Turismo regional pode não ser um vetor de expansão do vírus

Vilas de Friburgo têm número bem menor de casos que pequenas cidades sem apelo turístico
sexta-feira, 22 de janeiro de 2021
por Jornal A Voz da Serra
O Lago de Lumiar (Fotos: Henrique Pinheiro)
O Lago de Lumiar (Fotos: Henrique Pinheiro)

Dez meses depois que os casos de Covid-19 levaram ao primeiro decreto de fechamento da economia municipal, em março de 2020, e da publicação, na última segunda-feira, 18, de um novo decreto endurecendo as medidas restritivas, foi concluído esta semana um levantamento que coloca em dúvida se o turismo regional – feito com os veículos dos próprios viajantes – teria, realmente, um impacto expressivo sobre a expansão do número de casos de coronavírus em Nova Friburgo.

A partir do último relatório sobre a evolução da pandemia no município, a Associação do Comércio e da Indústria do distrito de São Pedro da Serra (Acisps) extraiu os dados específicos dos distritos turísticos friburguenses de Lumiar e São Pedro da Serra e comparou com o avanço da doença em pequenas cidades do interior do Estado do Rio de Janeiro, com número de habitantes semelhantes, mas onde o turismo não tem relevância.

“O resultado foi espantoso até para nós. O levantamento deixa claro que o turismo regional, em que os hóspedes e visitantes chegam em carros próprios, viajando na companhia de pessoas da sua própria família, que é o movimento típico de Nova Friburgo, não parece influir de forma relevante na evolução dos casos da doença”, comenta Rodrigo Mello, presidente da Acisps.

No levantamento, a associação comparou o número de casos acumulados desde o início da pandemia nas duas vilas turísticas (São Pedro e a vizinha Lumiar), que, pela distância do Centro de Nova Friburgo, mantêm rotinas bem distintas, como se pequenas cidades fossem, como a vizinha Santa Maria Madalena e Rio das Flores, no Sul fluminense, por exemplo, que ficam em altitudes próximas de Lumiar, e Macuco, conhecida por ser a cidade de menor população do Estado do Rio. Juntos, os distritos de São Pedro da Serra e Lumiar somam perto de 15 mil habitantes e têm, pelos dados mais recentes, 150 casos confirmados da nova doença (101 em Lumiar e 49 em São Pedro). Enquanto isso, Santa Maria Madalena, com 10.282 habitantes, acumula 432 casos confirmados. Rio das Flores, com 8.686 habitantes, tem 351 casos. E Macuco, com apenas 5.530 habitantes (pouco mais que a vila de São Pedro da Serra sozinha), já notificou 403 casos positivos.

“Se o turismo nessas três cidades é uma atividade irrelevante, como explicar isso? É preciso admitir que o impacto do turismo regional, feito em carros próprios, é pouco significativo para elevar o número de casos”, acredita o responsável pela pesquisa, o jornalista João Carlos Leal.

Morador de São Pedro da Serra há quase 18 anos, onde tem uma pequena pousada, e com passagens por veículos como O Globo, Jornal do Brasil, Revista Isto É, TV Bandeirantes e O Dia, Leal acredita que as decisões têm sido tomadas com base “em muito achismo e pré-conceitos”, causando desnecessários prejuízos à economia da região e do município, sem produzir efeitos relevantes sobre a evolução do número de casos.

“Já perdemos metade das lojas e dos restaurantes da vila de São Pedro no primeiro fechamento, no ano passado. Agora, dependendo da duração das novas medidas, outras poderão fechar. Isso significa perda de renda, de empregos e de relevância turística”, alerta Rodrigo Mello. “A experiência de quem ainda vem nos visitar e, também a outros bairros e ao centro de Nova Friburgo, e vê tão poucas opções abertas será ruim e vai ser compartilhada. Vamos levar muito tempo para recuperar a imagem de destino turístico. E tudo isso, para quê? Para descobrir que a atividade turística regional, feita como acontece em Friburgo, seguindo todos os protocolos e cuidados, não parece gerar impacto relevante sobre a evolução dos casos na cidade”, observa o presidente da Acisps.

 

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