Friburgo perde o talento e a paixão do seu maior retratista: Osmar de Castro

Pesquisador dedicou sua vida a compor, colecionar e expor o maior acervo de fotografias e documentos da cidade
segunda-feira, 25 de janeiro de 2021
por Adriana Oliveira (aoliveira@avozdaserra.com.br)
Osmar de Castro junto a uma de suas exposições (Arquivo AVS)
Osmar de Castro junto a uma de suas exposições (Arquivo AVS)

“A melhor foto é a que ainda não foi feita”, costumava dizer o colecionador e pesquisador Osmar de Castro, um friburguense dividido entre duas grandes paixões: fotografia e História. Dono do maior acervo digital de fotografias de Nova Friburgo, Osmar  foi encontrado morto em casa neste domingo, 24, aos 56 anos. O sepultamento será às 16h desta segunda, 25, no cemitério Trilha do Céu, na Fazenda da Laje, distrito de Conselheiro Paulino.

Toda a dedicação de Osmar pela fotografia e pelo resgate da memória local vem da infância, quando ele começou a procurar fotos antigas da casa onde morou, na atual Rua Sete de Setembro. Um encontro com o saudoso historiador Raphael Jaccoud lhe deu a inspiração que ele precisava. Dali para a profissionalização foi um pulo.

Modesto, Osmar preferia ser definido como “amante de Nova Friburgo”, e não como fotógrafo. Ele se especializou, adquiriu bons equipamentos e passou a descortinar uma Nova Friburgo  de ângulos inusitados. Sempre com emoção aliada ao talento nato. Em busca da melhor imagem, ainda não feita, lá ia ele em meio à natureza, às montanhas e às nascentes dos rios. “Osmar de Castro é um artista”, definiu certa vez o também saudoso agente cultural Julio Cesar Seabra Cavalcante, o Jaburu. Ele era “o amante das coisas de Nova Friburgo”, preferia Jaccoud. 

Abaixo, duas de suas fotos mais recentes, postadas em redes sociais nesta virada de ano.

Ao longo dos anos, Osmar colecionou o maior acervo de fotos, gravuras e documentos de Nova Friburgo, o mais antigo deles datado de 1886. E nunca guardou para si esse tesouro histórico: expôs o material em vários pontos da cidade, sempre que podia. 

Em 1988, Osmar começou a  digitalizar todo o acervo, visando a preservar a história de Nova Friburgo para as gerações futuras. O trabalho teve como grande incentivador  Jaccoud e sua esposa, Vanda. São mais de 60 mil documentos tratados digitalmente (como restauração), datados e legendados, com texto sobre o momento político, cultural ou festivo.

Em 2013, com a cidade ainda se recuperando da tragédia de dois anos antes, Osmar resolveu  percorrer vários bairros e distritos com  a exposição itinerante de fotos “Nova Friburgo hoje e ontem”. Com curadoria do Grupo de Arte, Movimento e Ação (Gama), a mostra reunia 50 painéis de belezas friburguenses, com o intuito de resgatar a autoestima da população.

Em maio de 2018, em homenagem ao aniversário da cidade,  inaugurou a exposição “Nova Friburgo 200 anos”, na Biblioteca Pública Municipal Maria Margarida Liguori, dentro da Câmara dos Vereadores. Eram fotos antigas, em preto e branco, recuperadas e digitalizadas pelo fotógrafo. O trabalho reunia cores, fachadas e interiores de construções clássicas e cenas bucólicas de diversas localidades de Friburgo.

No fim de 2018, Osmar lançou com sua amiga Rosângela Pinel o livro “Em foto e verso”, ilustrado por fotos suas. "Tanto ele quanto eu amamos Nova Friburgo e suas paisagens incríveis. Às vezes olhando para a terra, às vezes olhando para o céu. (...) Suas imagens falam por si com a riqueza do código visual, que as palavras não alcançam. Jamais pretendi diminuí-las com uma descrição, que ficaria sempre aquém de sua beleza e expressividade. Meus textos representam transcrições em palavras do que essas imagens arrancaram de mim em emoções e pensamentos: uma espécie de paisagem interior, necessariamente subjetiva e precária”, escreveu ela.

Na contracapa, o leitor encontra a descrição do conteúdo do livro que foi todo traduzido para o alemão: “Osmar de Castro e Rosângela Pinel revelam, muito mais que um simples registro de imagens e informações, um olhar amoroso e poético sobre a cidade de Nova Friburgo. Das pequenas flores silvestres às grandiosas montanhas e paisagens, passando da natureza intocada à cidade construída, muitas belezas ocultas foram descobertas: uma homenagem à cidade, aos seus colonizadores e à sua história bicentenária”.

Consternada, a equipe de A VOZ DA SERRA se solidariza com os familiares e lamenta a grande perda para a cidade.

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