27 de setembro, dia de São Cosme e Damião

Max Wolosker

Max Wolosker

Economia, saúde, política, turismo, cultura, futebol. Essa é a miscelânea da coluna semanal de Max Wolosker, médico e jornalista, sobre tudo e sobre todos, doa a quem doer.

quarta-feira, 29 de setembro de 2021

Na realidade existe uma controvérsia em relação à data de comemoração desses santos, pois nesse dia a igreja católica comemora, também, a de São Francisco de Paula. Por isso, ela foi alterada para 26 de setembro, já que São Francisco de Paula é outro santo muito venerado pelos católicos. Mas, como a tradição fala mais alto, a data que permanece é mesmo o dia 27. Nesse dia, aliás, devemos redobrar a atenção, pois reza a lenda que os dois irmãos, que eram médicos, distribuíam balas para as crianças para mitigar as dores de seus sofrimentos. Daí que muitos devotos para agradecerem as graças recebidas confeccionam saquinhos com muitas guloseimas, para distribuir às crianças. E, como elas correm pelas ruas à cata de doces, há o risco de se acidentarem ou serem atropeladas.

Assim como em relação a muitos santos nascidos nos primórdios da religião católica, pouco se sabe sobre a origem de São Cosme de São Damião. Tudo indica que nasceram por volta de 260 da era cristã, na cidade de Egéia (agora Ayas), na Ásia Menor. Eram gêmeos, filhos de uma família nobre e a fé cristã foi lhes incutida por sua mãe, de uma maneira tão forte que Jesus Cristo passou a ser o centro de suas vidas. Tinham mais três irmãos que, posteriormente também foram martirizados em função de sua fé em Cristo.

Ainda jovens decidiram estudar medicina e foram para a Síria, que, na época, era uma província do Império Romano, para iniciar a aprendizagem. Após diplomados, passaram a exercer a profissão atendendo à população carente das redondezas de onde viviam. Uma particularidade da atuação deles é que não aceitavam pagamento pelos serviços prestados, não importava a classe social a que pertencessem seus pacientes. Muitas de suas curas eram fruto se seus conhecimentos científicos e de orações. Essa era, também, uma maneira de atraírem pessoas para sua crença.

A associação de doces com os santos, além da já citada acima de que seria uma forma de mitigar o sofrimento das crianças, tem outra explicação. De acordo com o professor Agnaldo Cuoco Portugal, do Departamento de Filosofia da Universidade de Brasília (UnB), como havia muita repressão na época da escravidão no Brasil aos cultos africanos, os negros precisavam adorar suas divindades sempre associando a algum santo católico. E foi isso que aconteceu com São Cosme e São Damião. Naquela época, os escravos africanos não tinham a possibilidade de cultuar os seus orixás, as suas divindades livremente. Eles tinham que fazer essa associação com alguns santos católicos, para não serem perseguidos. A tradição de dar doces tem a ver com esses dois orixás crianças que foram associados a Cosme e Damião. 

“Os irmãos não cobravam absolutamente nada pelos tratamentos, mas tudo faziam com caridade e dedicação. A fama de Cosme e Damião despertou a ira do imperador Diocleciano, implacável perseguidor do povo cristão. O governador deu ordens imediatas para que os dois médicos cristãos fossem presos, acusados de feitiçaria e de usarem meios diabólicos em suas curas”, conta Antônio Leão, que é padre da Igreja Católica em Nova Friburgo, na Região Serrana do Rio.

Os irmãos foram torturados e mortos por se negarem a aceitar os padrões religiosos do imperador romano. Hoje santificados, Cosme e Damião são lembrados, através dos doces que costumavam distribuir como exemplos de solidariedade e cuidado. 

Conta ainda a história que na sua execução foram apedrejados e flechados, mas que não foram atingidos; seus algozes, então, resolveram queimá-los vivos numa fogueira, mas o fogo não os atingiu. Tentaram afogá-los num rio, mas foram salvos por anjos; então, partiram para um método mais radical e ambos foram degolados.

Nas cidades do interior a tradição das crianças baterem de porta em porta para ganharem doces, ainda permanece viva. Nas grandes cidades, com o advento da violência, essa prática está em extinção, o que é uma pena.

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