Se nos últimos tempos inúmeros preconceitos e paradigmas têm sido questionados, outros ainda permanecem ou se intensificam: é o que ocorre com o idoso numa sociedade que não sabe mais lidar com o prolongamento da vida, do tempo.
Usamos a palavra “velho” para nos referirmos à uma pessoa idosa e, dentro dessa denominação, sabemos que “velho” é tudo aquilo que estraga, que não tem mais uso. Mas, envelhecer, no fundo, é a vida tendo sucesso - porque, se tudo der certo, você também vai envelhecer. A palavra “velho” pode ganhar novos contornos e significados, principalmente quando olhamos para o envelhecimento como o “sucesso” das nossas próprias vidas, dos nossos parentes e amigos.
Não encontramos no dicionário a palavra “idoso” ligada à fragilidade. Os idosos são as pessoas que mais detêm conhecimento sobre a vida. Muitas vezes, são previsíveis e repetitivos por terem a segurança e a experiência para não se arriscarem “à toa”.
O idoso já teve em sua trajetória vastas experiências. Agora, ele já se aposentou, já não tem tanta agilidade - o corpo humano é muito inteligente, ele não precisa mais correr contra o tempo, porque o tempo já está nele - e, por vezes, é repetitivo: porque o tempo lhe traz histórias e, cada vez que são recontadas, aparecem novos detalhes que podem se transformar em conselhos ou num sorriso.
A vida lhe dá a qualidade da teimosia, que pode se transformar num passe-livre para suas maiores vontades, autorizando e justificando aquilo que não mais se permite ficar guardado.
Aquilo que os idosos mais me ensinaram foi a ouvir, criar laços, trocar olhares e que não somos criados para perder. O processo de envelhecimento é uma constante perda, por isso, vamos vivendo nessa eterna fuga de nós mesmos (ou de nossa própria vida).
Como então enfrentar o envelhecimento das pessoas que você ama? Como aceitar que todos nós vivemos esse processo diariamente? Eles mesmos já me responderam: cultive suas relações!
As rugas vão aparando as arestas, as reclamações e as dores lembram a todos o quanto estamos vivos, e não saber por vezes em que dia da semana estamos, pode ser um grande encontro com nós mesmos.
É preciso compreender a velhice com novos olhos e estar junto das pessoas que amamos nesse período em que o tempo não importa mais.
*Isabela Faria é fisioterapeuta e pós-graduada em Gerontologia
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