Nova Friburgo perde a elegância de Lauro Henrique Alves Pinto

Produtor musical de quase 81 anos encantava a todos com seu estilo clássico, gentileza e extrema cultura
segunda-feira, 26 de outubro de 2020
por Adriana Oliveira (aoliveira@avozdaserra.com.br)
Lauro Henrique Alves Pinto: estilo único (Arquivo Girland Guillan)
Lauro Henrique Alves Pinto: estilo único (Arquivo Girland Guillan)

Adeus ao chapéu, ao terno vincado com colete, ao relógio de bolso, ao cravo na lapela, à bengala com ponta dourada. A cultura de Nova Friburgo perdeu muito de sua elegância na última sexta-feira, 23, com a morte de Lauro Henrique Alves Pinto, o LaurHenry. Ele faria 81 anos em 14 de dezembro deste ano.

Exímio pianista, professor, trovador e produtor musical, Lauro Henrique lembrava Fred Astaire por sua leveza, gentileza, genialidade e o dom de encantar a todos por onde passava. Carioca de nascimento, frequentou Nova Friburgo nos últimos 50 anos, como veranista, resolvendo fixar-se na cidade em 2015.

Como bem descreveu o jornalista Girlan Guilland, “na condição de músico, LaurHenry teve vasta carreira, ao lado de grandes nomes da música brasileira; como professor, abraçou o magistério como uma de suas grandes paixões, mas foi na produção musical que deixou o seu nome gravado, num imenso legado de uma farta discografia, produzida através de sua empresa, a L'Art Produções Artísticas”.

Como escreveu numa rede social  seu filho Igor,  “Lauro era um sonhador ao extremo, mas também tinha o dom de encantar as pessoas. E de fato, ele nos encantou a todos, seja com a sua música, sua poesia ou suas intermináveis horas de conversas, nas quais sempre nos ensinava muito”. 

Presidente da União Brasileira dos Trovadores (UBT), Elisabeth Souza Cruz dedicou ao amigo uma trova:

“Neste adeus a Lauro Henrique

Silencia o seu compasso…

E embora a saudade fique

Ficou vazio o seu espaço”

Músico amador por opção,  nasceu e viveu cercado de talentos: a mãe tocava violino, as tias tocavam violoncelo e  flauta, além de ser sobrinho de dona Lucília Guimarães, primeira esposa de Heitor Villa-Lobos, o que lhe garantiu  o privilégio  de estudar na infância com o grande mestre da música erudita brasileira.

Também era primo do cartunista, chargista, escritor e jornalista Ziraldo e parente do cantor e compositor Ivan Lins. Durante anos produziu os concertos do pianista Arthur Moreira Lima e tocou com os mais representativos nomes da música popular brasileira.

Lauro decidiu mudar-se para Nova Friburgo aos 77 anos, já viúvo. Simpático, falante e com ótima memória, dedicou-se a planejar eventos para a cidade.

Filho de militar, contou numa entrevista ao jornal A VOZ DA SERRA ter se preparado para seguir a carreira do pai. Matriculado no Colégio Militar, logo se refugiou na banda, que na época tocava Gershwin, Rachmaninoff , Glenn Miller.  Em três anos, aos 15 anos, já era primeiro-clarinetista.  

Amigos geniais

Aos 18 anos, montou sua própria banda com mais alguns  amigos.  Um deles,  Arthur Moreira Lima, que acabaria se tornando pianista consagrado como um dos maiores intérpretes de Chopin; o outro, o músico e instrumentista Oscar Castro Neves, que fez carreira internacional e se estabeleceu na Califórnia; o terceiro, o trompetista Márcio Montarroyos, que dispensa apresentações. “Às vezes Tim Maia também aparecia, e era comum a gente se encontrar com Roberto e Erasmo Carlos, que cantavam nos mesmos bailes que a gente, na Tijuca. Éramos todos muito jovens”, relembrou.   

A esta altura, ele já estudava na Escola de Música, onde conheceu Paulo Moura, maestro, compositor, arranjador, saxofonista e clarinetista de choro, samba e jazz, considerado um dos principais nomes da música instrumental brasileira. Ao entrar para a Associação Cristã dos Moços (ACM), passou a viajar com o grupo musical da entidade para se apresentar em bailes de outras cidades, de norte a sul do país.

E assim seguiu como músico amador, por toda a vida, em sintonia com a carreira de professor. O magistério também foi outra paixão que abraçou, a partir de concurso feito aos 21 anos, nos anos 1960, pelo então Estado da Guanabara. Ele se classificou entre os dez primeiros candidatos, entre milhares de inscritos. Fez faculdade de pedagogia, e, munido de vários títulos, constou dos quadros do magistério estadual por mais de 50 anos, tendo inclusive produzido programas educativos para a TV Continental.  Também estudou Gestão Cultural na Universidade de Barcelona, na Espanha. 

Lauro Henrique deixa três filhos. Seu corpo foi velado e sepultado  no Cemitério São Francisco Xavier, no Caju, no Rio, no sábado. A VOZ DA SERRA se enluta junto com a família neste momento de dor.

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