Evolução da Covid em Friburgo sugere possível estabilização

Gráfico mostra primeiras quedas de novos registros de casos semanais; especialista diz que é cedo para falar em desaceleração; Saúde pede cautela
quarta-feira, 17 de junho de 2020
por Adriana Oliveira (aoliveira@avozdaserra.com.br)
A diferença entre as curvas de casos acumulados e de novos registros, semanalmente (Infografia AVS)
A diferença entre as curvas de casos acumulados e de novos registros, semanalmente (Infografia AVS)

A evolução dos números oficiais da Covid-19 em Nova Friburgo, que há exatos três meses vem sendo acompanhada diariamente por A VOZ DA SERRA e tabulada em gráficos desde o primeiro boletim oficial, em 17 de março, revela, pela primeira vez desde o início da pandemia, duas quedas nos registros de novos casos semanais, ocorridas nas últimas três semanas. Esta oscilação pode, na opinião de especialistas como Rafael Spinelli  Parrila, sugerir um indicativo de estabilização.

Parrila é autor dos estudos da People & Business Solutions que vêm servindo de base para a chamada  “flexibilização com segurança” defendida por entidades empresariais da cidade. O engenheiro observou que, apesar da queda dos registros na última semana, ainda é muito cedo para falar em desaceleração do contágio.

 “Enquanto a curva dos casos acumulados segue em crescimento contínuo, a curva de novos registros de casos apresenta um comportamento relativamente estável a partir de 26 de maio. Nota-se uma primeira queda, em seguida uma nova subida, e uma nova queda na última semana. Em outras palavras, vemos que, já a partir de 19 de maio, há uma oscilação de novos casos em torno de um valor médio aproximado de 50 novos casos semanais, o que sugere uma estabilização”, analisou o especialista, a pedido do jornal.

Saúde pede cautela

A coordenadora de Epidemiologia da Subsecretaria de Vigilância em Saúde da Secretaria municipal de Saúde, Melânia Hoelz, explicou, no entanto, que a evolução gráfica do coronavírus constatada por A VOZ DA SERRA  não retrata a situação real da pandemia hoje, e por isso deve ser interpretada com muita cautela. “Mesmo baseados em dados reais,  gráficos refletem dados epidemiológicos muitas vezes coletados dias atrás e não permitem uma visão precisa da situação atual, que ainda é muito grave”, afirmou.

Em Nova Friburgo, de acordo com o mais recente boletim da prefeitura, divulgado na noite desta quarta-feira, 17, há hoje 365 casos confirmados de coronavírus, 44 em investigação e 30 mortes provocadas pela doença. Entre os casos positivos, já são 94 os profissionais de saúde infectados. Entre os casos suspeitos, incluindo outros seis óbitos, 23 pessoas estão em isolamento domiciliar e 15 estão hospitalizadas. O total de casos descartados chega a 537 e o de pacientes recuperados, a 127.

Desaceleração no estado

Conforme publicou O Globo nesta terça, 16, as estatísticas das duas últimas semanas apontam tendência de desaceleração do contágio no Estado do Rio, embora não de maneira uniforme entre todos os municípios. Um mapa elaborado pela Secretaria estadual de Saúde mostra Nova Friburgo entre os municípios que registraram queda de novos casos, comparando-se as duas últimas semanas.

Na última semana, a Secretaria de Saúde constatou uma redução de 17,8% nos casos confirmados em todo o estado. O balanço positivo é puxado pela capital, onde os óbitos caíram 34% e os casos diminuíram 18,7% na última semana em comparação com a anterior. Por outro lado, em 32 dos 92 municípios fluminenses, o período entre os dois últimos domingos teve mais casos confirmados da doença. Foi o que aconteceu em Duque de Caxias e Campos, que retomaram as atividades econômicas.

Não baixar a guarda

Por isso, especialistas ouvidos pelo Globo ressaltam que ainda não é hora de baixar a guarda, principalmente porque as recentes flexibilizações de medidas restritivas podem piorar o quadro, que sofre também a interferência de variantes negativas como subnotificação, baixa testagem e atraso na confirmação e no envio de dados epidemiológicos.

Além disso, é esperado que, enquanto a curva comece a se atenuar na cidade do Rio, a Covid-19 avance em municípios do interior que ainda não haviam registrado a doença até há pouco tempo. Foi o caso de Trajano de Moraes, última cidade do Rio atingida pelo coronavírus, onde só na semana passada foram 23 novos casos, totalizando 30 pessoas doentes até o último domingo.

"O estágio de evolução da pandemia nas capitais é diferente do interior. Em média, os municípios do interior estão cerca de 15 dias antes do estágio em que se encontra a cidade do Rio atualmente", lembrou a Prefeitura do Rio em nota.

REPERCUSSÃO: Defensoria e MP cautelosos; setores empresariais confiantes em curva descendente

Diante do gráfico apresentado por A VOZ DA SERRA, a promotora Cláudia Condack, titular da 1ª Promotoria de Justiça de Tutela Coletiva do Núcleo Nova Friburgo do Ministério Público Estadual,  disse que solicitou à Prefeitura de Nova Friburgo uma ampliação dos indicadores constantes do “Painel Covid” disponibilizado na página eletrônica do governo municipal a fim de “permitir uma análise mais detalhada e, assim, poder avaliar a consistência dos dados que indiquem eventual estabilização ou queda no contágio pelo coronavírus”. A prefeitura já informou que a atualização passará a ser diária, em vez de semanal.

O defensor público Raymundo Cano, por sua vez, disse não ser possível afirmar ainda que haja seguramente uma estabilização diante do pouquíssimo número de testagens, da demora na confirmação dos casos e, principalmente, na evidente subnotificação. “Tanto que vários municípios como Curitiba se viram obrigados a retroceder nas medidas de flexibilização por terem iniciado o processo de abertura antes do tempo”, comentou.

Já para Márcia Carestiato, presidente da Firjan Centro-Norte Fluminense, a queda nos números da Covid-19 em Nova Friburgo devem ser comemorados. “São indicadores positivos no enfrentamento do coronavírus e contribuem de forma favorável no processo de retomada gradual das atividades das indústrias. Estes novos fatores se juntam aos inúmeros outros argumentos já apresentados com o objetivo de justificar a retomada gradual da economia, parada há três meses”, disse ela.

Márcia lembra que a situação enfrentada pelos empresários, principalmente, do setor de vestuário e têxtil, é crítica e impacta diretamente nos empregos e renda dos trabalhadores. O setor público também sofre, já que não há arrecadação para financiar os serviços à população.  Ela lembra que a Firjan elaborou um guia com orientações técnicas para a retomada segura das indústrias, com foco na saúde”.

O presidente da Câmara de Dirigentes Lojistas (CDL) e do Sindicato do Comércio Varejista (Sincomércio) de Nova Friburgo, Braulio Rezende, disse acreditar, pelos últimos dados divulgados sobre a propagação da Covid-19 e também pelas frequentes conversas que mantém com médicos sobre a ocupação de leitos nos hospitais locais, que a doença começa a desenhar curva descendente na cidade. Segundo ele, aqui e em outros municípios do interior e até em grandes centros, a procura pelas unidades de saúde caiu, enfermarias exclusivas para Covid estão sendo desativadas e as cirurgias eletivas puderam ser retomadas.

“Precisamos com urgência voltar a trabalhar, sob risco de falência generalizada de empresas friburguenses e explosão do desemprego na cidade. Em nenhum momento os empresários do comércio deixaram de se preocupar com a saúde da população, mas sempre mostraram, ao mesmo tempo, sua apreensão com a sobrevivência dos negócios. Estamos há 90 dias com as lojas fechadas e nos virando para conseguir pagar folha salarial, impostos, aluguel, fornecedores. A economia tem que girar novamente, e logo”, afirmou.

Braulio lembrou que a CDL e o Sincomércio enviaram por várias vezes à prefeitura e ao Ministério Público um conjunto de propostas de transição para a reabertura gradual, como operação em horário reduzido, limitação de acessos nas lojas e medidas protetivas de higiene.

A Associação Comercial, Industrial e Agrícola de Nova Friburgo (Acianf) se pronunciou através de Rafael Parrila, indicado como consultor.

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