanda, sem falar na Austrália, que também sofre com a seca. Quando isso acontece é preciso grandes quantidades de água para restringir ou apagar o fogo.

As pessoas envolvidas com o meio ambiente, cientistas e ecologistas principalmente, vem desde a muito alertando os governos sobre a diminuição da camada de ozônio e as graves consequências que isso acarretaria ao clima mundial. Infelizmente, as medidas protetivas têm se mostrado insuficientes, pois as alterações climáticas se agravam ano a ano, haja visto a diminuição, por derretimento, das geleiras nos polos e o aumento da estiagem em vários continentes. É de se crer que não estará longe o dia em que o objetivo das guerras não será mais o de expansão ou econômico, mas sim para a obtenção de água. Em vez de navios petroleiros singrando os mares, teremos navios transportando o líquido precioso em seus tanques.

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