Com mais de dois meses de atraso e cinco adiamentos, a tão esperada abertura do Hospital de Campanha de Friburgo, no ginásio Frederico Sichel, do Sesi, em Conselheiro Paulino, ainda é uma incógnita. A unidade, pelo projeto inicial, terá capacidade para até 100 leitos para o tratamento de pacientes com Covid-19. Na última segunda-feira, 29 de junho, durante uma sabatina realizada pela Comissão Especial de Fiscalização dos Gastos na Saúde Pública durante o combate ao coronavírus e pela Comissão de Saúde da Assembleia Legislativa do Estado do Rio de Janeiro (Alerj), o superintendente da organização social Iabas, Hélcio Watanabe, informou que a OS não tinha, contratualmente, uma data prevista para a entrega dos hospitais de campanha no Estado do Rio.
Na tarde desta quarta-feira, 1º, o novo secretário estadual de Saúde, Alex Bousquet, garantiu a entrega dos hospitais de Friburgo, Duque de Caxias, Nova Iguaçu, Campos e Casimiro de Abreu. Na última semana, um estudo técnico da Secretaria de Estado de Saúde (SES) pôs em cheque a abertura dos hospitais, quando houve a recomendação para que as unidades de campanha restantes não abrissem.
A OS Iabas já recebeu do Governo do Estado do Rio R$ 256 milhões, referentes ao contrato geral de R$ 835 milhões para a construção das unidades. Em Nova Friburgo, o hospital de campanha está orçado em R$ 60 milhões, de acordo com o deputado estadual Filippe Poubel (PSL), que vistoriou a unidade recentemente. O último pagamento foi feito no dia 8 de maio. No entanto, a presidente da comissão, deputada estadual Martha Rocha (PDT), abriu a reunião destacando que apenas duas unidades de campanha, a do Maracanã e a de São Gonçalo, foram concluídas. "Os hospitais deveriam ter sido entregues no dia 30 de abril e com eles mais de mil leitos, porém não foi isso que encontramos", lamentou a parlamentar.
Em justificativa, o superintendente do Iabas argumentou que havia um comprometimento por parte da OS de entregar as unidades o quantos antes. "Apesar dessa data final para a entrega não estar definida em contrato, não queríamos atrasar as obras, no entanto tivemos dificuldades para elaborar um projeto de construção das unidades em decorrência de ser uma doença pouco conhecida mundialmente. Já começamos pela construção da unidade Maracanã, mas sem um projeto inicial. Não tínhamos noção de como a doença ia evoluir e, além disso, tivemos mais de 40 mudanças estruturais durante o processo das obras", afirmou. Watanabe também disse que todos os atrasos foram comunicados ao Governo do Estado.
Martha Rocha, porém, lembrou que na China, onde a pandemia começou, o governo levou 11 dias para construir um hospital de campanha. "Se lá foi possível resolver o problema, mesmo sem entender a dimensão da doença, me custa crer que aqui o único empecilho tenha sido o não conhecimento da evolução do Covid-19. Se você como técnico argumenta que havia uma caixa de surpresas e que não teria segurança e capacidade de resolver a questão no prazo necessário, porque se habilitar nesse processo de gestão e construção das unidades? Não podemos aceitar uma empresa fazer um contrato que não tinha capacidade de executar", frisou a parlamentar.
Em resposta, Watanabe falou que seis hospitais já estão prontos, desde 2 de junho, com cerca de 800 leitos disponíveis. “A única unidade que não conseguimos terminar foi a de Casimiro de Abreu, porque logo veio a intervenção", explicou o superintendente. No entanto, o deputado Renan Ferreirinha (PSB), relator da comissão, disse que esteve nas unidades de campanha neste período e que o cenário não era o relatado por Watanabe. "A construção dos hospitais de campanha foi um fracasso geral. Todos os hospitais tiveram atrasos significativos na entrega e problemas estruturais sérios", pontuou o parlamentar.
Proposta antecipada
Ferreirinha também questionou como o Iabas pôde propor um contrato no valor de R$ 835 milhões se não tinha um projeto de construção das unidades pronto. Ele perguntou ao superintendente Hélcio se alguma proposta foi apresentada à Secretaria de Estado de Saúde (SES) antes da divulgação da abertura da licitação e se o processo foi direcionado. O advogado do Iabas, Gustavo Guedes, negou qualquer direcionamento e explicou que existiam dois procedimentos licitatórios e de tomada de preço. "O primeiro, feito em março, solicitava a construção de uma unidade com 100 leitos. Já o segundo ampliava esse serviço para 1.300 leitos e a construção de sete hospitais de campanha. A secretaria cancelou o primeiro processo e instalou apenas o segundo. Por isso, todas as propostas que apresentamos já estavam baseadas no primeiro processo. E, com isso, conseguimos apresentar uma sugestão com tanta rapidez'’, explicou Guedes.
Durante a sabatina, a deputada Lucinha (PSDB) também questionou o critério utilizado para a contratação das empresas de engenharia que construíram os hospitais de campanha. "Nunca conheci uma empresa que além de gerenciar um hospital também fosse responsável por construir os espaços. Ficou claro que eles não tinham competência para tocar tal obra", afirmou a parlamentar.
De acordo com Watanabe, foram utilizados critérios técnicos e não houve indicação sobre quais empresas a serem contratadas. Ele ainda destacou que o Iabas tinha expertise na gestão da unidade de campanha em São Paulo. Mas, quando questionado pela deputada Martha Rocha sobre a realização da obra do hospital na capital paulista, Watanabe confirmou que a empresa não estava à frente deste processo. "A experiência do Iabas era só na gestão e não na construção do espaço", esclareceu Watanabe. Para o deputado Luiz Paulo (PSDB), ficou claro que o contrato de construção e gestão do Iabas é ilegal. “Isso deixou tudo muito mais caro”, criticou.
Carrinhos de anestesia
Os deputados também questionaram Watanabe quanto a decisão de comprar carrinhos de anestesia no lugar de respiradores. "Isso passou por validações técnicas, antes da efetiva compra. Vale também ressaltar que o carrinho de anestesia funciona como respirador, segundo a Associação Médica Brasileira (AMB). E muitas instituições validam o uso desse instrumento como ventilador no período de Covid", argumentou. Watanabe antecipou que já foram comprados 235 carrinhos de anestesia e que eles se encontram no Aeroporto do Galeão, prontos para entrega. Mas apenas 50% dessas unidades já foram pagas. "Depois que passar o período da Covid esses aparelhos poderão ser utilizados em outros hospitais. Por isso, entendo que esse foi um investimento muito melhor do que se tivéssemos comprado apenas ventiladores. Os carrinhos de anestesia serão mais úteis", justificou. Segundo Watanabe, o ex-secretário de Saúde Edmar Santos tinha conhecimento e autorizou a compra dos carrinhos por parte do Iabas. Participaram, ainda, da audiência, os deputados Dionísio Lins (PP), Enfermeira Rejane (PCdoB), Mônica Francisco (Psol) e Valdeci da Saúde (PTC).
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