Na falta do que dizer, fala-se em golpe

Max Wolosker

Max Wolosker

Economia, saúde, política, turismo, cultura, futebol. Essa é a miscelânea da coluna semanal de Max Wolosker, médico e jornalista, sobre tudo e sobre todos, doa a quem doer.

quarta-feira, 18 de maio de 2022

Li no portal de notícias Uol, na segunda feira, 16, a seguinte pérola: “Partidos veem risco de Jair Bolsonaro tentar golpe, e autoridades se calam”. Confesso que fico pasmo quando vejo esse tipo de assunto vir à baila, pois me parece coisa de quem não tem o que fazer e começa a disseminar boatos ou inverdades, com o intuito de disseminar o medo ou, o que é mais grave, para criar mais problemas com o objetivo de tumultuar por tumultuar.

Em seu artigo "O Golpe de Bolsonaro", publicado na “Ilustríssima”, Wilson Gomes (professor da Universidade Federal da Bahia e autor de "Crônica de uma Tragédia Anunciada", domingo, 15, na Folha) ensina os dois significados da palavra, um estimulando o outro. Tem o mais comum, que é sinônimo de tramoia, farsa, embuste, logro, fraude. O outro, muito conhecido dos brasileiros desde a Proclamação da República, significa tomada violenta do poder pelos militares. "O governo Bolsonaro e os generais seus acólitos jogam com os dois sentidos do termo", constata Gomes. "Mas, afinal, o golpe virá, ou é só mais uma das enganações de um movimento político que não existe sem fraude ou engodo?". Longe de mim contestar um emérito professor da Universidade Federal da Bahia, apesar da Folha não especificar qual matéria por ele lecionada, mas posso entrar nessa discussão, sem medo de errar.

Primeiro doa a quem doer, o movimento político a que se refere o mestre existe sim, pois é o resultado de 57,8 milhões de votos que elegeram o presidente atual; se ele não existe sem fraudes ou engodo, saberemos nas próximas eleições. O que não se pode negar é o fato de apesar de sofrer uma oposição ferrenha, jamais vista na história da república brasileira, Jair Bolsonaro vai entregar ao sucessor ou a ele mesmo, um país muito melhor do que aquele oriundo de 14 anos de PT e mais dois de Temer.

O mestre baiano cita ainda: “Na dúvida, acho melhor parar de falar esta palavra porque é isso que os golpistas querem: disseminar o medo e a insegurança na população que irá às urnas em outubro, para desviar a atenção do que realmente interessa, a grave crise econômica que assola as famílias brasileiras”. Esquece ele que ao final do governo do PT, englobando Luís Inácio por oito anos e Dilma Rousseff por seis anos, a taxa de desemprego alcançou 12 milhões de cidadãos e a inflação ao final do ano de 2016 era de 10,71 % (fase final do governo Dilma). Esqueceu ainda que o governo petista não foi assolado por dois anos da pandemia do Covid 19, nem conviveu com a guerra da Ucrânia. A aludida crise econômica é mundial e não poupou nem mesmo os Estados Unidos, onde a inflação de 6,7% (em 2021) já pulou para 8,5 % nos primeiros cinco meses de 2022. Ela atingiu o maior nível desde 1982, refletindo desequilíbrios da pandemia; os preços altos levarão o Banco Central de lá a subir os juros. É bom que se diga também que a alta dos combustíveis na terra do Tio Sam é significativa. (O preço da gasolina nos EUA em 2022 está em R$ 5,13, o litro (US$ 4,17, o galão) em 6 de abril). Na Europa os preços da gasolina nos postos são bem mais altos, se aproximando de R$ 13, o litro em alguns países, atualizado em 6/4/2022). Na terra do Tio Sam, em 2019 era de US$ 2,56 por galão (um galão é igual a 3,78 litros). Mas, isso não interessa ser revelado por essas mentes tacanhas, pois como já foi dito, mostram que a crise é mundial.

Cumpre dizer, também, que um golpe para ser engendrado precisa do apoio dos chefes das forças armadas o que não parece ser o caso presente; eles podem e com certeza repudiam a maneira com que a figura do chefe da nação vem sendo atacada, mas não demonstram a mínima intenção de usar a força para apaziguar o país. Quem viveu 1964 sabe que a desordem reinante por aqui, com ameaça às instituições e mesmo à democracia brasileira foi o estopim para o 1º de abril.

No entanto, esse movimento não se iniciou num simples estalar de dedos, ele foi gestado durante meses e iniciado apenas no momento em que a situação de normalidade democrática estava sob ameaça. Nenhum presidente, seja do país que for, inicia um movimento sem o apoio das forças armadas e tenho certeza que nossos chefes militares jamais apoiarão uma tentativa de fechamento do Congresso Nacional pelo atual governo. Claro está que se a ordem pública e social estiver sob ameaça, aí sim, as forças armadas cumprirão o seu papel de garantir a ordem constitucional do Brasil.

O resto é conversa para boi dormir, fruto da inveja de 43 milhões de eleitores que não aceitam até hoje o resultado das urnas de 2018. Se tivessem antevisto a derrota de Haddad tudo fariam para fraudar aquelas eleições e, aí, isso seria normal pois pimenta só arde no do vizinho.

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