Desemprego recorde mostra triste realidade: a falta de mão de obra qualificada

Muitas vagas deixam de ser ocupadas porque não há profissionais aptos. Em Friburgo, isso se constata com a procura por costureiras
sexta-feira, 30 de julho de 2021
por Christiane Coelho (Especial para A VOZ DA SERRA)
(Foto: Paula Johas)
(Foto: Paula Johas)

O Brasil vive um paradoxo: recorde de desemprego e, ao mesmo tempo, vagas que não são ocupadas. A indústria estima que, nos próximos dois anos, vão faltar 300 mil profissionais, principalmente de nível técnico e operacional. Em Nova Friburgo, este tipo de situação não é diferente. Isso em diversas áreas. Mas um dos setores que sempre demandou mão de obra qualificada, que é o de confecções, está atravessando uma verdadeira crise, por não conseguir pessoas aptas para trabalhar. Os anúncios de vagas para costureiras se multiplicam na cidade, seja nas portas das empresas ou nas redes sociais.

A empresária do setor de confecção Caroline Portugal (abaixo), dona da Doce Menta Lingerie, calcula que sua empresa tenha hoje defasagem de 30% de costureiras, o que vem causando prejuízos. “Estamos deixando de atender vários pedidos que temos capacidade física para atender. E, também muitas encomendas estão saindo com atraso por falta de profissionais”, relata ela. Na Casa do Trabalhador, onde a Prefeitura de Nova Friburgo faz a ponte entre empresas que buscam profissionais e pessoas procurando emprego, de janeiro até julho deste ano, foram oferecidas 296 vagas para o setor de confecções e apenas 137 foram preenchidas, o que corresponde a 46%. 

De acordo com a prefeitura, a busca dos empregadores por profissionais de confecção é muito grande e regular. Em contrapartida, a maior procura da população é por vagas de serviços gerais, dado que escancara a defasagem de qualificação técnica no município.

Depois de um 2020 de incertezas, com um saldo de menos 937 vagas entre março e julho, o setor voltou a ter um saldo positivo entre desligamentos e contratações em setembro. E, somente neste ano (221) foram criadas 796 vagas no setor, de acordo com dados do Caged, o Cadastro Geral de Empregados e Desempregados, do Ministério da Economia. Somente em maio, foram 322 admissões e 267 desligamentos, com um saldo positivo de 55 contratações.

A volta das atividades nas empresas não ocorreu para muitos funcionários, que preferiram continuar em casa, cuidar dos filhos e atuar na informalidade com suas facções próprias. Caroline acredita que somente com a volta às aulas de forma plena, já que muitas costureiras não tem com quem deixar os filhos para trabalhar, com um transporte público de qualidade e cursos profissionalizantes que preparem para a demanda das confecções locais essa situação será revertida.

Busca por profissionais polivalentes

Segundo o Sindicato da Indústria do Vestuário de Nova Friburgo (Sindvest), faltam costureiras para trabalhar em praticamente todas as 158 empresas do Polo de Moda Íntima que são vinculadas à entidade. Uma pesquisa mostrou que nove entre dez confecções estão buscando profissionais polivalentes para operar máquinas.

Nem mesmo os salários e premiações mais altos têm atraído novos candidatos. Sem tempo para treinamentos, as empresas têm feito um verdadeiro leilão para contratar aqueles profissionais qualificados, com mais experiência. E até mesmo novatos com boas habilidades são raros.

Segundo o empresário do setor, Cláudio Cariello Marques, proprietário da marca de moda fitness CCM, o Polo de Nova Friburgo está perdendo oportunidades com a falta de trabalhadores qualificados. “Este é um mercado em que há pouca renovação. É preciso mostrar que há vagas para pessoas jovens que queiram aprender uma profissão que dá oportunidades de crescimento”, afirma o empresário, acrescentando que “é preciso ter treinamento em etapas, começo, meio e fim, até que o operador de máquinas ganhe habilidades e possa costurar peças/tecidos com mais requinte ou grau de dificuldade maior.”

Um apagão de formação

Com o isolamento social causado pela pandemia da Covid-19, as aulas nos Centros de formação profissional foram pausadas. No Centro de Formação Profissional e Transferência de Tecnologia para Indústria do Vestuário (Cevest), da Prefeitura, as aulas pararam na segunda semana de março de 2020, junto com todas as outras atividades. E até o momento não retornou. “Estamos nos programando para retorno em setembro, ainda a confirmar”, informou o titular da Secretaria Municipal de Ciência, Tecnologia, Inovação e Educação Profissionalizante e Superior, José Loyola Bechara.

O Senai Espaço da Moda retornou com aulas práticas, assim que a prefeitura publicou o decreto liberando as aulas presenciais. As aulas teóricas continuam no sistema online. E, na próxima segunda-feira, 2, serão iniciadas novas turmas dos cursos de aprendizagem, ou seja, cursos gratuitos oferecidos para pessoas interessadas em atuar no setor de moda e confecção.

O monitoramento realizado pela equipe pedagógica do Senai Moda mostra que 75% dos alunos evoluem na carreira ao passar por um dos cursos da unidade. Ou seja, é certo afirmar que três em cada quatro trabalhadores evoluem na trajetória profissional, seja para a conquista do primeiro emprego, retorno ao mercado de trabalho, melhoria do cargo ou troca de função dentro da própria empresa, ou ainda se tornando um freelancer e até mesmo empreendendo negócio próprio.

Franciana da Silva Fortes, de 31 anos (acima), é um exemplo desse cenário. Chegou em Nova Friburgo há quatro anos, vinda de Niterói, e procurou emprego na área em que atuava, operadora de caixa e atendente, mas não conseguiu. Viu, então, na indústria da moda íntima uma oportunidade de se recolocar no mercado. Mas, de acordo com ela, não sabia nem passar uma linha na agulha. “Busquei o Senai e fiz o curso de costura profissional. Um mês antes do término do curso, fiz um teste numa empresa de confecção e passei. Antes mesmo de receber o diploma, já estava empregada. Hoje, sou costureira polivalente e estou muito satisfeita com a minha profissão”, disse ela.

"À medida que conseguimos mão de obra de qualidade, que faz diferença para a indústria, temos mais competitividade no setor. Porque sem qualificação a indústria não funciona, então temos um papel estratégico no desenvolvimento da competitividade do Polo de Moda de Nova Friburgo", explica a coordenadora do Senai Espaço da Moda, Milena Carielo.

Oportunidades também no setor metal-mecânico 

Outro setor com grande demanda de mão de obra qualificada é o metal-mecânico, que tem sempre oferta de trabalho em Nova Friburgo. Depois de um saldo negativo, em junho de 2020, o acumulado de julho de 2020 a junho de 2021 é de 149 vagas, 20 delas somente em junho, de acordo com o Painel Regional do Emprego Formal da Federação das Indústrias do Estado do Rio de Janeiro (Firjan).

Para quem quer se qualificar para entrar nesse mercado, o Senai também está oferecendo cursos gratuitos, todos com competências exigidas pelo setor metal mecânico com ênfase nas indústrias de fechaduras e cadeados. Entre eles, o de ferramenteiro de bancada, mecânico de manutenção, automação de processos industriais, PCP, assistente de produção industrial, entre outros.

De acordo com o coordenador de Educação Profissional do Senai Friburgo Gil Mairon da Silva (acima), hoje há escassez em alguns profissionais do setor, um deles é o de ferramenteiro de bancada. “ Todas as ferramentas precisam de moldes e matrizes. No curso que oferecemos o aluno aprende a desenvolvê-los”, explica ele.

"O foco do Senai é estar sempre atento aos cenários futuros, comportamentos e mudanças tecnológicas digitais e, estar conectado à demanda empresarial. Essa soma faz com que a gente tenha uma formação de qualidade transformando a carreira desses alunos", destaca Milena Carielo. Mais informações sobre os cursos do Senai no site: www.firjansenai.com.br

 

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TAGS: Emprego | negócios