Risco de apagão na educação brasileira: queda na procura pela carreira de professor

Até 2040, o Brasil enfrentará um déficit de 235 mil professores, estima o Semesp
quinta-feira, 26 de dezembro de 2024
por Jornal A Voz da Serra
(Foto: Freepik)
(Foto: Freepik)

A formação de professores enfrenta um momento crítico no Brasil. Com o desinteresse crescente por licenciaturas e um índice alarmante de evasão, especialistas alertam para um cenário preocupante nas próximas décadas: a falta de docentes pode comprometer seriamente a qualidade da educação básica no país.

Dados recentes da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp) e do Ministério da Educação (MEC) mostram uma redução tanto no número de candidatos quanto na conclusão de cursos de licenciatura. Entre 2010 e 2021, apenas um terço dos formados em licenciatura continuaram na profissão. Esse abandono reflete não apenas uma desvalorização da carreira docente, mas também uma crise estrutural que envolve baixos salários, precárias condições de trabalho e uma percepção de instabilidade no mercado.

A situação tem reflexos diretos na educação básica: uma projeção do Sindicato das Entidades Mantenedoras do Ensino Superior (Semesp) estima que, até 2040, o Brasil enfrentará um déficit de 235 mil professores.

Na Unicamp, por exemplo, os cursos de licenciatura apresentam índices de conclusão bem abaixo da média da instituição. Enquanto 63% dos alunos de graduação concluem seus cursos, esse número cai para apenas 46% entre os estudantes de formação docente. Já a taxa de desistência atinge 54%, mais da metade dos matriculados.

A evasão tem duas causas principais: dificuldades acadêmicas e falta de perspectivas profissionais. No âmbito profissional, a falta de concursos regulares e as condições de trabalho desfavoráveis, como o excesso de temporários e a infraestrutura precária das escolas desanimam os aspirantes à profissão.

A carreira docente no Brasil enfrenta desafios estruturais que desestimulam a procura pela profissão. As condições de trabalho frequentemente envolvem escolas precarizadas, salas de aula superlotadas e ambientes marcados pela insegurança, tanto física quanto emocional. Além disso, os salários oferecidos, em geral, são baixos quando comparados a outras carreiras que exigem formação equivalente, o que agrava a percepção de desvalorização. 

A instabilidade no emprego também é um entrave: a realização esporádica de concursos públicos e a predominância de contratos temporários limitam a previsibilidade de longo prazo na carreira. Por outro lado, mesmo com a existência de iniciativas locais que oferecem remunerações mais atrativas e boas condições de trabalho, a falta de divulgação efetiva dessas oportunidades faz com que muitos candidatos potenciais permaneçam alheios a essas possibilidades.

A pandemia de covid-19 agravou ainda mais o cenário. Durante os períodos de aulas remotas, muitos estudantes de licenciatura tiveram suas experiências de estágio interrompidas ou limitadas, perdendo o contato direto com a realidade escolar. Esse afastamento aumentou a sensação de distanciamento e desmotivação em relação à profissão.

Como reverter o cenário

Para especialistas, é essencial uma política nacional de valorização do magistério. Isso inclui a realização de concursos públicos frequentes, aumento dos salários e melhorias nas condições de trabalho. Além disso, é necessário fortalecer os programas de apoio acadêmico para estudantes de licenciatura, especialmente aqueles vindos de escolas públicas. Sem essas ações, o Brasil corre o risco de ver um apagão educacional se agravar, comprometendo não apenas o presente, mas também as futuras gerações de estudantes.

 

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