No último sábado, 30 de julho, ainda no decorrer do quinto dia da chamada “consulta pública” lançada pela prefeitura para, segundo o prefeito, dar uma resposta à sociedade sobre o melhor destino do terreno localizado na Praça do Suspiro, em resposta ao vídeo publicado por ele em rede social, questionando o que “estaria por trás de matéria do jornal da cidade”, temos a esclarecer:
O projeto da Biblioteca Internacional Machado de Assis (Bima), um complexo cultural, após quase oito meses de lançamento público, com apresentação para entidades como a CDL e a Acianf, e que na ocasião contou com a presença do então presidente da Alerj, André Ceciliano, na assinatura do compromisso de destinação de R$ 6 milhões para o projeto, já conta com avançados desdobramentos em órgãos renomados ligados à cultura, recebendo elogios públicos do governador Claúdio Castro, quando em visita a cidade no mês passado.
Diante de uma plateia com cerca de 200 pessoas, foi anunciada a retomada das obras do Hospital do Câncer, anseio de todo friburguense e a realização do projeto da Bima. Não houve críticas nem fizemos matérias “inconformadas” com a consulta pública ainda em andamento, com previsão de encerramento para esta terça-feira, 2, apesar do curto prazo.
Em todas as ocasiões em que o projeto do Bima foi apresentado pela prefeitura, divulgado em suas redes sociais oficiais, ou particular do prefeito, e em algumas ocasiões representada pelo secretário-geral de Governo, o jornal sempre esteve presente, fazendo a cobertura devida, dando espaço para a PMNF na divulgação do projeto, publicação da planta baixa etc.
Agora, com essa abertura da consulta popular relâmpago, foram feitas matérias com todas as abordagens necessárias que uma pauta com essa complexidade exige. Matérias para explicar o que seria uma consulta pública, sua legalidade, as implicações jurídicas da votação de projeto já aprovado, por unanimidade, pela Câmara e sancionada pelo prefeito, este questiona em rede social a mudança de posição do “jornal da cidade”, insinuando a possibilidade de algum “interesse” desse periódico em defesa de um projeto, perguntando o que “está por trás disso tudo”, julgando estarmos criticando e jogando pedras.
Ora, se faz necessário esclarecimento à população sim, do comprometimento do jornal, e dizer que o que está por trás das nossas matérias é o compromisso com a cidade e com a coisa pública.
O compromisso com a verdade e a transparência, fornecendo informações jurídicas claras para quem não pode ter, e portanto promovendo a estabilidade institucional necessária.
Mas, acima de tudo, o compromisso do jornal é informar, para que não reste dúvidas sobre os assuntos em questão, colocando todas as versões, dando direito ao contraditório.
Questionar a lisura de um órgão de imprensa respeitado na cidade, que sempre apoiou todas as iniciativas de desenvolvimento da mesma, com matérias claras, e no apoio a todas as iniciativas de desenvolvimento do município, com imparcialidade sobre todos os fatos, é uma leviandade.
Desrespeitar um trabalho jornalístico, de pesquisa, pareceres de advogados para mostrar o real quadro da situação que nos encontramos nesse momento, onde se discute o destino de um espaço cultural, trazendo à baila uma discussão tão rasa dos destinos de uma cidade, alimentando o NÓS contra ELES, tão presente e nocivo nas discussões nos dias atuais. Atacar a imprensa virou rotina.
O motivo é nosso de questionar o digníssimo prefeito. O que o fez mudar de ideia, já que, quando foi apresentado à sociedade, esse projeto ambicios, mas digno de orgulho para os friburguenses, tinha seu total apoio?
Fazer uma consulta para decidir entre livros versus cerveja é cruel para a sociedade friburguense. Pode soar popular, mas é pobre, e nossa cidade não merece isso, feito dessa maneira.
É preciso uma discussão profunda dos caminhos dessa cidade.
Se a intenção do prefeito é sepultar de vez o projeto da Bima, escorando-se numa consulta meteórica para se “blindar” das previsíveis críticas, a estratégia apenas fez com que a Biblioteca Machado de Assis e sua proposta multicultural, projeto esse que privilegia várias vocações da cidade em seu escopo, saísse dos manuscritos burocráticos da administração pública, para ganhar relevância e notoriedade no seio da sociedade friburguense, pelo menos dos que pensam Nova Friburgo, com a grandeza que ela merece.
Ninguém é contra o polo cervejeiro. Assim como ninguém pode ser contra livros e educação. A contrariedade se dá quando a sobreposição de interesses deixa de levar em conta as reais prioridades do executivo municipal.
A impensada tentativa na divulgação de um vídeo gravado no conforto de um carro oficial, com todo o poder que isso possa representar, não nos afeta e não será capaz de levantar verdadeiramente questionamentos e desqualificar o nosso trabalho.
O assunto hoje nas ruas de Nova Friburgo é sobre o resultado dessa consulta disfarçada de “anseio popular”, nessa altura do campeonato, sem tempo suficiente para legitimar um desejo da população.
Ainda sem acesso aos resultados da "consulta", lamentamos que decisões tão importantes para uma cidade estejam sendo feitas dessa forma. Não se trata de crítica; isso é fato.
O que está por trás de matérias jornalísticas sobre esse assunto, prefeito, mais uma vez, é o esclarecimento a que a população tem direito sobre qualquer assunto que implique no seu futuro, entendendo o perigo de ser massa de manobra de uma consulta que sequer tem legitimidade para ir ao encontro dos verdadeiros desejos e que resulte na escolha do projeto A, B ou C, em que um deles sairá vencedor.
O que está acontecendo nos diminui como cidadãos votantes, amantes da democracia, eleitores querendo mudar os rumos de nossa cidade e do país.
Nesse momento, o que temos certeza, e que está à nossa FRENTE, é que nessa história todos nós sairemos perdendo.
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