Dr. Carlos Alberto Pecci: o médico mais antigo de Nova Friburgo ainda em atividade

Max Wolosker

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Economia, saúde, política, turismo, cultura, futebol. Essa é a miscelânea da coluna semanal de Max Wolosker, médico e jornalista, sobre tudo e sobre todos, doa a quem doer.

quarta-feira, 14 de junho de 2023

Há 15 dias falei do médico mais idoso do mundo, ainda trabalhando, o francês Christian Chenay, de 102 anos, com mais de 70 anos de profissão. Hoje falarei do médico mais antigo, ainda clinicando em Nova Friburgo, com 61 anos no exercício da medicina: trata-se do meu querido amigo Carlos Alberto Pecci. Fiz uma entrevista com ele e colhi dados importantes de sua vida, para tentar, na coluna desta semana, homenagear esse colega muito estimado pela classe médica de nossa cidade.

Nascido em Nova Friburgo, em 8 de maio de 1934, na Rua General Osório, desde pequeno sempre quis ser médico, o que talvez fosse complicado, já que era oriundo de uma família humilde, sendo seu pai sapateiro, o que, em princípio, tornava seu sonho pouco provável. Terminado o segundo grau, trabalhando como entregador na quitanda de seu irmão Osmar Pecci, conheceu uma família que passava férias em nossa cidade e, um dia lhe foi perguntado pelo casal o que pretendia ser. Modesto, característica pessoal de Pecci, disse que seria quitandeiro, pois sua vontade de ser médico era impossível, pois sua família não tinha condições de bancar seus estudos em Niterói ou no Rio de Janeiro.

O acaso bateu-lhe à porta, pois um dos filhos desse casal era médico em Niterói, além de secretário de Saúde do antigo Estado do Rio de Janeiro. Este, quando soube do desejo de Pecci, conseguiu um emprego para ele, na secretaria do Hospital Ary Parreiras, na antiga capital do estado. Se dedicando aos estudos para enfrentar um vestibular, conseguiu ser aprovado, em 1954, e matriculou-se na faculdade de Medicina da Universidade Federal Fluminense, coroando o sonho de ser médico, em 1961, quando recebeu seu diploma.

Começou a trabalhar como plantonista do antigo Samdu (Serviço de Assistência Médica Domiciliar de Urgência), em Niterói, e abriu um consultório na Avenida Amaral Peixoto. Nessa época, casou-se com a também niteroiense Iara Pecci e, quatro anos depois, já tendo terminado o curso de especialista em Ginecologia e Obstetrícia, resolveu voltar para sua terra natal. Assim, sua vida profissional começou em Friburgo no ano de 1965, portanto há 58 anos.

Seu início aqui não foi fácil, pois apesar de friburguense, a classe médica da época era muito fechada e ainda existia dois grupos antagônicos com uma grande competição entre eles. Mas, os horizontes foram se abrindo e Carlos Pecci foi admitido no serviço de urgência que funcionava na então avenida General Osório. Posteriormente, ele conseguiu entrar no Hospital São Lucas e na antiga maternidade da LBA (Legião Brasileira de Assistência), hoje Maternidade Mário Dutra de Castro, no centro da cidade, administrada pela prefeitura.

Uma curiosidade na vida profissional de Pecci é que ele foi obrigado no início, aqui em Friburgo, a especializar-se em Proctologia, curso que foi feito em Niterói, pois a vaga oferecida a ele, no São Lucas era a de proctologista. Tanto que quando abriu seu consultório atendia nas duas especialidades, mesmo que seu sonho, ao entrar para a medicina, fosse ser ginecologista e obstetra. A partir daí sua carreira progrediu e ele passou a ser conhecido e atuante na classe médica friburguense.

Apesar de não ter exercido nenhum cargo político, Pecci foi diretor da maternidade, do Hospital São Lucas, do serviço de Ginecologia e Obstetrícia desse mesmo hospital e, atualmente é diretor do ambulatório do São Lucas e da Associação Médica de Nova Friburgo. Aliás, considerado seu eterno presidente, sua eleição foi fundamental para pacificar a classe médica, na primeira vez em que presidiu aquela instituição, dada a sua índole tranquila e pacificadora. Ele ainda atende, aos mais necessitados, no ambulatório Bento XVI, da Catedral de São João Batista, com o diferencial de ter sido um de seus médicos fundadores.

Aos 89 anos, nosso medico mais idoso em atividade, não pensa em se aposentar e continua a atender seus pacientes, em seu consultório particular, como ginecologista e obstetra. Ele aconselha os colegas que estão chegando em Friburgo, a se darem bem com todo mundo, cumprimentar as pessoas na rua, a serem tolerantes, pois apesar de nossa cidade ter crescido, ainda é provinciana. Aliás, foi essa colocação que sua filha Carla Pecci, também médica, fez questão de ressaltar.

Ele ensinou aos três filhos, Carla, Cláudio Pecci, que seguiu a carreira do pai, e a Ronaldo Pecci, este atuando na área da informática, a serem humildes e a tratarem a todos com cortesia. Na realidade ele quis transmitir aos novos, de que ser médico é um dom e que o paciente tem de ser tratado com respeito e cordialidade. Nada de ser orgulhoso e se dirigir a todos da mesma maneira respeitosa

Como curiosidades desses 58 anos de vida médica na cidade podemos citar dois casos engraçados. Um ocorreu num congresso de Ginecologia aqui em Friburgo. Nessa época, os laboratórios que patrocinavam tais congressos, faziam sorteios de prêmios como televisores, faxes etc. Nesse, especificamente, ia ser sorteado um fax. Estavam reunidos três médicos e o representante perguntou a dois deles se já tinham tal aparelho e eles disseram que não. Ao ser perguntado Pecci, que não tinha entendido direito a pergunta, disse que sim, mas só não se lembrava do nome dela. Ele pensou que fax fosse a faxineira. O outro caso, mostra a sua perspicácia. Com tantos anos de profissão, ele já trouxe ao mundo três gerações a avó, a mãe e a neta. Um dia foi parado na rua por uma antiga cliente que lhe apresentou a mãe e falou: “Foi o senhor que fez o parto de mamãe”. Aí a mãe informou que o parto tinha sido feito na maternidade. Como ele dava plantão às quartas feiras, disse: “Há foi numa quarta-feira”, no que a mulher abriu um sorriso e replicou: “puxa! que memória o senhor tem”.

Foi um prazer enorme ter feito essa entrevista com o médico e colega Carlos Pecci. Desejo vida longa a essa pessoa carismática, que aos 89 anos ainda exerce a profissão que desde pequeno foi a sua paixão.

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