Menos de dois meses após o presidente da Assembleia Legislativa do Estado do Rio (Alerj), André Ceciliano, vir pessoalmente a Nova Friburgo para anunciar um repasse de R$ 6 milhões para a construção da Biblioteca Internacional Machado de Assis (Bima) na Praça do Suspiro, o governo Johnny Maycon abriu uma consulta pública relâmpago para a população friburguense opinar sobre a destinação mais adequada ao terreno. A enquete a toque de caixa para um projeto de grande envergadura e que já se discute há anos tem curtíssima duração: é válida desta mesma terça-feira, 26, dia em que foi anunciada, apenas até a próxima terça, 2 de agosto - em pleno período de férias escolares, dificultando a participação de alunos, professores e demais entes ligados à cultura e à educação.
Na consulta popular relâmpago, três projetos de uso do espaço são apresentados e uma quarta opção será reservada para o envio de sugestões. Entre as opções elencadas pela prefeitura, a primeira é a instalação da Bima, cujo projeto já foi aprovado pela Câmara Municipal e prevê a construção de um espaço multifuncional voltado para a cultura, o conhecimento e a integração entre países. A segunda alternativa é a construção de um Beer Garden, ou Praça da Cerveja, cujo projeto pretende criar um ponto de convergência para o turismo cervejeiro e a cultura dos povos colonizadores de Friburgo, por meio de quiosques padronizados, um memorial da produção cervejeira na região, espaço para shows e uma fonte. O terceiro projeto visa a destinar o terreno para a realização de eventos e apresentações artísticas e culturais como o recente “O Amor sobe a Serra”, realizado em junho por ocasião do Dia dos Namorados, e o Festival de Inverno que acabou de acontecer.
Oficialmente, a prefeitura alega que a enquete pública é “uma forma democrática e inclusiva, de caráter inteiramente consultivo, com o objetivo de reunir opiniões e resguardar o interesse público”. A participação, pela internet, ficará aberta a toda população através do site www.novafriburgo.rj.gov.br. As colaborações serão feitas por um formulário eletrônico e os interessados precisarão apenas de um e-mail para participar, “o que deve garantir a isonomia e o real interesse popular”. “Com essa iniciativa, a população poderá auxiliar o poder público na tomada de decisão sobre qual projeto existente atenderá melhor Nova Friburgo”, explicou a prefeitura em nota.
Espaço de R$ 5,8 milhões
O terreno de mais de dois mil metros quadrados foi desapropriado pelo governo municipal em 2019, ainda na gestão Renato Bravo, por R$ 5,8 milhões, “para instalação de equipamentos urbanos, de utilidade e interesse público”. A compra fez parte de um pacote de quase R$ 26 milhões em obras anunciado pelo então prefeito. O valor, segundo a prefeitura explicou na época, foi fruto de uma venda de ações que, a princípio, estava condicionada ao projeto de aquisição do prédio da antiga Fábrica Ypu para a instalação de órgãos municipais. No entanto, como o município perdeu o processo que movia para efetuar a compra, optou por uma nova destinação do dinheiro.
Além da ampliação da Praça do Suspiro, fazia parte desse pacote de intervenções urbanas a construção da via compartilhada para ciclistas e pedestres entre o Paissandu e Duas Pedras; a conclusão das obras de expansão do Hospital Municipal Raul Sertã; a instalação de cobertura na Estação Livre; e a reforma de quadras esportivas em diversos bairros.
O projeto da Bima
Apesar de o nome “biblioteca” remeter ao passado, o projeto da Bima, muito mais que um museu, prevê um moderno complexo multicultural e multifuncional, semelhante ao Museu do Amanhã, no Rio. Menina-dos-olhos do secretário da Casa Civil de Johnny Maycon, Pierre Moraes, a primeira smart physical library do mundo terá alcance internacional e contará com livros físicos e digitais, além de vários recursos tecnológicos. Terá ainda espaços para e-games, seminários e exposições de todas as linguagens artísticas, bem como shows e eventos para até 12 mil pessoas.
"A Bima será uma renascença para Nova Friburgo e a região, que desde 2011 vem sentindo impactos econômicos negativos, principalmente devido à grande tragédia climática e, atualmente, à pandemia. A Bima vai trazer turistas, impulsionar a economia e colocar Nova Friburgo em evidência mundialmente. A Bima já é reconhecida internacionalmente e defendida até mesmo pela Unesco", destacou Pierre no encontro com Ceciliano em 6 de junho, quando o deputado estadual anunciou para o projeto o repasse de R$ 6 milhões economizados pela Alerj, durante o evento "Café com Desenvolvimento", na Câmara de Dirigentes Lojistas (CDL) - foto acima. O repasse, segundo o presidente da Alerj, será por meio de convênio entre a Prefeitura de Nova Friburgo e a Fundação Anita Mantuano de Artes do Estado do Rio (Funarj). O aporte financeiro será para a cooperação técnica internacional e para realização do projeto básico e executivo da obra.
O projeto homenageará artistas e escritores que nasceram ou tiveram momentos marcantes em Nova Friburgo, como Guignard, Carlos Drummond de Andrade, Rui Barbosa, Machado de Assis, Joaquim Nabuco, Villa-Lobos, Lygia Pape, Casimiro de Abreu e Benito di Paula. A Bima também contará com um calendário anual em homenagem às dez colônias de Friburgo. O ousado traço arquitetônico inclui espaços como auditório com 70 lugares para aulas e palestras e eventos de e-games, atraindo jovens para o ambiente literário; um cineteatro com cem lugares para apresentações musicais, teatrais e audiovisuais; lojas; acervos de livros físicos e digitais nas línguas nativas dos 193 países que integram a ONU; piso em LED alternando trechos literários nos mais variados idiomas; e praça de alimentação.
O projeto prevê ainda a supressão da rua que atualmente contorna a Praça do Suspiro, dando origem a um grande boulevard com capacidade para 12 mil pessoas. A necessidade de vagas de estacionamento será suprida com a construção de um edifício-garagem próximo, cuja receita será parcialmente direcionada ao fundo que reunirá os recursos necessários à manutenção da Bima.
Com o projeto aprovado na Câmara em 2021, a prefeitura já poderia dar a largada na captação de recursos para a execução da obra, incluindo, além da Alerj, receitas federais através da Lei Rouanet e do Fundo Nacional de Cultura.
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