Da constatação da Covid-19, até o agravamento do quadro clínico e a necessidade de internação, tudo pode acontecer muito rápido. Mais do que a tensão por informações a respeito da saúde do paciente é o abalo emocional, diante de uma doença que já matou milhões de pessoas no mundo inteiro e, somente no Brasil, mais de 412 mil pessoas.
Ao ser internado, o paciente infectado pelo coronavírus é isolado da família e amigos. É uma doença que afasta e deixa o enfermo solitário. Para quem está internado, o único contato é com pacientes também internados e a equipe médica, todos devidamente paramentados. As visitas de familiares e amigos são proibidas.
Mais do que esse distanciamento físico, é o distanciamento emocional torna o isolamento dentro de uma unidade hospitalar ainda mais complicado. Sem a possibilidade de um abraço, de um beijo, de um carinho de parentes, torna-se fundamental aproveitar o tempo internado para manter a tranquilidade e driblar os momentos de ansiedade. Por isso, um grande aliado no combate aos estresses da internação em leitos de enfermaria é o telefone celular.
Ele é o único meio de comunicação que consegue aproximar, em tempos de distanciamento, duas ou mais pessoas, sem promover aglomeração, levar tranquilidade e informação em momentos de intranquilidade. Ver uma série, assistir a um filme, jogar e conversar com pessoas são elementos que podem ajudar o paciente a se distrair, se acalmar e ser um importante instrumento para a recuperação. É por isso que, principalmente em unidades hospitalares públicas, os pacientes têm utilizado os smartphones, certo? Errado!
Segundo familiares de alguns pacientes internados no Hospital Municipal Raul Sertã, há a recomendação de que o uso de aparelhos de telefonia móvel seja proibido de ser utilizado nos leitos de enfermaria. De acordo com o parente de um desses pacientes, a partir do momento em que se interna, o paciente não pode entrar com o celular. “A pessoa já fica sozinha, com medo, e não pode nem se comunicar com a família”, reclama o familiar.
“Os pacientes não estão tendo acesso às suas famílias, os parentes estão sem informações. Tem casos de aglomeração na frente da recepção do Raul Sertã de pessoas querendo saber informações de pacientes internados com Covid-19”, disse outra familiar.
“A pessoa é proprietária do celular e precisa de uma autorização do hospital para usar o próprio aparelho. Se estivesse no CTI, tudo bem, entendo, mas na enfermaria? Disseram que precisa ter uma autorização prévia, e quem é o responsável por autorizar previamente? O próprio dono?”, ironizou um homem que tem o irmão internado.
A patroa de uma empregada doméstica cujo marido está internado na enfermaria Covid do Raul Sertã relatou que é comum a presença de pessoas na frente do hospital à procura de notícias. “Segundo ouvi falar, esses familiares já foram tratados com grosseria por funcionários do hospital porque ‘é muita gente pedindo informação’. Se tivesse um boletim diário com informações de cada paciente, isso não aconteceria. As informações são evasivas dizendo que o paciente ‘está bem’, ‘estável’ e depois recebem uma ligação informando que a pessoa morreu”, reclamou. Ainda de acordo com ela, para o marido da sua funcionária e outros pacientes, teria faltado água potável. “As famílias estão tendo que levar a própria água para que as pessoas doentes tenham o que beber e não fiquem com sede”, completou.
Segundo a sobrinha de uma paciente internada no último final de semana na enfermaria do Raul Sertã, há a recomendação de que os pacientes não levem os aparelhos celulares. Ela sugere que o motivo seja para que não haja filmagens dentro da unidade a fim de evitar a exposição de funcionários. Apesar disso, ela informou que os funcionários da unidade passariam informações diárias sobre o estado de saúde da sua tia e, até o momento, a promessa tem sido cumprida.
Em Cantagalo aconteceu o mesmo com o pai de uma enfermeira. Ela trabalha em uma unidade particular de Nova Friburgo e precisou internar seu pai no hospital de Cantagalo. Para a surpresa da enfermeira, ele foi proibido de levar o celular para manter contato com a família. A unidade alegou que essa é uma conduta e norma do hospital. Hoje o pai da enfermeira está recuperado da Covid-19, mas os dias sem informações foram angustiantes. Segundo ela, na unidade em que trabalha nunca houve essa restrição. “Não entendi porque houve essa proibição, talvez achem que o paciente possa registrar algo que não queiram que seja exposto, algum problema. Foram 19 dias internados sem notícias do meu pai”, contou a enfermeira.
O que diz a Prefeitura de Nova Friburgo
A Prefeitura de Nova Friburgo, através da Secretaria Municipal de Saúde, informa que mantém um livro de controle com informações sobre os pacientes internados com Covid-19 no Hospital Municipal Raul Sertã. Há, inclusive, uma enfermeira contratada para tal finalidade. Diariamente ela reúne essas informações e as repassa aos familiares dos pacientes por meio do telefone de contato disponibilizado como referência. A orientação, no entanto, é que as famílias não deixem celulares com os pacientes internados, porém, não existe nenhuma proibição nesse sentido, exceto para pacientes internados no CTI, quando a recomendação é para que o aparelho não seja utilizado por questões de segurança sanitária.
A VOZ DA SERRA também questionou a prefeitura a respeito da falta de água para pacientes, e o Executivo foi categórico ao negar a denúncia. À reportagem, a prefeitura enviou arquivos que comprovam a aquisição de galões de água nos últimos meses para o Hospital Raul Sertã.
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