Fiocruz prevê até três mil mortes no estado se aulas voltarem em agosto

Contato com crianças fará com que parte do grupo de risco interrompa o isolamento social
terça-feira, 28 de julho de 2020
por Jornal A Voz da Serra
Sala de aula vazia em Friburgo (Arquivo AVS/ Henrique Pinheiro)
Sala de aula vazia em Friburgo (Arquivo AVS/ Henrique Pinheiro)

A Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz) prevê até três mil novas mortes no Estado do Rio por Covid-19, se as aulas nas escolas forem retomadas a partir de agosto. O estudo traça um panorama em todo o país do impacto da volta às aulas em uma população de mais de nove milhões de pessoas do grupo de risco que convivem na mesma casa com crianças e adolescentes em idade escolar —600 mil delas moram no Rio. 

A estimativa leva em consideração idosos com mais de 60 anos e pessoas com diabetes, problemas no coração ou no pulmão que convivem na mesma casa com ao menos uma pessoa com idade entre 3 e 17 anos. Segundo a Fiocruz, cerca de 10% dessa população deve precisar de cuidados intensivos —o equivalente a 60 mil pessoas no Rio. O cálculo de óbitos em decorrência da Covid-19 para o Estado foi feito a pedido do portal Uol pelo epidemiologista Diego Ricardo Xavier, um dos responsáveis pelo estudo.

O levantamento foi desenvolvido com base na Pesquisa Nacional de Saúde, feita pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) em parceria com o Laboratório de Informação em Saúde da Fiocruz. Decreto publicado no último dia 22, no Diário Oficial pelo governador Wilson Witzel determina a suspensão das aulas presenciais na rede estadual até 5 de agosto. No dia anterior, 21, o prefeito da capital, Marcelo Crivella, anunciou o retorno facultativo das atividades escolares da rede particular para alunos dos 4º, 5º, 8º e 9º anos do ensino fundamental a partir de 3 de agosto. 

Segundo o pesquisador, em caso de volta às aulas, o contato com crianças e adolescentes fará com que parte do grupo de risco interrompa o isolamento social. “Precisamos lembrar como se dá a dinâmica familiar. Os pais saem para trabalhar e deixam os filhos com os avós. Mas, quando a criança voltar para a escola, vai acabar levando o vírus para essa população de risco, que não terá como seguir isolada. Acabou o 'fica em casa' para esses idosos. Os jovens resistem melhor à doença, mas funcionam como vetores do vírus”, ressaltou Xavier, da Fiocruz.

A desmobilização do reforço nas unidades de saúde para atender esses pacientes também é apontada como um agravante em meio a esse cenário. "Se o vírus voltar a subir de forma abrupta, não vai ser possível atender toda essa população. Os leitos já estão ocupados para atender o que ficou para trás por conta da Covid", observou. 

Retorno seguro só após dois meses

A projeção de óbitos leva em conta o fato de o Rio não adotar o chamado bloqueio sanitário — medida defendida pela Fiocruz para o retorno às aulas. A fundação propõe a aplicação de exames PCR, tipo de testagem com coleta no nariz e garganta do paciente, que permitem detectar o RNA do vírus e rastrear o seu deslocamento em casos suspeitos ainda em estágio inicial. A adoção da medida envolveria investimento das prefeituras e governo do estado.

Depois disso, um retorno seguro só se daria após dois meses, quando uma queda significativa de casos e óbitos fosse verificada. "É a única forma de controlar o avanço da pandemia sem a vacina. Só podemos pensar em volta às aulas quando houver um controle maior da pandemia", argumenta o pneumologista Hermano Castro, um dos autores do estudo. 

Xavier ainda cita o contato entre professores e funcionários das instituições de ensino. "É difícil manter cuidados de higiene com crianças, que vão se aglomerar e entrar em contato com os trabalhadores da escola, criando uma nova distribuição do vírus. Seria preciso adotar estratégias de rastreamento dessa população para evitar que isso aconteça", alerta. 

Sem testagem para profissionais da educação

O Sinpro RJ (Sindicato dos Professores do Rio de Janeiro) citou os estudos científicos desenvolvidos pela Fiocruz para manifestar contrariedade em relação à autorização de volta às aulas a partir de 3 de agosto. A categoria ainda condiciona um eventual retorno à testagem dos profissionais para Covid-19, que não faz parte dos protocolos adotados pela Prefeitura do Rio. O Sinpro, que representa 35 mil profissionais em atuação em mais de duas mil escolas privadas na capital, marcou uma assembleia virtual para 1º de agosto, véspera da retomada facultativa das atividades escolares.

Oswaldo Teles, presidente do sindicato, participou na última terça-feira, 21, de uma reunião com a Vigilância Sanitária para discutir o assunto. Um dos pontos de maior contrariedade da categoria foi a ausência de testagens para os profissionais no protocolo adotado pelo poder público. A recomendação, inclusive, faz parte das orientações da Fiocruz. 

“Fiz esse questionamento na reunião e fui informado de que a testagem para os profissionais não está no protocolo. A nossa visão é a mesma da Fiocruz. Entendemos que ainda é prematura a retomada das aulas. Não é o momento para a volta às aulas”, argumentou Teles. A Prefeitura do Rio contestou o posicionamento do Sinpro e disse que a categoria dos professores aprova a volta às aulas. Em nota, a administração carioca encaminhou relatos de profissionais de ensino, em apoio à medida, após a reunião com representantes de escolas, sobre a proposta de retomada parcial das escolas. O encontro virtual foi conduzido por gestores da Vigilância Sanitária, que reforçaram as medidas estabelecidas no protocolo de prevenção à Covid-19 para escolas, publicado no Diário Oficial.

 

 

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