Fusão do Estado do Rio com a Guanabara completou 50 anos

A integração entre os estados ocorreu em 15 de março de 1975 e trouxe desafios políticos, administrativos e culturais que persistem até hoje
segunda-feira, 17 de março de 2025
por Jornal A Voz da Serra
(Foto: Freepik)
(Foto: Freepik)

Em 15 de março de 1975, os estados da Guanabara e do Rio de Janeiro se tornaram um só. A fusão, única na história da República do Brasil, ainda gera reflexões entre historiadores e políticos. Na época, o processo surpreendeu tanto a população quanto às autoridades e exigiu uma reestruturação administrativa complexa. O antigo Estado da Guanabara correspondia à atual capital fluminense, o município do Rio de Janeiro, o único então município-estado do Brasil. Já o Estado do Rio de Janeiro, antes da unificação, tinha Niterói como capital. Com a fusão, o município do Rio precisou estabelecer uma prefeitura, mas, inicialmente, o Poder Executivo carioca sequer possuía uma sede.

Despachos improvisados na prefeitura carioca 

A falta de planejamento impactou diretamente a administração. O primeiro prefeito do Rio de Janeiro, Marcos Tamoyo (1975-1979), passou sete meses sem local fixo para trabalhar. O Palácio da Cidade, no bairro de Botafogo, só foi adquirido após um empréstimo do Banco do Brasil, quitado ao longo de seis anos. Durante esse período, Tamoyo chegou a despachar de um banco na Praia de Copacabana.

O procurador aposentado Roberto Paraíso Rocha, de 96 anos, relembra a situação: “Diante de outras prioridades na fusão, esqueceram de destinar recursos para a sede. Essa improvisação simbolizou as dificuldades da integração entre os estados”, observa.

Estruturas duplicadas e choque cultural

A fusão trouxe muitos desafios administrativos. A nova Assembleia Legislativa do Rio de Janeiro (Alerj), por exemplo, começou com 98 deputados, pois reuniu parlamentares do antigo Estado do Rio e da Guanabara. Depois, o número caiu para 70. 

O deputado Átila Nunes (PSD), que participou da primeira legislatura, relembra o impacto: “Foi um choque. Os deputados da Guanabara eram mais formais, usavam terno e gravata. Os do interior tinham outro estilo. Além disso, gastamos tempo reorganizando o estado, em vez de focarmos em políticas públicas. A população da antiga Guanabara também sentiu o impacto. O estado era economicamente mais forte e culturalmente independente. Com a fusão, ocorreram duplicidades de cargos e funções, aumentando os gastos públicos”, lembra.

Disputas e heranças da fusão

A unificação também gerou conflitos patrimoniais. O Sambódromo é um dos principais exemplos. A prefeitura e o Governo do Estado disputam a posse, mas o Supremo Tribunal Federal (STF) definiu que a Passarela do Samba da Rua Marquês de Sapucaí pertence ao município do Rio de Janeiro.

Outro reflexo está no futebol. Criada em 1965, a Taça Guanabara continua como um título importante para os times de futebol, enquanto a Taça Rio, nomeada após a fusão, virou um prêmio secundário para clubes fora das semifinais do Campeonato Estadual.

Origem da fusão e previsão histórica

A ideia de unificar os estados surgiu nos anos 1950, quando se planejava a transferência da capital do país para Brasília. O escritor Machado de Assis, em uma crônica de 1896, já previa a mudança: “Um dia, quem sabe, esta cidade passará de capital de si mesma a capital de um estado único, a que se dará o nome de Guanabara”. Entretanto, a previsão errou o nome. Em 1974, o então presidente Ernesto Geisel editou um decreto formalizando a fusão, após a inauguração da Ponte Rio-Niterói.

Impactos econômicos e sociais

A historiadora Marly Motta explica que a fusão dos estados do Rio de Janeiro e da Guanabara refletiu a política do então governo militar de fortalecer regiões estratégicas. No entanto, a mudança afetou Niterói, que perdeu o status de capital, mas, com o tempo, ganhou em qualidade de vida. “A fusão encareceu o custo de vida no Rio. Isso impulsionou uma migração da classe média para Niterói, elevando a demanda por serviços públicos”, observa.

Entenda a fusão

  • O que aconteceu? Os estados da Guanabara e do Rio foram unificados em 1975.

  • Por que aconteceu? O governo militar desejava consolidar a região e reduzir a oposição ao regime.

  • O que mudou? O Rio precisou estruturar sua prefeitura e reorganizar a gestão estadual.

  • Quais problemas surgiram? Disputas de patrimônio, aumento de gastos e choque administrativo.

  • Quais impactos permanecem? Divergências políticas, encarecimento do Rio e crescimento de Niterói.

(Fonte: Diário Carioca

 

Há meio século, a fusão foi tema de editorial de A VOZ DA SERRA 

Na edição de 15 e 16 de março, A VOZ DA SERRA registrou a posse do novo governador do Estado do Rio de Janeiro, o almirante Faria Lima, marcando uma nova era em um novo estado. A fusão do Rio com a Guanabara foi tema, inclusive, de um editorial publicado na capa do jornal, o qual aqui transcrevemos: 

“Hoje uma data histórica. Nasce uma nova unidade federativa brasileira. Muitas esperanças nos corações. O velho Estado do Rio de Janeiro desaparece sem deixar saudades. 

Chega ao fim - cercado pela indiferença do povo - um estado de coisas lamentáveis. 

Daí as justificadas esperanças do povo no novo Estado do Rio de Janeiro que nasce hoje sob a direção do Almirante Faria Lima.

Esperamos que esse novo Estado nunca mais se transforme em um covil de políticos estranhos. 

Queremos um novo Estado com novas concepções, novos métodos. Queremos banido o desenfreado empreguismo que foi a única bandeira desfraldada pelos políticos. 

Não queremos um Estado onde se destrua uma obra existente como a Faculdade de Odontologia, em Duas Pedras, entregue pelo prefeito Amâncio Azevedo à depredação popular.” 

 

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