A Fisioterapia é uma ciência da saúde tão antiga quanto o homem. Contudo, em relação à sua regulamentação profissional, ela é relativamente nova – deu-se em meados do século 20, como forma de reabilitar pessoas afetadas pelas duas grandes guerras mundiais e reinseri-las em uma vida ativa. Se antes ela era vinculada exclusivamente à traumato-ortopedia, hoje observamos o profissional desta área atuando em diversos outros campos, com especializações como fisioterapia dermatofuncional, neurológica, respiratória e intensivista.
Convidamos o fisioterapeuta Bruno Combat para falar sobre a atuação do profissional deste ramo diante da pandemia pela qual passamos. Além de atuar com a fisioterapia respiratória, ele também faz parte do Conselho Regional de Fisioterapia e Terapia Ocupacional (Crefito) da 2ª Região como suplente do município e microrregião. Confira
A atuação do fisioterapeuta no contexto hospitalar em meio à pandemia
O fisioterapeuta, junto a outros profissionais, é responsável pela triagem dos pacientes que chegam aos hospitais. A partir de sinais, sintomas e diagnóstico clínico de insuficiência respiratória, é possível determinar se os pacientes deverão ou não receber suporte através da ventilação mecânica.
Os indivíduos acometidos pela Covid-19 são pacientes que evoluem de forma muito abrupta e rápida para a insuficiência do sistema respiratório, culminando em um déficit muito grande de sustentação de sua respiração e, consequentemente, em um acúmulo acentuado de secreção. Diante desse quadro, o fisioterapeuta atua diretamente nesse restabelecimento da função ventilatória, na correção das disfunções e dos comprometimentos da manutenção de oxigenação, como também nos procedimentos que potencializam a expectoração desse excesso de muco que fica acumulado, que o paciente, sozinho, não é capaz de expectorar ativamente.
Em relação ao tratamento de aspecto respiratório, o fisioterapeuta é responsável por manter o sistema respiratório atuando de forma compatível com a própria necessidade do organismo do paciente. Através de recursos manuais, instrumentais e não-instrumentais, esse profissional consegue restabelecer essa melhor condição de respiração.
É importante ressaltar que a atuação dos fisioterapeutas no contexto hospitalar, o fisioterapeuta intensivista, não se restringe apenas à autonomia do suporte ventilatório. O fisioterapeuta também presta assistência ao paciente no aspecto motor, restabelecendo e/ou preservando funções cognitivas e motoras, tanto durante a internação quanto no momento em que este paciente recebe alta.
Quando relatos científicos dão conta que a Covid-19 já não é mais classificada pontualmente como uma doença do sistema respiratório, como também de acometimentos neurológicos, cardiovasculares, cognitivos e sensoriais, o fisioterapeuta está intervindo em todos esses aspectos de desdobramento da própria condição de infecção do paciente.
Em relação à inatividade, tanto o paciente em internação hospitalar quanto o que se encontra em internação domiciliar devem ser assistidos pelo fisioterapeuta. Assim como os pacientes que acabaram de receber alta hospitalar, os pacientes assintomáticos, que recebem orientação de se manter dentro do ambiente domiciliar, também devem receber essa assistência para que não sofram com as condições deletérias da inatividade.
Segunda fase pandêmica no Brasil
De acordo com Bruno, na primeira fase pandêmica há os pacientes que descompensavam e eram internados. Agora, nesta segunda fase, há um novo público a ser atendido e assistido, que são os pacientes que recebem alta hospitalar. Esses pacientes necessitam diretamente da assistência fisioterapêutica especializada para o restabelecimento de função. Também há os indivíduos que não passaram por internação hospitalar, mas que continuaram em casa. Mesmo assintomáticos, eles podem manifestar consequências, desdobramentos a partir da infecção.
Em relação à fisioterapia respiratória, não se deve instruir os pacientes sobre alguns procedimentos de autocuidado. O fisioterapeuta tem a responsabilidade de prestar essa assistência através de orientações aos pacientes que se encontram neste momento em internação domiciliar, para que eles possam desenvolver estratégias quanto à preservação dessa função respiratória.
Exercícios de autocuidado
Ao conseguir identificar a presença de um maior acúmulo de secreção, seja pelo desconforto respiratório, seja pela forma ruidosa de respiração, o paciente pode desenvolver estratégias que potencializam o deslocamento de secreção a partir de posicionamentos e posturas. O paciente deve manter-se sentado, com a coluna ereta, para que toda a secreção que esteja acumulada na porção superior do tronco seja deslocada até a porção mediana do pulmão, onde será absorvida pelas estruturas do sistema respiratório e, consequentemente, expectorada através do processo de tosse.
É importante explicar que a tosse é um mecanismo fisiológico do organismo de proteção ao sistema respiratório, um processo muito importante na manutenção do deslocamento de ar e preenchimento do pulmão. Toda vez que um indivíduo tosse, seu organismo está tentando expulsar algo contido em seu pulmão. Havendo secreção nesse processo de deslocamento do ar, ela vai limitar exatamente a capacidade de inalação.
Desta forma, não se pode conter a tosse. É muito comum observar indivíduos que, no processo de tosse, tentam segurar esse mecanismo de expulsão. Enquanto a tosse ativa é uma resposta do próprio organismo a um processo irritativo, a tosse induzida é também parte dos procedimentos fisioterapêuticos na expectoração efetiva de toda essa secreção acumulada.
Uma outra estratégia de autocuidado para induzir uma agitação da secreção acumulada no sistema respiratório é pegar recipientes com água e usar canudos para soprar o interior desses recipientes. O ato de formar bolhas na água através do sopro é um procedimento importantíssimo de facilitação desse deslocamento da secreção contida no seu sistema respiratório.
Existe também a estratégia em que o paciente faz inspirações profundas, gerando uma elevada captação de ar e preenchimento do pulmão, seguidas de expirações forçadas, promovendo uma desinsuflação maior desse pulmão. O intuito dessa técnica é prover o organismo de uma maior captação do oxigênio e, consequentemente, de uma expulsão maior do que tem ali como substrato, como o gás carbônico que ficou retido.
É muito comum a prática de algumas técnicas de fisioterapia respiratória que associam movimentos de braços. Bruno Combat explica que é importante salientar que essa associação não é necessária, pois trata-se de uma forma lúdica de exercício onde o paciente consegue, através dessa orientação de espaço e geração de movimento, ter uma melhor compreensão da fase da respiração.
Eficácia do tratamento
O fisioterapéuta destaca ainda que todos esses exercícios de autocuidado não estabelecem um protocolo de tratamento, que depende da assistência direta de um fisioterapeuta, seja através de tratamento domiciliar como em seu consultório ou em ambulatórios. Isso vale para a fisioterapia motora, para a atuação do fisioterapeuta nos distúrbios neurológicos e cardiovasculares, dentre outras enfermidades que são desdobramentos da Covid-19 e que necessitam, durante o período de internação e/ou o período pós internação, de assistência profissional do fisioterapeuta. “Somente este profissional está habilitado para a prescrição de tratamento fisioterapêutico – tratamento que não envolve apenas essas pequenas orientações de autocuidado, como muitos outros recursos e técnicas que irão melhorar a condição e qualidade de vida desse paciente”, observa Bruno. (*colaboração da estagiária Vitória Nogueira).
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