Friburgo tem mais feminicídios que a média do Brasil

Crime bárbaro, duplo, de sexta-feira passada é o segundo caso na cidade em menos de dois anos; o de Stucky até hoje não foi julgado
quinta-feira, 19 de agosto de 2021
por Adriana Oliveira (aoliveira@avozdaserra.com.br)
Cartazes do lado de fora do Fórum, na audiência do caso de Stucky, em setembro passado  (Arquivo AVS)
Cartazes do lado de fora do Fórum, na audiência do caso de Stucky, em setembro passado (Arquivo AVS)

O crime bárbaro que vitimou duas mulheres, uma delas grávida de seis meses, na última sexta-feira, 13, no bairro Cônego, coloca Nova Friburgo diante de dois duplos feminicídios em menos de dois anos. O primeiro deles, em outubro de 2019, quando Rodrigo Marotti ateou fogo à uma casa no Stucky, distrito de Mury, onde estavam sua ex-companheira Alessandra Vaz e a amiga dela Daniela Mousinho, até hoje não foi julgado.

No caso de sexta-feira passada, segundo informações da 151ª DP, Ricardo Pinheiro Juca responderá por dois feminícios (as mortes da esposa, Nahaty Gomes de Mello, e da sogra, Rosimery Gomes da Cunha); um crime de aborto (do próprio filho); e por uma tentativa de homicídio (contra o sogro, Wellington Braga Mello, que foi baleado), por arma de fogo (abaixo). Somadas, as penas podem chegar a 84 anos de prisão. Ambos os réus devem ir a júri popular. Em abril deste ano, em mais um caso de feminicídio na cidade, uma mulher de 28 anos morreu após ser agredida a golpes de faca por seu ex-companheiro no bairro Rui Sanglard.

Conforme o jornalista Wanderson Nogueira divulgou ontem, 18, em sua coluna, Observatório, em A VOZ DA SERRA, um estudo sobre o índice de feminicídios no município em relação ao estado do Rio, realizado pelo Tecle Mulher – Assessoria e Pesquisa no Âmbito dos Direitos da Mulher, Nova Friburgo está acima da média estadual e nacional. Levando-se em conta a média populacional e o número de casos, durante a pandemia (que começou em março de 2020) até abril deste ano, Nova Friburgo teve 1,05 feminicídio em relação a 100 mil habitantes, enquanto o estado do Rio teve 0,43 e o Brasil, 0,64. Se considerar os assassinatos da última sexta-feira, o número salta para 2,9, o que, provavelmente, coloca Nova Friburgo como o pior município do estado, quiçá do Brasil, ressalta ele na coluna.

Segundo o relatório do Tecle Mulher, esse aumento das mortes de mulheres com o viés no gênero não se dá apenas pelas questões da convivência diária com seus agressores, mas principalmente pela desistência das mulheres de procurarem ajuda quando o ciclo da violência em suas relações domésticas já vem avançando de forma grave. Wanderson lembra que o feminicídio é o assassinato de mulheres pela condição de ser mulher. O termo se refere a crime de ódio contra mulheres, estipulado pela impunidade e indiferença da sociedade e do estado.    

A pesquisa “Visível e Invisível – A vitimização das mulheres no Brasil”, do Fórum Brasileiro de Segurança Pública, informa que, a cada oito minutos, oito mulheres sofreram violência física em tempo de pandemia e, após a agressão, 45% das mulheres não fizeram nada; 22% procuraram ajuda da família; 13% procuraram ajuda de amigos; 12% denunciaram em uma delegacia da mulher; 8% procuraram uma igreja; 7,5% procuraram uma delegacia comum; 7% chamaram a PM; 2% ligaram para a Central de Atendimento à mulher 180. As demais, 33% informaram que resolveram a questão sozinhas; 15% não quiseram envolver a polícia e 17% não acham importante denunciar.

Caso de Stucky ainda sem data de julgamento

No caso do duplo feminicídio de Stucky, no início de setembro de 2020 foi realizada a primeira audiência de instrução e julgamento. A audiência teve por finalidade a produção de provas orais contra Rodrigo Marotti. Foi durante essa audiência que as partes prestaram depoimentos pessoais, o perito deu seu parecer e demais pessoas envolvidas no processo, como testemunhas, também se manifestaram. 

Rodrigo foi trazido a Nova Friburgo do presídio na capital onde está sob um esquema especial de segurança. Consultados por A VOZ DA SERRA, nem o Ministério Público nem o Tribunal de Justiça têm previsão de quando será realizado o julgamento. Até então, as  mortes de Alessandra e Daniela tinham sido as únicas no município registradas em Friburgo como feminicídio.

Em depoimento na 151ª DP na madrugada em que foi preso em flagrante, Rodrigo confessou ter ateado fogo à casa (acima) de Alessandra Vaz, sua ex-companheira, onde também estava a amiga dela, Daniela Mousinho, depois de trancar as duas. Dias depois, as duas amigas morreram em consequência das graves queimaduras que sofreram.

Na época, uma reportagem de A VOZ DA SERRA (relembre aqui) revelou supostas ameaças de morte de Rodrigo a Alessandra, confidenciadas por ela mesma a uma amiga de longa data horas antes do crime. Isto poderá servir como mais um qualificador do crime (premeditação), aumentando ainda mais a pena. Como houve duplo feminicídio e prisão em flagrante, com confissão, o caso rapidamente seguiu para a 1ª Vara Criminal de Nova Friburgo, cabendo à Promotoria acusar o réu perante um júri popular. Outros agravantes, até agora, seriam: motivo fútil, emprego de fogo, impossibilitar a defesa das vítimas e o próprio feminicídio em si.

 

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TAGS: crime